terça-feira, 26 de abril de 2011

Terra-Mãe

Transporta-me a ti um vento forte
Sussurra-me teu nome, a brisa morna
De ti, nunca me separará a morte
A ti, todo o meu ser agora torna

Depende de ti, toda a existência
De ti nasce a seiva que me percorre
De ti, nunca eu sinto a ausência
Em ti, tudo nasce, se cria e morre

És imensa, protectora e forte
Dás. Ralhas. Castigas e amas
Em ti se joga, da vida a sorte
Por ti se empunham e disparam armas

Por ti, corro a defender
Aquilo que nos dás a todos, igual
Aquilo que alguns querem vender
Aquilo que é, património mundial

Utópicos, loucos, queremos possuir,
Comprando partes do teu corpo amado
Esquecendo o prazer que é, fruir
Dos prazeres que colocas ao nosso lado

Mas tu, jovem anciã, lá vais rodando,
Indiferente, às nossas tolas vaidades
Oferecendo-nos o caminho e embalando
Os sonhos com que construímos realidades

sábado, 23 de abril de 2011

Coisas dea minha Terra III

Por vezes acontece ficarmos em silêncio.
Ele, no seu ar sempre estático, como que a dizer-me: estou aqui, porque nunca daqui saí.
Eu, hesitante, questiono-me intimamente se aquilo que ele conhece, confrontado com o que eu conheço, corresponde de alguma forma a uma qualquer realidade.
É estranho, a forma persistente como nos preocupamos em encontrar, em identificar a realidade, uma realidade, algo que caiba sem hipótese de discussão, dentro de um padrão tido como irrefutável.
Estávamos assim, eu e o meu moinho há um par de horas, olhando ambos o horizonte mas, vendo realidades diferentes, quando ele me diz peremptório: o tempo vai mudar.
Hmmm?!
O tempo vai mudar, repetiu-me.
Ah sim? Tens a certeza?
Absoluta!
Talvez me pudesses desvendar a fórmula que te permite chegar a essa conclusão...
Fácil, basta que repares na mudança da direcção do vento. Há pouco soprava de sul, agora rondou para noroeste. Quando soprava de sul, puxava a chuva, agora, começa a afastar as nuvens mais grossas. Se continuar a rondar no mesmo sentido, vamos ter sol em pouco tempo... sol e vento. Adoro o vento, lembra-me os tempos áureos em que o moleiro aqui vinha, alinhava-me de acordo com a direcção do vento, soltava-me as velas e os meus mastros começavam a rodar, impulsionando as mos que transformavam o grão em farinha e farelo.
Sabes Bartolomeu, poucas pessoas dão valor ao farelo, muitos, consideram-no até um produto sem valor, algo a desconsiderar. No entanto, era com ele que se engordava o gado; o porco, a galinha, etc. que eram a base da subsistência de todo esse povo que cavava a terra e que dela retirava o sustento e... a riqueza dos grandes proprietários.
É verdade meu amigo, respondi-lhe. Mas então, dizes que os ventos são de mudança... queres dizer que é lícito manter-se a esperança de que tudo mude, pelo menos, que algo mude, que o sol volte a brilhar?
O vento já mudou muitíssimas vezes, Bartolomeu. Aquilo que ainda não mudou, foi a forma que os homens encontram para aproveitar esses ventos, para tirar partido desses ventos, do mesmo modo que o moleiro o aproveita, transformando o grão em farinha que alimenta a alma e o farelo que engorda a carne. Entender o mundo, passa também pela forma como se vê e entende o nosso semelhante e ainda... pela vontade de construir conjuntamente, de aproveitar a força individual e transforma-la numa força comum, indomável, capaz de se sobrepor aos ventos nefastos, capaz de conduzir a humanidade, de a tornar próspera e sobretudo, consciente.
Adoro o silêncio do meu moinho!

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Poema

... de Pedro Homem de Mello

"Povo"

Povo que lavas no rio,
Que vais às feiras e à tenda,
Que talhas com teu machado
As tábuas do meu caixão,
Pode haver quem te defenda,
Quem turve o teu ar sadio,
Quem compre o teu chão sagrado,
Mas a tua vida, não!

