Por vezes acontece ficarmos em silêncio.
Ele, no seu ar sempre estático, como que a dizer-me: estou aqui, porque nunca daqui saí.
Eu, hesitante, questiono-me intimamente se aquilo que ele conhece, confrontado com o que eu conheço, corresponde de alguma forma a uma qualquer realidade.
É estranho, a forma persistente como nos preocupamos em encontrar, em identificar a realidade, uma realidade, algo que caiba sem hipótese de discussão, dentro de um padrão tido como irrefutável.
Estávamos assim, eu e o meu moinho há um par de horas, olhando ambos o horizonte mas, vendo realidades diferentes, quando ele me diz peremptório: o tempo vai mudar.
Hmmm?!
O tempo vai mudar, repetiu-me.
Ah sim? Tens a certeza?
Absoluta!
Talvez me pudesses desvendar a fórmula que te permite chegar a essa conclusão...
Fácil, basta que repares na mudança da direcção do vento. Há pouco soprava de sul, agora rondou para noroeste. Quando soprava de sul, puxava a chuva, agora, começa a afastar as nuvens mais grossas. Se continuar a rondar no mesmo sentido, vamos ter sol em pouco tempo... sol e vento. Adoro o vento, lembra-me os tempos áureos em que o moleiro aqui vinha, alinhava-me de acordo com a direcção do vento, soltava-me as velas e os meus mastros começavam a rodar, impulsionando as mos que transformavam o grão em farinha e farelo.
Sabes Bartolomeu, poucas pessoas dão valor ao farelo, muitos, consideram-no até um produto sem valor, algo a desconsiderar. No entanto, era com ele que se engordava o gado; o porco, a galinha, etc. que eram a base da subsistência de todo esse povo que cavava a terra e que dela retirava o sustento e... a riqueza dos grandes proprietários.
É verdade meu amigo, respondi-lhe. Mas então, dizes que os ventos são de mudança... queres dizer que é lícito manter-se a esperança de que tudo mude, pelo menos, que algo mude, que o sol volte a brilhar?
O vento já mudou muitíssimas vezes, Bartolomeu. Aquilo que ainda não mudou, foi a forma que os homens encontram para aproveitar esses ventos, para tirar partido desses ventos, do mesmo modo que o moleiro o aproveita, transformando o grão em farinha que alimenta a alma e o farelo que engorda a carne. Entender o mundo, passa também pela forma como se vê e entende o nosso semelhante e ainda... pela vontade de construir conjuntamente, de aproveitar a força individual e transforma-la numa força comum, indomável, capaz de se sobrepor aos ventos nefastos, capaz de conduzir a humanidade, de a tornar próspera e sobretudo, consciente.
Adoro o silêncio do meu moinho!
Ele, no seu ar sempre estático, como que a dizer-me: estou aqui, porque nunca daqui saí.
Eu, hesitante, questiono-me intimamente se aquilo que ele conhece, confrontado com o que eu conheço, corresponde de alguma forma a uma qualquer realidade.
É estranho, a forma persistente como nos preocupamos em encontrar, em identificar a realidade, uma realidade, algo que caiba sem hipótese de discussão, dentro de um padrão tido como irrefutável.
Estávamos assim, eu e o meu moinho há um par de horas, olhando ambos o horizonte mas, vendo realidades diferentes, quando ele me diz peremptório: o tempo vai mudar.
Hmmm?!
O tempo vai mudar, repetiu-me.
Ah sim? Tens a certeza?
Absoluta!
Talvez me pudesses desvendar a fórmula que te permite chegar a essa conclusão...
Fácil, basta que repares na mudança da direcção do vento. Há pouco soprava de sul, agora rondou para noroeste. Quando soprava de sul, puxava a chuva, agora, começa a afastar as nuvens mais grossas. Se continuar a rondar no mesmo sentido, vamos ter sol em pouco tempo... sol e vento. Adoro o vento, lembra-me os tempos áureos em que o moleiro aqui vinha, alinhava-me de acordo com a direcção do vento, soltava-me as velas e os meus mastros começavam a rodar, impulsionando as mos que transformavam o grão em farinha e farelo.
Sabes Bartolomeu, poucas pessoas dão valor ao farelo, muitos, consideram-no até um produto sem valor, algo a desconsiderar. No entanto, era com ele que se engordava o gado; o porco, a galinha, etc. que eram a base da subsistência de todo esse povo que cavava a terra e que dela retirava o sustento e... a riqueza dos grandes proprietários.
É verdade meu amigo, respondi-lhe. Mas então, dizes que os ventos são de mudança... queres dizer que é lícito manter-se a esperança de que tudo mude, pelo menos, que algo mude, que o sol volte a brilhar?
O vento já mudou muitíssimas vezes, Bartolomeu. Aquilo que ainda não mudou, foi a forma que os homens encontram para aproveitar esses ventos, para tirar partido desses ventos, do mesmo modo que o moleiro o aproveita, transformando o grão em farinha que alimenta a alma e o farelo que engorda a carne. Entender o mundo, passa também pela forma como se vê e entende o nosso semelhante e ainda... pela vontade de construir conjuntamente, de aproveitar a força individual e transforma-la numa força comum, indomável, capaz de se sobrepor aos ventos nefastos, capaz de conduzir a humanidade, de a tornar próspera e sobretudo, consciente.
Adoro o silêncio do meu moinho!
7 comentários:
Tantos textos para ler! Que Bom! Tenho que voltar, Bartolomeu, para ler tudo com muita atenção. Abraço e boa Páscoa!
Por vezes necessito de silêncio. Deepak Chopra aconselha uma a duas horas de silêncio por dia. Não é fácil. Por vezes, enquanto conduzo desligo o rádio ou páro de ouvir os meus livros falantes. Mas não é a mesma coisa.
O silêncio também é uma comunhão de sentimentos entre duas pessoas mas o silêncio entre nós e a natureza tem outra dimensão.
Sem dúvida Catarina.
Este é o melhor silêncio, aquele em que conseguimos entrar dentro de nós mesmos e auto-analisarmo-nos.
Ali, junto ao meu moinho, porque é um local isolado e fantásticamente bem localizado, propicia-se essa introspecção em comunhão com a natureza e os elementos que a caracterizam.
E olha que quando te digo que converso com o meu moinho... não estou a ser 100% metafórico.
;)))
E eu já estou a gostar desse moinho...sábio, que consegue ver coisas que só os nossos avós conseguiam descortinar, a olho nu, como a mudança do tempo, por exemplo;Também, vê o que se desperdiça, coisas simples, coisas boas, coisas que nos levariam ao encontro de nós mesmos;E que os ventos da mudança só acontecem quando
soubermos ler os sinais, seja nas estrelas, no mundo que nos rodeia ou dentro de cada um de nós.E que, para isso, é preciso haver empenhamento e vontade.
:)
Abraço.
Os moinhos sabem imensas coisas, Olinda. Talvez porque na sua maioria são já muito velhos.
O meu moinho está num local maravilhoso. Dali usufrui-se de uma paisagem maravilhosa. Á noite, ainda é possível mergulhar no céu e navegar por entre as constelações.
Além de tudo, o meu moinho, adora conversar, deve ser por isso que apreciamos tanto, a companhia um do outro.
;)
É bom, quando encontramos o nosso moinho... :-)
O pior Ctistina, é quando olhamos para o nosso moinho, e não somos capazes de ver mais, que um montão de pedras velhas.
;)
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