sábado, 26 de janeiro de 2008

Ora intão bamos lá dar uma... galopada!!!

Senti de novo o poder da presença de Amélia e a majestosidade da sua figura, senti que ambos exerciam domínio sobre a minha vontade. Consegui dominar durante alguns momentos o impulso quase irresistível de me aproximar de si, de a beijar e de lhe dizer que sim, que queria ficar para sempre junto dela. Durante o tempo que aguardei silenciosamente, admirei Amélia. Envergava um fato de amazona, em veludo negro, debroado a cetim negro tambem. A saia-calça era comprida, de cintura subida, a jaqueta, curta e justa, abtoava com dois botões de prata, presa no lado esquerdo da jaqueta, cintilava uma discreta rosa constituída por pequenos diamantes.
O conjunto, conferia à sua figura uma elegância suprema e uma sensualidade que tornavam Amélia ainda mais irresistível.
Resolutamente, aproximei-me de Amélia e segurando-lhe na mão, declarei. - Estou ansioso por esse passeio na tua companhia.
Dirigimo-nos de mãos-dadas para o vestíbulo de entrada onde Jarbas nos aguardava segurando uma capa em veludo brick que colocou sobre os ombros de Amélia.
Saímos a porta do palacete e no largo onde dias antes havia estacionado o meu carro, encontrava-se um jovem que não conhecia ainda. Este jovem, segurava pela redea, numa das mãos, um bem composto cavalo branco de raça lusitana, enorme, calmo, majestoso, na outra mão, uma fugosa e inquieta égua branca tambem, ambos de longas crinas e de pelo reluzente.
Era de noite, de Este, elevava-se nos céus uma lua enorme, que projectava sobre nós toda a magia da sua luz prateada. Amélia dirigiu-se para a égua, enquanto saudava o moço que segurava os dois animais, apresentando-me e apresentando-o, o seu nome é Miguel, nasceu na propriedade e é ele que trata dos nossos cavalos. Segui Amélia e ajudei-a a montar. Logo que Amélia se instalou na sela, a égua instantâneamente, ficou parada e colocando a cabeça primorosamente, aguardou serenamente que Amélia lhe desse sinal para iniciar a marcha.
Em seguida dirigi-me ao outro animal e, colocando o pé no estribo impulsionei-me para sobre ele.
Amélia deu então ordem de marcha à sua égua e entrámos a passo por uma vereda que contornava o palacete pelo lado Oeste. Em seguida, atingimos uma zona arenosa de pinhal e então Amélia deu ordem de trote à sua égua e um pouco mais`adiante, de galope. Bastou que encostasse os calcanhares das botas à barriga do meu cavalo, para que imediatamente ele entrasse também num galope suave, mas pujante e harmonioso, segui Amélia que corria sem parecer importar-se se a seguia.

