sábado, 7 de janeiro de 2012

Para que serve uma R e um E...?!

Hoje, acordei cedo, como é meu habito.
Preparei-me e tomei um delicioso pequeno almoço, à janela da cozinha, apreciando o sol ainda baixo, os campos e uma ave de rapina, não sei se um açor ou um peneireiro... ou outra, que pairava a pouca distância e a pouca altura, esperando que um coelho ou outro roedor se distraísse, proporcionando-lhe a primeira refeição do dia.
Estive um bom pedaço de tempo a aprecia-la, até que, repentinamente, saindo daquele ponto estático, picou a direito até ao chão e deixei de a ver.
O ciclo natural da vida a cumprir-se, pensei. Calcei então umas botas grossas, coloquei um boné e saí sem destino determinado, somente andando pelos carreiros entre arbustos selvagens, atravessando vinhas e bordejando campos já semeados.
Cerca de uma hora depois, avistei lá ao fundo uns vizinhos que num campo fresado se atarefavam a fazer algo que não identifiquei do ponto onde me encontrava.
Decidi ir até eles, para melhor perceber o que faziam. Eram quatro, três homens e uma mulher. O terreno terá uma área de dois, dois hectares e meio e quando lá cheguei, já se achava, em parte, "plantado" de pequenos seguementos de cana, todos muito bem enfileirados e muito direitinhos.
Cumprimentei e retribuiram a saudação, sem pararem de fazer o que faziam e que era, usando uma bitola e seguindo a orientação de um arame muito bem esticado, espetar na terra os pedaços de cana.
Fiquei a observa-los durante alguns minutos, tentando perceber a finalidade do que faziam, já que tinha partido do princípio que não andariam a semear canas. Passados alguns instantes, sem perceber concretamente, que tarefa andavam aquelas almas a desempenhar, reparei, olhando para a extenção das canas que já se encontravam espetadas no solo, que, tanto vistas de frente, como de qualquer um dos lados esquerdo ou direito, elas apresentavam-se sempre em filas rigorosamente rectas. Fiquei por ali durante um bom bocado e quando os meus vizinhos já se tinham afastado do ponto onde me encontrava, decidi ir ao encontro deles e indagar a utilidade do trabalho que faziam.
Responderam-me como quem diz: então? não se está mesmo a ver? que andavam a marcar o lugar onde iriam plantar o bacêlo...
Ahhhhh!!!
Então estes pauzinhos são para marcar o lugar do ba... ahhhh... agora compreendi! E ri-me, tanto da minha ignorância, como do ar surpreendido deles.
Depois acrescentei; mas vocês têm um "olho" espectacular... conseguem fazer as fileiras rigorosamente paralelas, umas às outras e todas à mesma distância.
Voltaram a olhar-me com o mesmo ar surpreendido, como se eu estivesse a dizer a coisa mais estapafúrdia deste mundo.
Depois, encolheram os ombros e responderam-me; olhe lá, nada disto é "a olho"!
- Ah não? Então?
- Não senhor, isto é feito com régua e esquadro!
Pronto, pensei, como dei mostras de não perceber o que faziam, agora estão a querer gozar comigo, e esbocei um sorriso amarelo, assim como quem diz: tá bem abelha.
- Não acredita? Então quando formos marcar a outra carreira, já vai ver.
- Nesse caso vou esperar mais um bocado.
E assim fiz, esperei que terminassem de espetar os pauzinhos e para meu enorme espanto, quando chegaram ao fim, ficou um deles no extremo da nova carreira, outro, passou para o outro extremo e os outros dois esticaram um arame na perpendicular e... pegando num enorme esquadro em madeira e numa régua, traçaram a distância certa e a prependicular à fila anterior.
Depois de ver... e de compreender, o espanto dissipou-se, mas uma nova dúvida me surgiu; será que estes bacanos são Maçons?
Nesta não caí eu em perguntar, mas como não usavam avental...

14 comentários:

Interessada disse...

Desculpa, mas não percebi :(

Catarina disse...

Não tinham aventais mas poderiam ter colares... Esses... mais difíceis de ver. : )

Bartolomeu disse...

Qual foi a parte que não percebeste, minha amiga Interessada?

Bartolomeu disse...

Nem isso Catarina.
Já viste bem o tamanhão dos colares que eles usam?!
Se os meus vizinhos usassem também, não conseguiriam baixar-se e lavantar-se com a ligeireza que o fazem.
;))))

Interessada disse...

Olá Bart

Porquê Maçons?

Bartolomeu disse...

Por usarem o esquadro que lhes permite alinhar, tanto à esquerda como à direita e... ao centro, Interessada.

Interessada disse...

Bart

Antes de mais, o meu agradecimento pela tua atenção.
Há um Maçon por quem tenho uma grande admiração, porque foi o pai do Serviço Nacional de Saúde, e porque, que eu saiba, é dos poucos que não tem mancha.
Deixo-te um artigo com um ponto de vista que considero interessante.

Bartolomeu disse...

Muito obrigado, Interessada.
Um texto que vale muito a pena ser lido, porque ajuda bastante a quem anda encandeado com as luzes da comunicação social, a poder ver para além da cortina de fundo.

Cristina Torrão disse...

Agricultura com régua e esquadro... Será mesmo necessário?

George Sand disse...

Gostei sobretudo da régua e do esquadro do horizonte, riscado no voo largo do Açor.
Já vi um Açor. Deslumbrei-me e nunca mais deixei de o ver. Passa-me em sonhos rasantes de memória...voltarei lá para o rever.
Obrigada

Interessada disse...

George Sand

Escreve mesmo, é?
Se não o faz, é um desperdício :D
Por mero acaso, também convive com Chopin?

Bartolomeu disse...

Sim Cristina, é necessário.
A geometria, no caso das vinhas, prende-se com a utilização das máquinas, nos diferentes trabalhos.
Vou-te listar esses trabalhos de Hercules:
-Poda (consiste em cortar os ramos excedentes da videira)
-A alimpa (consiste em retirar do chão, os ramos cortados na poda)
-Impa (consiste em prender os ramos novos aos arames da vinha)
-Cava (Consiste em cavar o espaço entre os pés das videiras)
-Fertilização (consiste em introduzir no meio de cada carreira da vinha, o fertilizante adequado)
-Sulfatação e enxoframento (Consiste em aplicar nas videiras, produtos químicos que combatem as pragas e em aplicar enxofre)
-Espoldra (consiste em retirar uma parte das parras que impedem a penetração do sol na planta e por conseguinte, o amadurecimento do cacho e a obtenção de mais grau)
-A vindima (que consiste em separar os cachos, da planta)
-O transporte (consiste em transportar os cachos vindimados, para o lagar)
Como vês, Cristina, se as filas de videiras não fossem colocadas com uma precisão geométrica, os tractores e as outras máquinas agrículas envolvidas, teríam de andar aos "s" pela vinha...
;)))))

Bartolomeu disse...

São aves fantásticas, George.
O que mais me espanta, é poder de planar sem se afastarem um milímetro do ponto em que decidem parar.
Ha viágens que não devemos adiar, minha amiga... corre-se o risco de já não encontrarmos a ave que buscamos...
;)

Cristina Torrão disse...

Obrigada pela elucidação ;)

Realmente, eu já tinha reparado que as vinhas estão sempre muito alinhadas, mas nunca pensei que fosse a régua e esquadro.

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Estou agora com pouco tempo, venho mais logo ler o teu post seguinte.