Meu cravo branco na orelha!
Minha camélia vermelha!
Meu verde manjericão!
Ó natureza vadia!
Vejo uma fotografia...
Mas a tua vida, não!

Fui ter à mesa redonda,
Bebendo em malga que esconda
O beijo, de mão em mão...
Água pura, fruto agreste,
Fora o vinho que me deste,
Mas a tua vida, não!

Procissões de praia e monte,
Areais, píncaros, passos
Atrás dos quais os meus vão!
Que é dos cântaros da fonte?
Guardo o jeito desses braços...
Mas a tua vida, não!

Aromas de urze e de lama!
Dormi com eles na cama...
Tive a mesma condição.
Bruxas e lobas, estrelas!
Tive o dom de conhecê-las...
Mas a tua vida, não!

Subi às frias montanhas,
Pelas veredas estranhas
Onde os meus olhos estão.
Rasguei certo corpo ao meio...
Vi certa curva em teu seio...
Mas a tua vida, não!

Só tu! Só tu és verdade!
Quando o remorso me invade
E me leva à confissão...
Povo! Povo! eu te pertenço.
Deste-me alturas de incenso,
Mas a tua vida, não!

Povo que lavas no rio,
Que vais às feiras e à tenda,
Que talhas com teu machado,
As tábuas do meu caixão,
Pode haver quem te defenda,
Quem turve o teu ar sadio,
Quem compre o teu chão sagrado,
Mas a tua vida, não!

terça-feira, 19 de abril de 2011

Plano para salvar a economia portuguesa.

Os Finlandeses e os Alemães têm razão. O empréstimo de oitenta mil milhões de euros, não poderá salvar a economia portuguesa, porque a nossa recuperação económica, está dependente da nossa capacidade de produzir e de exportar. No entanto, estas duas actividades não têm condições de recuperação, porque os investidores não se dispõem a arriscar o seu dinheiro e porque o crédito lhes custa caro.
A solução, em lugar de passar pela negociação de empréstimos, de taxas de juro e de prazos para pagamento, passa sim, pelo pedido de anulação da dívida pública, saída do euro e desvalorização do escudo. A par destas três medidas, a adopção de uma política de importação controlada, com a proibição de importação de produtos equivalentes, produzidos internamente.
Com a anulação da dívida externa, deixaria de haver preocupação com o pagamento de juros e de amortização do capital em dívida, passando o Pib a reverter para as contas públicas e para o apoio aos investimentos de recuperação económica.
O retorno à moeda antiga e a sua desvalorização, os euros que pertencem a cada cidadão, passariam a render mais, sendo essa medida um incentivo ao investimento e trazendo ainda um incentivo e uma sensação imediata de alguma recuperação do poder de compra. Havendo esse incentivo e consequentemente mais investimento, surgiriam novas indústrias e a criação de mais postos de trabalho. O retorno à moeda antiga, acompanhado da sua desvalorização e o consecutivo aumento do investimento privado, acompanhado de uma política de protecção, de uma política mais justa de impostos, permitiriam a reactivação de indústrias que foram desactivadas desde a entrada de Portugal para a UE. Por exemplo a indústria siderurgica, a indústria vidreira e cerâmica, a indústria das pescas, conservas e transformação e embalagem, a agricultura, e pecuária, complementadas por normas restritivas à importação, certamente retomariam a actividade e a relevância para a economia interna, que já conheceram num passado ainda recente.
Todas estas medidas, acompanhadas de uma política governamental, séria e transparente, empenhada em requalificar a educação, a formação profissional, em tornar a justiça mais eficaz e célere, iriam certamente criar nos portugueses a vontade necessária para arregaçar as mangas e colaborar no reerguer deste país que possui todas as condições para ser próspero e produtivo.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Coisas da minha Terra II.

Ontem, ao final do dia, voltei a visitar o "meu" moinho.

Chamo-lhe "meu", porque o conheço ha 15 anos, já ele se encontrava ha muito reformado, e desde o primeiro dia em que nos vimos, estabeleceu-se entre nós uma relação de amizade e cumplicidade. Quando nos encontramos conto-lhe coisas deste tempo, que ele compara com as coisas do tempo dele. No final, antes de nos despedirmos, soltamos ambos umas boas risadas, porque concluímos que apesar dos séculos que passaram entre as coisas de então, e as coisas de hoje, nada mudou. As pessoas são as mesmas, os campos, os ventos, a chuva o sol.

