quarta-feira, 25 de julho de 2012

Terra

Transporta-me até ti, um vento forte
Sussurra-me teu nome a brisa morna
De ti, nunca me separará a morte
A ti, todo o meu ser agora torna

Depende de ti, toda a existência
De ti nasce a seiva que me sustem
De ti, nunca eu sinto a ausência
Em ti, tudo nasce,  e se mantem

És imensa, protectora e forte
Dás, ralhas, castigas e amas
Em ti se joga, a vida e a sorte
Por ti se empunham e disparam armas

Compramos-te em partes, julgando-te nossa
Utópicos, loucos, querendo-te possuir
Mas tu, jóvem anciã, não admites posse
E nós de ti, não podemos transigir. 

terça-feira, 24 de julho de 2012

Margens.

Quando no alto da falésia contemplo o oceano, perdido no meio de reflexões, penso que se ele quisesse, poderia de um só golpe, submergir-nos: Terra, Humanidade, Flora e Fauna. Motivos não lhe faltariam para o fazer. Força também, não. Falta-lhe então o poder. O poder capaz de contrariar e se sobrepor àquele, que o mantém confinado às margens dos continentes, que o sustêm.

Dedicado à minha amiga Cristina, para alimentar a superstição.

Chamava-o de mansinho, sempre que passava em frente à sua porta.
Nunca recusou os seus convites para entrar, e ao fazê-lo, quando ainda entre portas, notava acender-se uma chama no seu olhar.
Ainda antes de a porta se fechar, enlaçava-o nos seus braços e apertava-o contra o peito.
Sentia então, que todo o seu corpo tremia como o de uma criança abandonada na noite escura.
Abraçava-a também com ternura, como se quisesse protegê-la de medos, de terrores que não sabia.
Nessa altura, erguia o seu rosto que escondera no  peito dele ao chegar, fixava-lhe o olhar nos lábios e aproximava os seus devagarinho. Tocavam-se as duas bocas como pétalas de flor, entreabriam-se, beijavam-se, primeiro com doçura e uma leveza que logo depois se transformava em sofreguidão, em querer sem medida,  em paixão ardente.
Era quando comaçava uma dança de corpos que se desejavam.
Em movimentos de espiral, rodopiavam até ao quarto, de olhos cerrados, bocas coladas sem errar o caminho, parando a espaços, pressionanado-se mutuamente contra a parede.
Ao chegarem, já sem roupa, lançavam-se num leito espaçoso, iluminado pela luz do sol que jorrava pela janela aberta para o jardim.
Amavam-se!
Amavam-se ternamente, por inteiro. Entregavam um ao outro a essência de si mesmo, numa troca sem receios nem medidas, até que todos os músculos e tendões não suportassem o esforço dos movimentos.
Então os corpos frôxos, deitados lado-a-lado, as mãos entrelaçadas, experimentavam a sensação que descreve o paraíso. Era quando ele notava os aromas florais que chegavam do jardim e o cheiro a feno e alecrim que se soltava dos lençois alvos, o palco de um amor intenso, mas sem sons. Um amor mudo, como que saído das profundezas da terra.
Então, o corpo dela, alvo, nu, começava a agitar-se levemente num soluço que crescia, transformando-se no  pranto convulsivo de criança-menina a quem roubaram a sua boneca mais querida.
Ele, levantava-se de mansinho, pegava as roupas sem ruído, vestia-se já junto à porta e saía.
Ela, enrolada sobre si mesma, chorava e chamava pelo nome do amor que a morte lhe roubara.
Ele... voltava a passar em frente à sua porta.
;)

segunda-feira, 23 de julho de 2012

A vida e suas ironias

Sinto fome de partir...
não de fugir, mas de buscar.
Sinto necessidade de ir...
de ver, entender, encontrar.

Como caçador que sai...
antes do romper da alva.
E pelas quebradas se vai...
buscando a lebre que salta.

Sinto que me chamam o Vento,
a Terra, o Sol e o Mar.
O passar do tempo, lento.
E o desejo de não voltar.

Sinto sede de universo,
de lonjura e mansidão.
Do aconchego, no regresso,
que me oferece o meu chão.

Sinto sede de voltar,
sem nunca chegar a partir.
De te ver, de te abraçar,
de te beijar, e sentir.

Sinto medo de te inventar,
na lonjura da razão.
De te querer, de te amar,
e depois, soltares-me a mão.


A felicidade, a amizade... e aquilo que dizemos.

A felicidade é tola; assim como a amizade. Porque ambas, conseguem não ser eternas.
Aquilo que dizemos, tanto pode ser o tijolo e a argamassa que constroem a parede da amizade, como o ariete que a derruba.
Calemo-nos então, se pretendemos manter uma amizade... muda.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Era uma vez...

Uma vez por dia,
Mês sim, mês não,
Visito a Maria
E beijo-lhe a mão.

Uma vez por semana,
Ano sim, ano não,
Visito a Joana,
Dou-lhe a minha atenção.

Uma vez por mês,
Dia sim, dia não,
Visito a Inês
E pergunto-lhe; então?

Uma vez por ano,
Vez sim, vez não,
Mergulho pelo cano,
Por não ter paixão.

Uma vez por hora,
Segundo sim, ou não.
Sou deitado fora,
Sem qualquer razão.

Uma vez, escrevi.
Um verso maluco.
Mas nunca o li.
Por me parecer tosco.

;)))