Vejo já distante a minha idade dos vinte anos.
Mas, recordo-me com clareza dos muitos sonhos e projectos que alicerçaram esta construção que fui erguendo ao longo dos anos; Esta vida, que conheceu também momentos em que as maiores dificuldade surgiram, em que a vontade de continuar se sobrepôs à de desistir, porque eram fortes os motivos que a sustinham.
Recordo-me dos esforços que precisei empregar, para conseguir vencer as barreiras que teimavam em querer provar a minha capacidade de decisão, a minha vontade de prosseguir.
Não esqueço também os apoios que contribuíram para consolidar estes sonhos, e, a meu lado, tornaram mais forte a vontade, se ela tendia a fraquejar. Aprendi ao longo da vida, que as equipes mais fortes, são aquelas que se sabem manter unidas, enfrentando qualquer dificuldade sem vacilar, confiando no apoio e na força que vem do outro. As grandes batalhas são ganhas pelos exércitos, cuja estratégia de luta assenta na união entre os seus combatentes, onde não há deserções e em que cada guerreiro confia a retaguarda ao seu companheiro.
Hoje, ao percorrer as ruas, reparo nos rostos de quem se cruza comigo, a maioria inexpressivos, casas de olhos despovoados de sonhos. Assalta-me um pensamento, uma dúvida; Que forças movem estas gentes? Que desejos, que anseios, que vontades, lhes definem os caminhos? Porque escolhem ir por aqui e não, por ali?
O que sentem estas gentes de hoje, que deixaram de crer num Deus, porque a ciência lhes afirmou que não existe, mas que a mesma ciência não tem forma de substituir, deixando-lhes um vazio na alma, impossível de preencher?
Que horizontes, buscam os homens e mulheres que se cruzam nas ruas destas vidas, alcançar?
Que futuro... que futuro existe para além dessa bruma espessa que nos delimita o olhar e teima em querer tolher-nos a acção?
A mesma bruma tenebrosa e negra que desafiou os Portugueses de 500, que os fez aventurarem-se pelo mar, afrontando-a, rasgando-a, conquistando um mundo inacessível, permitindo que uma parte do mundo descobrisse a parte que faltava, completando-se, volta hoje a tentar oprimir-nos?
Quem saberá explicar este mundo hostil, ao mundo, quem será investido da força e da clareza de espírito capazes de conduzir o mundo através da bruma, rasga-la, permitindo que brilhe de novo a luz da humanização, permitindo que a sociedade readquira a vontade de sonhar e de se cumprir?
2 comentários:
Uf, não sei responder a essa pergunta, Bartolomeu. Mas acho difícil que, enquanto a Europa se debater com esta crise, a sociedade readquira a vontade de sonhar.
Repara: os jovens de hoje cresceram num mundo muito facilitado, por culpa dos pais, que, aliás, pensavam que estavam a fazer muito bem, ao poupá-los a trabalhos e a canseiras. E esses jovens tentam iniciar a vida numa Europa em crise, com muito desemprego. Andam à deriva, pura e simplesmente!
Bartolomeu,
Um dia reaprenderemos a sonhar. E retomaremos rumos.
mais seguros e mais felizes, espero.
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