A minha segunda visita no mesmo dia, deveu-se à minha vontade de lhe contar que tinha colocado um post no meu blog, onde pela primeira vez, o tinha mencionado.

Emocionou-se, agradeceu-me a atenção e quis saber concretamente, sobre o que havia escrito.

O meu moinho já sabe o que são computadores e internet e redes sociais, por vezes, quando o visito, levo comigo o portátil e, encostado às suas paredes, vou escrevinhando as minhas impressões e reflexões. Quando pela primeira vez conversámos acerca deste assunto e lhe expliquei que actualmente a informação circula em tempo real, graças a essa evolução conhecida por internet, contou-me que no tempo dele, os moleiros e por conseguinte os moinhos, por se encontrarem em locais elevados e à vista uns dos outros, comunicavam entre si por sinais préviamente estabelecidos, os quais lhes permitiam saber e transmitir as notícias mais importantes. Como foi o caso em Novembro de 1810, quando as tropas francesas do General Massena, dali retiraram para Santarém.

Ontem, ainda conversámos acerca da ilusão humana em possuir, enquanto para oeste, o sol que viramos nascer, se recolhia, espalhando novamente nos céus aquela poalha incandescente que recorda ao mundo o fogo purificador, e que faz renascer a alma dos seres e os conduz à certeza de um novo amanhã.

domingo, 17 de abril de 2011

Coisas da minha Terra I.

Hoje, saí muito cedo. Atravessei pelos campos até chegar a um moinho que fica num alto. Ai chegado, sentei-me sobre uma mó de pedra abandonada e esperei pelo nascer do sol. Á minha volta, a vida acordava. As plantas ainda molhadas do orvalho, como que despertavam, a passarada chilreava caçando insectos. De resto, só o som do vento brando e ligeiramente fresco a deixar adivinhar o nascer de mais um dia de calor primaveril. Quando a luz do sol rompeu, primeiro alaranjado e depois brilhante e quente e começou a fazer realçar as tonalidades dos campos em volta, encheu-se-me o peito de alegria, senti o entusiasmo, o desejo forte de fazer, de construir, de ser parte activa de um mundo em permanente mudança e aperfeiçoamento. Pensei então: o mundo é realmente muito bonito! De súbito assaltou-me outro pensamento; se o mundo é efectivamente belo, cómodo, agradável, se a terra nos dá tudo o que necessitamos para nela viver... porquê perseguir a riqueza, o sucesso? Porquê a ganância de possuir, escondida por trás da capa da evolução? Afinal... o que representa efectivamente a evolução? Não continuamos a ser, como sempre fomos, mortais? Não continuamos a ser, como sempre fomos, falíveis? Não continuamos a ser, como sempre fomos, sonhadores? Não continuamos a ser, como sempre fomos, idealistas? Fez-me bem este nascer do sol... fez-me bem, ver o mundo iluminado, fez-me bem ouvir a passarada. Ainda me invade o olfato, o cheiro da terra humida!

sábado, 16 de abril de 2011

Sinto que sinto, o que sinto.

Como caçador que sai... Antes do romper da alva. E pelas quebradas vai... Correndo a lebre que salta. Sinto que me chamam o Vento, A Terra, o Sol e o Mar. E o passar do tempo, lento, E o desejo de não voltar. Sinto sede de universo, De lonjora e mansidão. Do aconchego no regresso, Que me oferece o meu chão. Sinto sede de voltar, Sem nunca chegar a partir. De te ver, de te abraçar, De te beijar, e sentir. Sinto medo de te inventar, Na lonjura da razão. De te ter, de te encontrar, De segurar tua mão.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

O Homem.

Diluem-se os tempos numa luz futura, que após outra, sucessão infinita de dias e de noites, de choros e alegrias, de conquistas e repousos, se reconstrói. Derrotas não existem, porque o Homem será eternamente guerreiro, à conquista de um reino imaginário, onde os sonhos e as mãos se confundem... e os passos, são eternamente leves.