Bartolomeu, já te lixaste

Depois de colocar a indumentária que tinha sido escolhida para mim, olhei-me no enorme espelho colocado ao canto do quarto, do lado da janela.
Aquelas roupas davam-me um certo ar cómico, nunca me tinha visto enfiado dentro de semelhante trajo. Olhei para Jarbas, que se mantinha espectante a um lado e perguntei-lhe - Qual é a tua opinião Jarbas, parece-te que com este fato vou impressionar o cavalo?
Parece-me muitíssimo bem excelência, respondeu-me Jarbas.
Coloquei-me em frente ao mordomo, cruzei os braços, olhei-o de frente e com um tom de voz decidido disse-lhe: Ouve uma coisa Jarbas, vamos acabar de vez com toda esta palhaçada a que não estou a achar a mínima graça. Dizes-me se faz favor onde estou, quem são estas pessoas, o que estou aqui a fazer e... por favor, para com essa treta de me tratares por excelência. Ok?
Mantendo o olhar fixo no meu, Jarbas respondeu - V. Exª está na residência da Excelsa Senhora Marquesa D. Amélia e é convidado de honra da Senhora Marquesa.
Foda-se Jarbas... já me estás a tirar do sério, não consegues ser mais claro e explícito?
Sem me responder, Jarbas dirigiu-se à porta do quarto, abrindo-a e anunciando - A Senhora D. Amélia aguarda Vossa Excelência na sala da biblioteca.
Eu ainda me passo caráças, ai passo, passo, já estou a perder a paciência com esta merda toda, vamos lá ter com a marquesa, que eu quero pôr isto tudo em pratos limpos.
Jarbas conduziu-me de novo por diferentes corredores, até chegarmos em frente a uma enorme porta que jarbas abriu, dando-me passagem.
Entrei de rompante, exasperado e, perante o meu olhar, deparou-se um enorme salão, cujas paredes se apresentavam integralmente cobertas por ricas estantes em madeira exótica, repletas de encadernações de aspecto antiquíssimo. No centro do salão, dois enormes cadeirões, estofados a veludo grenat, sobre uma imensa carpete persa, ao lado de cada cadeirão uma luz de leitura, na parede do fundo, uma lareira onde crepitava um ténue fogo.
De pé, ao lado de um dos cadeirões, Amélia esperava-me.
Recebeu-me com um sorriso, um sorrijo que já me era familiar e que produzia em mim efeitos encantantórios.
-Bem vindo Bartolomeu, vejo que aceitaste o meu convite para passear a cavalo, vou mostrar-te a nossa propriedade.
- Nossa? Perdão Amélia, eu nem sei onde me encontro, ou sequer com quem estou e, gostava imenso que me esclarecesses acerca disso.
Amélia apróximou-se mantendo o seu sorriso adorável e enigmático, retorquindo -Porquê essa irritação toda Bartolomeu? Não estás a ser bem recebido na nossa casa? A minha companhia não te é agradável? Ha algo que te esteja a desagradar?
-Nada disso Amélia, simplesmente encontro-me num local que desconheço, acompanhado por pessoas que tambem não conheço e acontecem coisas que ultrapassam o meu entendimento, gostava bastante que me esclarecesses de tudo isto.
Améli voltou-se e em passo lento voltou para junto do sofá onde se encontrava quando cheguei, sem se voltar, respondeu-me - Lembras-te bartolomeu da noite em que nos conhecemos?
Sim, lembro-me perfeitamente, respondi-lhe.
-Lembras-te que nessa noite formulaste mentalmente um desejo?
-Ahhhh... lembro... mas, esse desejo, como dizes, não foi mais que mental, não o mencionei a ninguem.
-Para além de mental, foi formulado Bartolomeu, o bastante para que uma entidade tenha decidido satisfazêr-to.
Ri-me, um riso nervoso que tentava afastar maus pressentimentos, dirigindo-me de novo a Amélia, tentando brincar com a situação ripostei.
- Seria muito engraçado se as coisas funcionassem desse modo Amélia, um fulano formulava um desejo e plim plim plim, tudo acontecia num passe de mágica.
Amélia fingiu ignorar a minha brincadeira e continuou.
- Lembras-te ainda que me ofereceste ajuda nessa noite e que te disponibilizaste para me transportar a casa?
- Sim também me recordo.
- E recordas-te ainda que aceitaste deliberadamente o meu convite para permanecer nesta casa.
- Bom, o convite que me fizeste nessa dia, entendi-o com carácter não definitivo e, como uma cortezia da tua parte por te ter prestado auxílio.
- Bom, na verdade Bartolomeu, foste tu que pediste auxílio, no momento em que formulaste o teu desejo.
- Lembraste ainda de quando, após nos beijármos a primeira vez e ainda antes de fazermos amor eu te declarei que irias ser meu para sempre e tu selaste esse acordo, beijando-me com toda a tua alma? Nesse momento, entregaste-te a mim incondicionalmente e para sempre!
-Irra Marquesa, eu não fiz acordo algum, tudo não passou de um momento, até concordo que me senti apaixonado, que efectivamente senti dentro de mim um impulso, uma atracção imensa por ti, mas nunca pensei em algo para sempre.
Amélia, voltou-se de novo para mim, exibindo ainda no rosto aquele seu sorriso marivilhosamente encantantório e calmamente respondeu-me.
- Vamos então dar o nosso passeio?

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Ano novo...

