O Presidente da República, inicia hoje, com uma conferência na Cidadela de Cascais ( a mesma que tem custado uma fortuna ao erário público, em obras de reabilitação e restauro) subordinada ao título "Nascer em Portugal": o novo «Roteiro para o Futuro». A participar nesta conferência, foram convidados três conferencistas estrangeiros, verdadeiros especialistas mundiais, da temática «fecundidade».
Não faço ideia de quanto custa ao país trazer estes conferencistas a Cascais mas, tenho esperança, que em nome do altruísmo e da justeza da causa, eles tenham oferecido a sua participação (estadia e deslocações inclusive) gratuitamente.
Não possuo especiais conhecimentos da temática "fecundidade", sei unicamente que existem condicionantes que "a" podem viabilizar, ou inviabilizar. E sei que entre essas condicionantes se encontram problemas de saúde, disfunção de órgãos e ainda, dificuldades financeiras.
Longe vão os tempos em que procriar era uma imposição social e familiar. Estavam em causa valores éticos, religiosos e sociais, que hoje se acham dissipados e que deram lugar a outros não menos importantes e que têm a ver com perspectivas de futuro.
A instabilidade económica, a incerteza quanto à manutenção do emprego que garante a estabilidade económica de uma família, e que garante também o sustento, a educação, a saúde e o conforto, são uma realidade tão crua e nua, que os casais em idade fecunda, se inibe por completo do acto de procriar.
Dizem as estatísticas que no nosso país, o número de óbitos dos últimos anos, tem sido superior ao dos nascimentos. Esta evidência preocupa o Presidente da República, preocupa-me e preocupa a população em geral. Sabemos, nem que seja somente por instinto, que qualquer sociedade necessita vitalmente de renovação, de nascimentos. São esses nascimentos que garantem o futuro e que mantêm a actividade.
No entanto, este problema, penso que não pode ser endossado directamente, à falta de vontade de procriar, à inacção, à inconsciência social. Qualquer cidadão português, neste momento, vê com nitidez à sua frente, uma recessão tão abrangente e profunda, que teme achar-se de um dia para o outro, sem emprego, sem casa e sem os recursos mínimos que lhe permitam criar um filho.
Para que esta situação inverta o sentido, para que o país detenha a marcha vertiginosa que o conduz à falência económica e demográfica, necessita reequacionar-se, necessita reinventar-se, necessita urgentemente de se inventariar.
Nesta fase difícil em que o país se encontra, não são necessários estudos demográficos, nem conferencistas estrangeiros a debitarem-lhe estatísticas e opiniões técnicas, generalistas, fundamentadas em realidades que não lhe são comuns e a sangrarem-lhe recursos económicos necessários para atender a necessidades reais e prementes.
O Roteiro, sim. Acho-o da maior utilidade, se bem estruturado e bem conduzido. O contacto directo com as realidades do país, com os habitantes, a reunião de opiniões e o estímulo à procura de soluções... em suma, a inventariação do país e dos portugueses; o que pensam e como pensam; as soluções que propõem, os meios de que dispõem, a motivação, os projectos que as comunidades ^têm pensados e em execução.
Este inventário, este conhecimento real das realidades e das propostas de mudar de fazer inverter o estado actual de coisas, é que em minha opinião deve ser levado a peito pelo nosso Presidente da República e pelos Portugueses.
Agora... os salamaleques protocolares, os politicamente correctos, as recepções, o brilho, as luzes, os cristais e as baixelas... esses servirão somente para nos deixar mais pobres.
Sr. Presidente da República, peço-lhe, exerça a sua função de Chefe de Estado com hombridade, e coloque-se ao serviço do seu País!