sábado, 22 de setembro de 2012

As cantigas que regem as revoluções.

Em Abril de 1974, o poema que conduziu a revolução, chamava-se "Grandola Vila Morena", da autoria de José Afonso:
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade

Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena

Em cada esquina, um amigo
Em cada rosto, igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade

Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto, igualdade
O povo é quem mais ordena

À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola, a tua vontade

Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade.

Em Setembro de 2012, cantou-se em frente ao palácio da Presidência da República, em Belém, o poema de José Gomes Ferreira "Acordai!"
Acordai!
Acordai, homens que dormis
A embalar a dor
Dos silêncios vis!
Vinde, no clamor
Das almas viris,
Arrancar a flor
Que dorme na raíz!
Acordai!
Acordai, raios e tufões
Que dormis no ar
E nas multidões!
Vinde incendiar
De astros e canções
As pedras e o mar,
O mundo e os corações...
Acordai!
Acendei, de almas e de sóis,
Este mar sem cais,
Nem luz de faróis!
E acordai, depois
Das lutas finais,
Os nossos heróis
Que dormem nos covais.
ACORDAI!

Em ambas as datas, o povo português, achava-se esgotado, farto de ser oprimido, sequioso de ser dono dos seus destinos.
Em ambas as datas, os governos proclamavam democracia, reivindicavam esforços titânicos, tentando iludir o povo, de que faziam os possíveis e impossíveis para elevar a nação pobre e anémica e por querer fazê-la guindar-se aos níveis económicos capazes de proporcionar a todos os cidadãos uma melhor qualidade de vida, dignidade, justiça e paz.
Em várias alturas da sua história, o povo português, desperdiçou oportunidades excelentes de se cumprir, de atingir o patamar da sustentabilidade económica e social.
Em todas, deixou que se lhe escapassem por entre os dedos, ficando, sempre, consecutivamente, de mãos vazias e de alma a sangrar.
Não sei se está em curso uma nova revolução, porventura mais consciente, tanto das nossas fraquezas como povo, como das nossas qualidades, competências e aptidões.
Se estiver, efectivamente; desejo que essa revolução seja bem dirigida, bem executada e bem aproveitada e que dela venha a nascer uma nova sociedade, mais exigente consigo mesma, mais tolerante e mais coerente, mas disponível e mais corajosa, mais ciente dos seus direitos e das suas obrigações. Uma nova sociedade com um sentido mais apurado de cidadania!

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Avançando...

Andei pelo Norte, percorri o Parque Nacional do Alvão, designado para a eleição das «sete maravilhas». Parei nas aldeias de xisto, indicadas por uma tabuleta que garante ao visitante, terem beneficiado de um programa comunitário de reabilitação e requalificação. Sentei-me à sombra dos castanheiros ao lado dos naturais e auscultei-os, fui um deles (ou tentei que fosse). São gente resignada, enchem-lhes os olhos, as serranias, os regatos, os lameiros cobertos de milho, o coval e o feijoal. Se lhes pergunto, não sabem nem demonstram interesse em saber quem governa o país, e ainda muito menos ou nada mesmo, o que é a troika, ou o que faz, ou em que medida lhes influência as vivências. Preocupa-os a saúde da vaquinha barrosã, das pitas e os incêndios... esse flagêlo que à noite lhes chega de povoação conhecida, através dos telejornais. Erguem-se com o sol e numa cadência natural e ao ritmo das horas, vão cumprindo as tarefas que têm de ser feitas. Depois, recolhem-se ao mesmo tempo que o sol, ceiam e depois de encomendar a alma ao Criador, estendem-se nos lençois que podem ser a sua mortalha, quando o momento chegar. Vivem ao rítmo da Terra. Escusei-me a perguntar-lhes se esperavam que as "coisas" melhorassem. Não sentem necessidade que assim seja. Aquilo que sentem é que têm uma existência para cumprir e que a duração da mesma não lhes compete decidir. Retorno, e repenso aquilo que me atormenta o espírito; porque não amamos o que é nosso? Porque não o valorizamos? Porque aceitamos que outros, de outros países, nos enviem dinheiro para reerguermos aquilo que os nossos avós construíram? Por acaso estamos tão incapacitados, tão alienados, que não sejamos capazes de criar com os próprios recursos e as vontades próprias, as condições de vida que ansiamos e que temos tudo para alcançar?