Acordou-me do doce torpor em que me achava, uma leve agitação na àgua a meu lado.
Abri os olhos e regressando à realidade do momento, vejo ao meu lado a figura quieta de Pelítia que, de olhar baixo,erguia as mãos em concha e derramava àgua do banho sobre o meu peito.
Olhei de imediato para Amélia, tentando adivinhar na sua expressão a definição que buscava para tudo o que se passava. Amélia não deixou que o seu olhar se encontrasse com o meu e fingindo-se distraída com a observação do seu rosto num pequeno espelho de poilette, mostrava-se alheada do que se passava à sua volta.
Sem me olhar, Pelítia começou então a passar levemente as suas níveas mãos sobre o meu peito, ombros, peito novamente, descendo em seguida até à cintura, enquanto curvava o tronco na minha direcção, apróximando assim o seu rosto do meu.
Amélia continuava entretida com o seu espelho, fingindo ainda não prestar atenção ao que se passava entre mim e Plítia.
Uns momentos após se deter na minha cintura, Pelítia avançou com brandura os seus dedos na direcção da minha zona pélvica, enquanto, encostando o seu rosto ao meu, apróximou a sua boca do meu pescoço.
Senti que de novo o meu membro ganhava volume e rijeza, Pelíntia, sentiu-o tambem subir e ganhar rijeza e segurou-o com mais determinação, começando a massaja-lo lenta, mas determinadamente.
Nesse momento senti uma ligeira picada no pescoço, e numa fracção de tempo recordei-me da sensação que tinha sentido anteriormente no pescoço, o que me fez afastar bruscamente de Pelítia.
Instantaneamente, Amélia soltou um grito de obediência a Pelítia que de imediato se sentou no chão da banheira, dobrando as pernas e cruzando os braços em redor do tronco, enquanto lançava um olhar de ódio à sua ama exibindo ainda dois dentes caninos proeminentes.
Disparou-me o coração num susto tremendo.
Amélia percebendo o meu estado de ansiedade e espanto, sossegou-me com um sorriso muito meigo, enquanto me dizia - Não te assustes Bartolomeu, não se passa nada de mal contigo, é que Pelítia por vezes perde um pouco a razão e esquece as minhas ordens, mas podes estar seguro, desde que estejas junto de mim, ela não se irá atrever.
Dizendo isto, Amélia levantou-se, enquanto fazia um sinal a Pelítia que se levantou também, saindo da banheira e colocando um amplo roupão em volta de Amélia.
Levantei-me também, ainda inseguro de todas aquelas estranhas atitudes.
Então Pelítia, sempre com o olhar colocado no chão apróximou-se, oferecendo-me também um roupão. Olhei Pelítia e de novo me sobressaltei, a sua túnica, tal como o seu corpo, encontravam-se completamente secos, como se nunca tivesse estado dentro de àgua. Fiquei imóvel olhando Amélia e Pelítia saindo de mão dada por uma outra porta em que ainda não tinha reparado. Enquanto caminhava, Amélia convidou-me a regressar ao meu quarto e vestir uma toilete que já me havia sido separada pelo mordomo.
Quando entrei no quarto, ainda hesitante, encontrei Jarbas prefilado a par de um cabide de pé alto, onde estava colocado um fato de montar.
Pensei comigo mesmo... esta gente está a gozar comigo, ou então estou dentro de um daqueles sonhos de onde não conseguimos saír, por mais vezes que se acorde.
Decidi dirigir-me então a Jarbas e com um sorriso provocador, indaguei - então Jarbas, hoje vai haver montaria? helooo... montaria, tás a ver?... caça ao javali... javali... porco, homem!
Sem perder a pose erecta e mantendo o seu ar fleumático de nobre inglês, Jarbas respondeu-me - A Senhora Marquesa Amélia, convida Vossa Excelência a acompanha-la num passeio a cavalo nos terrenos da propriedade.
Decidi voltar a provocar o mordomo, tentando exaspera-lo e criar uma brecha na sua atitude que me pudesse ajudar a compreender todo aquele enredo e lancei-lhe - Ena Jarbas, fartas-te de falar e nem te engasgas, andas a praticar algum tipo de exercício linguístico? hmmm? língua... exercício... coiso e tal... hmmm?
Fui brindado com a mudez fleumática de Jarbas que mantendo o olhar num infinito inexistente, fez questão de ignorar a minha pergunta jucosa.
Insisti na provocação e atirei-lhe - Olha lá Jarbas, descontrai homem, estás aí tão hirto, parece que engoliste um pau de vassora.
Nada!
Jarbas manteve-se imóvel e imperturbável...

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Luz da Lua

Invade-me essa luz forte da lua.
Afaga-me esse prateado efémero
feito em mim, pele de mulher nua
excita-me, acaricia-me, etéreo.

Percorre-me as veias, os sentidos,
fere-me, reconforta-me, endoidece-me
leva-me inebriante a lugares perdidos
Tento prendê-lo em mim, mas foge-me

Magentiza-me asfixia-me, a magia desse luar
A intensidade dessa luz reflectida
Tal como me magnetizou um dia o teu olhar
Tal como me asfixiou, um dia a tua partida.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Não consegues apanhar-me...

