Este post, surge a propósito da insinuação (velada) deixada pela minha amiga psicóloga, Interessada, num comentário ao post anterior. Interpretava esta minha amiga, o sentido das palavras que escrevi e, remetendo para Freud, assinalou a possibilidade de eu estar a desenvolver um processo psicológico, conducente ao afloramento de uma homossexualidade latente-o-serôdia.
Felizmente, ou... infelizmente, nunca senti qualquer género de interesse sexual por pessoas do mesmo sexo, ou sequer por andróginos.
Bom, mas não é uma declaração de interesses que me motiva a escrever este texto.
Aquilo que pretendo relatar, são as considerações e memórias a que me conduziu o comentário da minha amiga Interessada.
Quando fundei este blog (gosto do termo "fundei", dá um certo ar importante e solene, à coisa) e nunca fui tipo de grandes obras, apesar de já contar no meu percurso de vida com algumas fundamentalmente importantes; fiz questão de colocar no meu perfil, a frase que penso definir-me com um grau de aproximação àquilo que me considero ser, bastante real.
«semeador de ideias nos campos da mente»
É verdade. O acto de semear sempre me fascinou. Penso poder iguala-lo de alguma forma, ao acto divino da criação. Não faço ideia se no Acto Primeiro a "coisa" decorreu do mesmo modo... se Deus lançou a semente à Terra, esperou que germinasse e no fim, depois de amadurecida, em lugar de se alimentar dela, deixou que o vento a transportasse e até outros lugares onde de novo germinou e amadureceu... não sei, suspeito que sim.
Mas, voltando à minha frase-apresentação: esta definição de mim próprio, reconheço-a em vários sentidos e aspectos da vida e, subordinada a um princípio verdadeiramente enraizado no meu carácter. Passo a explicar: Quando pretendo semear uma ideia em mente alheia, espero que essa ideia vá produzir uma reacção, um efeito; reacção essa e efeito esse, que espero poder vir a resultar em proveito do próprio, desencadeando outras sementeiras e outras colheitas e também em meu proveito, retirando da experiência resultados que me poderão ajudar a perceber aquilo que até ali não tinha sequer pensado.
Quando era garoto, era bastante irrequieto, possuía um espírito vivo e observador. Mal os meus pais se distraíam, já eu estava a "inventar" algo, que por sistema, resultava em asneira.
Certa vez, andaria pelos meus 4 ou 5 anos, ofereceram-me uma trotinete. Foi paixão à primeira-vista, assim que a desembrulharam, senti-me invadir por um forte desejo de correr o mundo empoleirado em cima daquela prancha de madeira com um guiador quase da minha altura, suportada por uma roda à frente e outra atrás, a tal ponto que, ao chegar a hora de dormir, a minha nova "amiga" teve de dormir encostada à minha cama, bem ali a jeito de lhe poder tocar.
Todos os dias era a trotinite o centro das minhas atenções e brincadeiras, apesar das quedas constantes, das esfoladelas e dos arranhões. Mas, com essas quedas e arranhões, nasceu um novo ponto de interesse; as feridas e as crostas. Começou a intrigar-me aquela coisa da crosta que se formava por cima da ferida, sobretudo aquelas que apanhavam uma área maior da pele. Este interesse, levou-me um dia, com muito jeitinho porque fazia doer, a levantar a crosta, para descobrir o que estaria por baixo.
Fui "apanhado" já no fim da "operação". Denunciou-me o silêncio e a quietude a que me tinha anormalmente remetido e que fizeram com que a minha mãe viesse inspeccionar o que se estava a passar.
«Vi logo que não "a" estavas a fazer boa... já estavas sossegadinho ha demasiado tempo»
-Mas que ideia foi essa de arrancares a crosta da ferida?
-Quis ver o que estava por baixo.
-Ah quiseste ver... pois é, então agora vamos ter de fazer novo curativo à ferida e vamos ter de colocar um penso.
-Não quero um penso!
-Mas vais ter de pôr. Não sabes que a crosta serve para proteger a ferida?
-Proteger de quê?
-Proteger de uns bichinhos muito pequenininhos que provocam as infecções.
-Mas eu não tenho bichinhos na ferida.
-Não sabes se tens, eles são tão pequenininhos que não os consegues ver sem uma lupa.
Pronto! Foi o bastante para que nova semente começasse a germinar na minha mente... uma lupa!
A partir daquele dia, não descansei, enquanto não me compraram uma lupa.
Assim que me apanhei com o objecto e percebi as sua enoooormes potencialidades, passei a querer ver tudo através da lupa.
Foi necessário que me explicassem que a lupa servia somente para quando se pretendia observar algo minúsculo, de contrário, correria o risco de ficar cego.
Cego???!!!
Eis que outra ideia me começa a germinar na mente!
Passei a andar de olhos fechados pela casa, imaginando que não via, apalpando as paredes, as portas, e... tropeçando nas cadeiras, estatelando-me ao comprido, batendo com a boca na esquina de uma mesa e partindo um dente incisivo.
Esta, não foi preciso explicarem-me as contra-indicações, demiti-me dela por iniciativa própria.
A minha Amiga Interessada já percebeu concerteza, se estiver a ler este texto, onde pretendo chegar com tão já longo arrazoado: Que o facto de se levantar a crosta, não garante que se consiga ver os micróbios que infectam a ferida, mesmo possuindo uma lupa com forte poder de aumento. Porque simplesmente, a ferida, pode nem sequer estar infectada...
;)))))))