Ontem, ao final do dia, voltei a visitar o "meu" moinho.
Chamo-lhe "meu", porque o conheço ha 15 anos, já ele se encontrava ha muito reformado, e desde o primeiro dia em que nos vimos, estabeleceu-se entre nós uma relação de amizade e cumplicidade. Quando nos encontramos conto-lhe coisas deste tempo, que ele compara com as coisas do tempo dele. No final, antes de nos despedirmos, soltamos ambos umas boas risadas, porque concluímos que apesar dos séculos que passaram entre as coisas de então, e as coisas de hoje, nada mudou. As pessoas são as mesmas, os campos, os ventos, a chuva o sol.
A minha segunda visita no mesmo dia, deveu-se à minha vontade de lhe contar que tinha colocado um post no meu blog, onde pela primeira vez, o tinha mencionado.
Emocionou-se, agradeceu-me a atenção e quis saber concretamente, sobre o que havia escrito.
O meu moinho já sabe o que são computadores e internet e redes sociais, por vezes, quando o visito, levo comigo o portátil e, encostado às suas paredes, vou escrevinhando as minhas impressões e reflexões. Quando pela primeira vez conversámos acerca deste assunto e lhe expliquei que actualmente a informação circula em tempo real, graças a essa evolução conhecida por internet, contou-me que no tempo dele, os moleiros e por conseguinte os moinhos, por se encontrarem em locais elevados e à vista uns dos outros, comunicavam entre si por sinais préviamente estabelecidos, os quais lhes permitiam saber e transmitir as notícias mais importantes. Como foi o caso em Novembro de 1810, quando as tropas francesas do General Massena, dali retiraram para Santarém.
Ontem, ainda conversámos acerca da ilusão humana em possuir, enquanto para oeste, o sol que viramos nascer, se recolhia, espalhando novamente nos céus aquela poalha incandescente que recorda ao mundo o fogo purificador, e que faz renascer a alma dos seres e os conduz à certeza de um novo amanhã.
4 comentários:
Caríssimo
Para comentar este post fui 'obrigada' a ler o anterior. Uma obrigação deliciosa. Também devo dizer ainda que li o outro, ‘Sinto, o que sinto’. Este então ou é prosa poética ou poesia, tanto faz, e o que nos diz transcende o próprio universo, atingindo as raias de um quinto elemento. Aliás a coisa já se estava a compor desde ‘O Homem’.
As conversas com o seu moinho fazem-me lembrar Les lettres de mon moulin, d’Alphonse Daudet, talvez não pelo conteúdo, não me lembro bem dele, pois li-o há praticamente um século, mas pela referência ao “moinho”. Por que não uma outra coisa? Metáfora ou não o certo é que consegue convencer-nos pela sua localização e também pelo facto de ser antigo. Assim sendo, é normalíssimo que emitisse sinais de fumo para os seus congéneres que, em conjunto, com o reforço das Linhas de Torres Vedras conseguissem desbaratar o Massena, impedindo a sua entrada em Lisboa. De referir que neste momento estamos a precisar de uma conjugação de forças deste género…
Para terminar, devo dizer que é um prazer lê-lo. Estou a segui-lo atentamente. :)
Abraço
Olinda
Caríssima Olinda
Os moinhos são excelentes interlocutores, garanto-lhe eu, que sei muito bem de que falo... escrevo.
Possuem um passado extenso, conhecem várias épocas e têm o privilégio de observar o mundo, do alto.
;)
Estou um pouco desconfiado, que quando converso com o moinho, converso também comigo próprio, isto, na mesma optica do princípio de Monsieur Antoine de Lavoisier.
;)
Quanto ao assunto com que terminas o comentário e citando a minha avózinha, senhora de imenso saber, direi "olha que ha coisas..."
E não é que acabei de escrever um post acerca daquilo que julgo ser de que estamos neste momento a precisar!?
;)
Agradeco o teu comentário!
Eu também quero ter um moinho falante! Não sei onde o colocar mas ainda vou encontrar um!
Quando visitares o teu país, Catarina, reservas uma tarde para conheceres o meu moinho.
Quando regressares ao teu dia-a-dia, lembras-te dele e conversam telepáticamente.
Hmmm?
Quécáxas?!
;)))
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