De súbito, entras-me de rompante pela janela da memória. O motivo por que o fizeste, ultrapassa toda a minha capacidade de entender, resta-me a certeza da recordação.
Atónito pela tua presença inesperada, embriago-me com o perfume que julgava ter ja esquecido e que começa a envolver-me completamente. É o teu perfume! Semi-cerro os olhos e torno mais viva a tua imagem no meu cerebro e no meu coração. Oiço o teu riso vivo de criança ladina. Oiço o teu desafio insistente para corrermos na praia. Sinto o teu beijo de convencimento e sigo-te.
E fazes como sempre fizeste quando corríamos e eu fingia que não conseguia ser mais veloz só para poder apreciar a graciosidade dos teus longos cabelos soltos ao vento e a leveza do teu corpo esbelto que parecia flanar alguns passos à minha frente. E voltavas o teu belo rosto, rindo abertamente enquanto repetias... não consegues apanhar-me... não consegues apanhar-me... não consegues apanhar-me...
Não consegui... não soube... apanhar-te... conquistar-te.
Sobraste-me em vivacidade, em desejo de infinito e de conquista.
Derrotou-me o medo de não de não acreditares no meu amor!!!

sábado, 19 de janeiro de 2008

Sem saber se existo...

Sem eu querer
Os teus seios atraíram o meu olhar
Sem eu saber
Os teus lábios quizeram-me beijar

Sem eu pedir
Nossas mãos percorreram nossos corpos
Sem eu ouvir
Pediste-me para te amar

Sem eu sentir
Inundaste-me de amor todos os poros
Sem eu mentir
Banhaste-te nos meus olhos de mar

Sem me mover
Libertaste em mim toda a paixão

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

O Ano Novo do Bartolomeu, continuação...

Apesar de o dia se apresentar invernoso e de me achar despido sobre a roupa de cama, a minha pele e a de Amélia que se achava deitada ao meu lado, quase queimavam.
Ainda aturdido pela velocidade vertiginosa a que os acontecimentos recentes tinham ocorrido, tentei reorganizar os pensamentos, as memórias e as imagens que se iam sucedendo no meu espírito. Tudo se apresentava incrivelmente irreal, porém, ao meu lado, naquela cama, lá estáva o corpo divinal de Amélia, mágicamente despido, como que atestando a realidade do que me parecia irreal.
Voltei-me então para Amélia que me olhava serena, suave e linda. Tive a sensação que o seu corpo flutuava, esfreguei os olhos tentando retirar o resto de turpor que pudesse fazer-me entender erradamente o que via. Amélia flutuava, talvez a um centímetro da roupa de cama, mas tinha a certeza que a pele das suas costas não a tocava. Amélia flutuava! Admirado, estendi a mão na sua direcção, tentando tocar-lhe. Nesse momento Amélia, com uma agilidade surpreendente, e antes que a tocasse, levantou-se, colocou de novo o robe e exibindo o seu sorriso mais amoroso, estendeu a mão na minha direcção, enquanto me pedia... vamos tomar um banho Bartolomeu?
Senti que algo me impulsionava, fazendo com que saltasse da cama e num ápice me encontrasse de mão dada com Amélia, que me conduziu para o quarto de banho.
Não trocámos uma palavra enquanto percorríamos o espaço que nos separava da porta, quando entrámos, deparei com a presença de uma figura feminina que ainda não havia conhecido até àquele momento.
Tratáva-se de uma jovem, aparentando 15 ou 16 anos, de aspecto frágil, tom de pele ligeiramente nacarada, olhos grandes, mas inexpressivos, cabelos loiros muito longos, seguros por uma tiara ornamentada de profusas flores minúsculas de multi cores, vestia uma túnica branca, fina, de onde transparecia integralmente o seu corpo esguio e franzino. Segurava numa das mãos um pote de cristal, de onde retirava sais aromáticos que ia espalhando na água da banheira.
Logo que entrámos, Amélia apresentou a nova personagem.
Esta menina chama-se Pelítia, é minha aia, mantem-se permanentemente ao meu lado e satisfaz-me em todos os meus desejos.
Enquanto fazia esta apresentação, Amélia passava meiga e lentamente a costa dos seus dedos pelo rosto de Pelítia. Enquanto que esta, mantendo o olhar baixo, desenhou uma breve flexão de joelhos, demonstrando obdiência e assentimento.
Achei que não me devia dirigir a Pelítia, mas não deixei no entanto de a observar, tentando intuír o significado de todo aquilo que se me estava a revelar.
Amélia parou em frente a Pelítia e voltou-se de costas, enquanto esta, poisando o pote dos sais lhe retirou o robe que a cobria. Depois, Amélia, deu-me de novo a mão e conduziu-me à banheira, de onde tinha começado a saír um leve vapor de água. Entrámos, a água estáva surpreendentemente gelada, porém isso não me causava qualquer incomodo, pelo contrário, senti que aquele gelo em contacto com a pele, me conduzia para um bem estar relaxante, convidando-me a descontraír. Entrei completamente naquela água revigorante, semi-cerrei os olhos e senti os pensamentos de novo a viajar. Lentamente, voltei a concentrar a atenção no local onde estava e em tudo o que me rodeava , abri os olhos. Estava realmente dentro daquela imensa banheira, onde tambem se encontravam Amélia e Pelítia, que suavemente deitava água com uma concha de prata sobre os ombros da sua ama...

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Dois dias depois do ano Novo do Bartolomeu

Bartolomeu...
Por entre uma ligeira penumbra vislumbrei uma figura feminina que me observava colocada de pé, ao lado da cama onde permanecia deitado e que chamava o meu nome.
Em seguida, olhei em redor, tentando erguer-me, mas de imediato, uma vertigem obrigou-me a deitar novamente.
Bartolomeu, chamou de novo a figura feminina que agora ajoelhara ao meu lado e me acariciava dos cabelos diligentemente.
Olhei aquele rosto fino, agradável que me olhava com carinho, mas que eu não conhecia.
Aparentava pertencer a uma mulher que andaria pelos 45 anos, pele clara, lisa, olhos expressivos, enormes, escuros, emoldurados por uma cabeleira forte, brilhante, comprida.
Perguntei-lhe quem era e que lugar era aquele onde me encontrava.
Sorriu-se diligente, enquanto mantinha os seus dedos ocupados com o meu cabelo em suaves carícias.
Não te lembras de mim, Bartolomeu?
Sou a Amélia!
Amélia!?
Uma corrente de pensamentos, atravessou-me a memória num ápice. Um rosário de imágens, de frases, de sons difusos relembraram-me a Amélia que tinha conhecido num momento, que não conseguia lembrar se era distante, ou recente. A memória trouxe-me então a imágem mais nítida dessa Amélia e constatei que diferia daquela que agora se apresentava à minha frente.
Perdão, a senhora não é a Amélia de que me recordo, a Amélia que...
Neste momento a nova Amélia colocou suavemente os seus dedos sobre os meus lábios e, exibindo um sorriso sedutor declarou. Vamos esquecer o passado, a partir deste momento só o futuro irá contar. Combinado?
Sem saber o que responder concretamente, voltei a tentar erguer-me, novamente me assaltou uma vertigem, mas desta vez, suportável. Reclinado na cama, olhei à minha volta, tentando identificar o local onde me encontrava.
Amélia levantou-se também e correu os pesados reposteiros em veludo azul-escuro, quase negros que protegiam o quarto da claridade exterior.
Que dia é hoje, perguntei?
Dia 2 de Janeiro de 2008, respondeu Amélia sorrindo.
Dia 2? Então estou aqui ha 2 dias?
Amélia riu-se de novo - Tens estado a descansar, assim, vais iniciar o novo ano pleno de energia!
Enquanto colocava estas perguntas e recebia as correspondentes respostas, senti que algo no meu pescoço me incomodava. Levantei a mão direita e apalpei o lado esquerdo do pescoço que me parecia dormente e onde tacteei dois pontos, como se fossem duas borbulhas.
Amélia percebeu o meu gesto e aproximando-se da cama onde me encontrava, ajoelhou-se novamente, aproximou o seu rosto do meu e sem que esperasse, depositou um longo e suave beijo nos meus lábios.
Em seguida anunciou, tens o banho pronto Bartolomeu. Quando terminares, dentro destes armários encontras roupas para vestires, basta que escolhas de acordo com o teu gosto.
Isto não pode estar a acontecer comigo, pensei de mim para mim.
Como que adivinhando os meus pensamentos, Amélia depositou novo beijo nos meus lábios, mas desta vez mais ardente, mais intenso, mais prolongado ao qual senti o impulso incontrolável de corresponder. Enquanto nos beijávamos, Amélia libertou-se do longo robe que vestia, ficando somente coberta por uma diáfana camisa de dormir em seda rosa-claro que deixava adivinhar as sensuais curvas do seu corpo.
Atirando para trás os seus longos cabelos negros e fixando de uma forma penetrante o seu olhar em mim, declarou numa ânsia... vais ser completamente meu. Seguiram-se momentos inenarráveis de ardentes beijos e carícias, de novo, perante o meu olhar extasiado Amélia voltava a transformar-se, aparentando estar mais jovem ainda. As carícias mútuas e os beijos aumentaram de rítmo, os corpos de ambos fundiam-se já um no outro, quase indistintos, rolando sobre o vasto leito, apertando-se, colocando-se indistintamente um por cima do outro, desejando ardentemente entrar um no outro. Foi então que Amélia, retirando por completo a breve camisa de seda e, revelando na totalidade o seu esbelto corpo nu, se colocou sobre o meu ventre e segurando com firmeza o meu membro que estalava de rijeza e desejo de a penetrar, num gesto ágil de cintura, o conduziu para o interior de si.
Nesse momento, o céu e a terra rodopiaram vertiginosamente em torno de mim. Cerrei os olhos e deixei-me embalar completamente pelo rítmo que Amélia imprimia ofegante, murmurante. Deliciei-me com a sensação de sentir o seu interior envolvente, de sentir os seus seios rijos pressionando o meu peito, enquanto os seus lábios, junto aos meus, entoávam mormúrios que mais pareciam orações ininteligíveis. De súbito Amélia envolveu-me num abraço, um abraço que apertou ao mesmo tempo que o seu corpo estremecia interiormente e da sua garganta saía um som profundo de fera que caça a presa, denunciador de ter atingido um estado de prazer dilacerante. Aqueles pasmos musculares repetiram-se vezes seguidas. Por um momento Amélia abrandou o rítmo alucinante a que a sua cintura se remexia e a sua cabeça se revolvia, fazendo com que os longos cabelos lhe cobrissem por completo o rosto e o peito. De novo, Amélia retomou os movimentos circulares e de vai e vem que executava com a sua cintura, rins e zona pélvica, de novo me abraçou, sussurou, gemeu e de novo num êxtase incontível, desta vez mais prolongado, o seu corpo estremeceu, enquanto unindo a sua boca com a minha mordia ferozmente os meus lábios.
O calor que emanava do seu corpo queimava e transmitia-me uma sensação que me era desconhecida. Nunca um corpo de mulher me tinha provocado sentimentos tão intensos, como o de Amélia...

O Ano Novo do Bartolomeu, continuação...

Segui então o mordomo que me conduziu através de escadarias e longos corredores iluminados unicamente por escassos candelabros, intervalados por enormes telas a óleo, exibindo figuras de pessoas antigas, que deduzi serem antepassados da marquesa Amélia.

Chegados ao final de um dos corredores, Jarbas parou súbitamente em frente a uma porta de enormes dimensões e declarou abrindo a mesma: Este é o quarto destinado a V. Exª. se desejar algo, basta que accione a campaínha que se encontra ao lado da cama, bom repouso.
Entrei no quarto, era amplo, composto por mobiliário que parecia saído de uma sala de museu. Suspenso do tecto, um imenso candeeiro de 12 braços em latão antigo, as paredes forradas integralmente a tecido de damasco azul-escuro, salpicado de finas ramagens prateadas, o chão, em tabuado, apresentava-se coberto por uma enorme carpete persa de pelo alto, com motivos florais em tons grenat. Todo este conjunto, conferiam ao quarto uma atmosfera opressiva e de certo modo arrepiante. Entretanto, Jarbas fechara a porta atrás de mim.
De um lado do quarto, uma janela enorme, rasgada para a mesma paisagem que se admirava do largo onde o meu carro tinha ficado estacionado.

Na parede do fundo, outra porta dava acesso a um amplo vestíbulo onde, de um e outro lado se perfilávam dois enormes armários em mógno com portas trabalhadas exibindo figuras mitológicas gravadas em alto relevo.

Ao fundo do vestíbulo outra porta dava passagem para o quarto de banho. Imenso, todo revestido em pedra mármore rosa, com uma parede toda em espelho e uma banheira que lembrava uma piscina olímpica.

Senti então algum torpôr físico sinal de que efectivamente estáva a necessitar descansar um pouco. Despi-me, deitei-me e não me lembro de ter adormecido, acordei sonhando que ouvia uma voz longínqua, suavemente chamando o meu nome, Bartolomeu... Bartolomeu...

Aquele chamamento levemente encantantório, fez-me recuperar lentamente a lucidez, enquanto se tornava mais nítido e mais presente, Bartolomeu...

Abri os olhos...

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

O Ano Novo do Bartolomeu, continuação...

Passámos um tempo indeterminado naquela extasiante admiração, saímos dela quando Amélia, tocando a minha mão me convidou a fazer-lhe companhia para o pequeno almoço.

Aceitei. Saí do carro, abri-lhe a porta e prontifiquei-me para a ajudar a saír. Olhou-me com alguma altivez e declarou: não precisas incomodar-te consigo perfeitamente saír, basta que me ofereças a tua mão. Assim fiz, delicadamente pousou a sua sobre a minha e sem dificuldade abandonou o banco do carro. Quando subíamos a breve escadaria em pedra da mansão, a vetusta porta em madeira de carvalho trabalhado, na frontaria do edifício abriu-se, mostrando a figura austera de um mordomo, que fazendo uma ligeira vénia reverencial, cumprimentou a minha mais recente amiga, dirigindo-lhe um: Bom dia Srª. Marquêsa.

Marquêsa? Oh com um raio, e agora? Como é que se toma um pequeno almoço à mesa com uma marquêsa?

Talvez adivinhando as minhas cogitações e inseguranças, pediu-me que lhe oferecesse o meu braço e sossegou-me dizendo: Bartolomeu, a aristocracia de hoje, não faz questão em observar as mesmas regras espartilhantes de outrora. Não nos tornámos trogloditas, mas aligeirámos, ou se preferires, ajustámos as etiquetas seculares aos tempos actuais. Por isso descontrai-te e sê tu próprio, só assim, poderemos sentir prazer na companhia um do outro.

Não pude evitar um riso denunciador de algum nervosismo e decidi seguir o conselho de Amélia, descontraindo-me.

Desde que saímos do carro, notei que Amélia se tinha transformado um pouco, quase podia afirmar que a via rejuvenescer, notava-lhe mais agilidade, mais vitalidade no rosto e no sorriso. O seu passo era firme e elegante, a postura um misto de altiva e diligente e o trato subtil e carinhoso, uma verdadeira dama aristocrata.

Chegádos à salinha onde iria decorrer o pequeno almoço e onde a mesa se achava já posta, convidou-me a sentar ao seu lado. Afastei o seu cadeirão, e voltei a colocá-lo para que se sentásse e em seguida ocupei o lugar que me havia indicado.

Em seguida, Amélia fez sinal à empregada que entretanto aparecera rigorosamente fardada e empurrando um carrinho de copa repleto de pratos e travessas tapados por campânulas, para que nos servisse.

Foi-nos servido um pequeno almoço a que noutra situação, chamaria um almoço, mas que me soube divinalmente. Terminada a refeição, Amélia fez questão de me contar abreviadamente a história daquele palacete desde a sua construção, passando de relance pelas origens da ancestral família a que pertencia.

Em seguida, Amélia voltou a fixar o seu olhar doce e penetrante no meu e declarou que desejava que lhe satisfizesse um desejo.

Com todo o gosto, declarei-lhe.

-Desejo que passes o dia na minha companhia e se te apetecer descansar um pouco, tens um quarto pronto para te receber.

Tentei declinar a oferta, desculpando-me com o incómodo que iria causar. Recusou as minhas desculpas, declarando-se ofendida se eu não aceitásse.

Um pouco embaraçado, decidi aceder.

Amélia tocou uma campaínha que se encontrava sobre a mesa e de imediato apareceu o mordomo que nos tinha aberto a porta.

Jarbas, conduza o Sr. Bartolomeu ao quarto azul.

Certamente Senhora Marquesa. E voltando-se para mim, indicou-me o caminho a seguir.

Despedi-me de Amélia que se manteve sentada à mesa do pequeno almoço e se despediu também, enviando-me um sorriso algo enigmático. Senti de novo um tremendo arrepio que me percorreu a coluna vertebral, porém, ao contrário do anterior, este revelou-se-me bastante desconfortável.

O Ano Novo do Bartolomeu, continuação...

Abri a porta do carro, e ajudei Amélia a entrar. Fez questão que não a tratasse cerimoniosamente, afinal estáva a prestar-lhe auxílio e já me considerava um amigo.

Saímos do estacionamento e perguntou-me se conhecia Cascais. Sim, conheço perfeitamente!

Dirigimo-nos então para a marginal Lisboa-Cascais e, serenamente embalados por uma conversa que deixou de ser de circunstância e passou para um campo mais íntimo, em que, descontraídamente fomos relatando as experiências que ocorreram nas nossas vidas, enquanto percorríamos aquela belíssima via, àquela hora quase deserta e possuidora de um encanto, de uma magia especial.

Chegados a Cascais, a minha amiga Amélia foi-me indicando os caminhos a seguir até que atingímos o ponto extremo da cidade, voltado para o oceano e a serra de Sintra. Aí apontou-me um enorme portão em ferro, enquanto pressionava o comando electrónico que o fêz abrir. Entrámos numa estradinha calcetada, ladeada por aquilo que me pareceu serem cedros seculares, enquanto atrás de nós o portão se voltava a fechar eléctricamente.

Andámos algumas centenas de metros por essa estradinha calcetada, indo desembocar num largo em frente a uma mansão de estilo romântico, perfeitamente conservada. Chegámos, disse Amélia, para onde achares melhor. Confesso que me senti um pouco oprimido, perante a magnificência do edifício e tal como uma criança deslumbrada, perguntei: moras neste palácio?

Soltou uma jovial gargalhada e retorquiu: não sejas exagerado, isto não é um palácio, gostas?

Sim efectivamente é lindo, um pouco grande, mas maravilhoso.

A manhã começava a fazer-se adivinhar e, apesar da folia da noite e das bebidas ingeridas, confesso que não sentia a necessidade de dormir, pelo contrário, sentia-me excelentemente na companhia de Amélia, aproveitando o nascer do dia, naquela paisagem maravilhosa em que de um lado se admirava o extenso oceano e do outro a magestosidade da serra de Sintra...

O Ano Novo do Bartolomeu

Olá minhas queridas e meus queridos amigos!!!!
Saudações fraternas para todos vós!!!!
Imagino que muitos de vós, sintam já saudades deste vosso amigo, tantas talvez, quanto aquelas que ele sente de vós.
Sucede que esta ausência, como tudo na vida tem uma razão de ser e por conseguinte uma explicação. E essa explicação, posso chamar-lhe de certa forma insólita, apesar de não a poder considerar inédita, pois aquilo que sucedeu comigo e que lhes relatarei de seguida, aconteceu já com muitíssimas outras pessoas.
Eu conto-lhes.
O ano que terminou às 24 horas do dia 31 de Dezembro p.p., foi para a maioria de nós, parco em acontecimentos que nos fizessem sentir satisfeitos, como se costuma dizer... felizes por ter nascido. Por isso, quando nessa noite me dirigia para o local onde tencionava comemorar a passagem do ano velho para o novo, formulei mentalmente um desejo, dirigido ao deus dos bacanos, em que lhe pedia a interferência para fazer cruzar no meu caminho, uma mulher. Não fui exigente nos predicados. Pedi simplesmente que fosse divertida, inteligente e apreciadora do farfalho. Porem a noite decorreu paulatinamente, apesar da animação e alegria reinantes no local e, até à hora de me dirigir de novo ao carro para voltar a casa, a mulher do pedido formulado, não se havia ainda manifestado. Foi então que reparei perto do meu carro, numa idosa que notei estar a necessitar de ajuda. Apróximei-me e percebi tratar-se de uma senhora que aparentava estar perto dos 80 anos, apesar de as roupas demonstrarem algum desalinho, percebia-se que era pessoa de fino trato, cujo rosto exibia ainda traços de uma beleza que não se havia extinguido completamente.
Acerquei-me dela e indaguei se a poderia ajudar, ergueu os olhos, que apesar do escuro da noite se notava possuirem ainda um brilho com certo fulgor. Enviou-me um sorriso grato, acompanhado de um ligeiro esgar de dor e estendendo-me a mão, pediu que a ajudasse a erguer.
Assim fiz. Com muito cuidado, segurei-lhe a mão e apoiando-a por trás, ajudei-a a levantar-se. Já de pé, mas ligeiramente cambaleante, perguntou-me o nome, esclarecendo que se chamava Amélia. Bartolomeu, respondi-lhe. Ah tal como o louco padre jesuíta que cismou, um dia seria capaz de voar? Exactamente, tal como esse. Nesse momento, fixou bem o brilho mais intenso dos seus olhos nos meus, endireitou muito bem o tronco e depois de uma pausa de alguns segundos, afirmou veementemente: Voarás ! um dia voarás!
Confesso que naquele momento, um arrepio gelado percorreu a minha coluna vertebral e, tentando quebrar o momento de sem-jeito, perguntei-lhe se a poderia conduzir a algum lado. De novo exibiu o sorriso que já me começava a conquistar e perguntou-me se estaria disposto a leva-la a casa. Concerteza, sem favor, bastaria que para tanto me desse a indicação da morada...