segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A Crosta...

Este post, surge a propósito da insinuação (velada) deixada pela minha amiga psicóloga, Interessada, num comentário ao post anterior. Interpretava esta minha amiga, o sentido das palavras que escrevi e, remetendo para Freud, assinalou a possibilidade de eu estar a desenvolver um processo psicológico, conducente ao afloramento de uma homossexualidade latente-o-serôdia.


Felizmente, ou... infelizmente, nunca senti qualquer género de interesse sexual por pessoas do mesmo sexo, ou sequer por andróginos.


Bom, mas não é uma declaração de interesses que me motiva a escrever este texto.


Aquilo que pretendo relatar, são as considerações e memórias a que me conduziu o comentário da minha amiga Interessada.


Quando fundei este blog (gosto do termo "fundei", dá um certo ar importante e solene, à coisa) e nunca fui tipo de grandes obras, apesar de já contar no meu percurso de vida com algumas fundamentalmente importantes; fiz questão de colocar no meu perfil, a frase que penso definir-me com um grau de aproximação àquilo que me considero ser, bastante real.


«semeador de ideias nos campos da mente»


É verdade. O acto de semear sempre me fascinou. Penso poder iguala-lo de alguma forma, ao acto divino da criação. Não faço ideia se no Acto Primeiro a "coisa" decorreu do mesmo modo... se Deus lançou a semente à Terra, esperou que germinasse e no fim, depois de amadurecida, em lugar de se alimentar dela, deixou que o vento a transportasse e até outros lugares onde de novo germinou e amadureceu... não sei, suspeito que sim.


Mas, voltando à minha frase-apresentação: esta definição de mim próprio, reconheço-a em vários sentidos e aspectos da vida e, subordinada a um princípio verdadeiramente enraizado no meu carácter. Passo a explicar: Quando pretendo semear uma ideia em mente alheia, espero que essa ideia vá produzir uma reacção, um efeito; reacção essa e efeito esse, que espero poder vir a resultar em proveito do próprio, desencadeando outras sementeiras e outras colheitas e também em meu proveito, retirando da experiência resultados que me poderão ajudar a perceber aquilo que até ali não tinha sequer pensado.


Quando era garoto, era bastante irrequieto, possuía um espírito vivo e observador. Mal os meus pais se distraíam, já eu estava a "inventar" algo, que por sistema, resultava em asneira.


Certa vez, andaria pelos meus 4 ou 5 anos, ofereceram-me uma trotinete. Foi paixão à primeira-vista, assim que a desembrulharam, senti-me invadir por um forte desejo de correr o mundo empoleirado em cima daquela prancha de madeira com um guiador quase da minha altura, suportada por uma roda à frente e outra atrás, a tal ponto que, ao chegar a hora de dormir, a minha nova "amiga" teve de dormir encostada à minha cama, bem ali a jeito de lhe poder tocar.


Todos os dias era a trotinite o centro das minhas atenções e brincadeiras, apesar das quedas constantes, das esfoladelas e dos arranhões. Mas, com essas quedas e arranhões, nasceu um novo ponto de interesse; as feridas e as crostas. Começou a intrigar-me aquela coisa da crosta que se formava por cima da ferida, sobretudo aquelas que apanhavam uma área maior da pele. Este interesse, levou-me um dia, com muito jeitinho porque fazia doer, a levantar a crosta, para descobrir o que estaria por baixo.


Fui "apanhado" já no fim da "operação". Denunciou-me o silêncio e a quietude a que me tinha anormalmente remetido e que fizeram com que a minha mãe viesse inspeccionar o que se estava a passar.


«Vi logo que não "a" estavas a fazer boa... já estavas sossegadinho ha demasiado tempo»


-Mas que ideia foi essa de arrancares a crosta da ferida?


-Quis ver o que estava por baixo.


-Ah quiseste ver... pois é, então agora vamos ter de fazer novo curativo à ferida e vamos ter de colocar um penso.


-Não quero um penso!


-Mas vais ter de pôr. Não sabes que a crosta serve para proteger a ferida?


-Proteger de quê?


-Proteger de uns bichinhos muito pequenininhos que provocam as infecções.


-Mas eu não tenho bichinhos na ferida.


-Não sabes se tens, eles são tão pequenininhos que não os consegues ver sem uma lupa.


Pronto! Foi o bastante para que nova semente começasse a germinar na minha mente... uma lupa!


A partir daquele dia, não descansei, enquanto não me compraram uma lupa.


Assim que me apanhei com o objecto e percebi as sua enoooormes potencialidades, passei a querer ver tudo através da lupa.


Foi necessário que me explicassem que a lupa servia somente para quando se pretendia observar algo minúsculo, de contrário, correria o risco de ficar cego.


Cego???!!!


Eis que outra ideia me começa a germinar na mente!


Passei a andar de olhos fechados pela casa, imaginando que não via, apalpando as paredes, as portas, e... tropeçando nas cadeiras, estatelando-me ao comprido, batendo com a boca na esquina de uma mesa e partindo um dente incisivo.


Esta, não foi preciso explicarem-me as contra-indicações, demiti-me dela por iniciativa própria.


A minha Amiga Interessada já percebeu concerteza, se estiver a ler este texto, onde pretendo chegar com tão já longo arrazoado: Que o facto de se levantar a crosta, não garante que se consiga ver os micróbios que infectam a ferida, mesmo possuindo uma lupa com forte poder de aumento. Porque simplesmente, a ferida, pode nem sequer estar infectada...


;)))))))

6 comentários:

Interessada disse...

Caro Bart
Tentei apenas aproximar-me do ponto central da questão.
E não ficou provado que não tenha aflorado a ferida, pois que para isso seria necessário um microscópio capaz de identificar os microorganismos, no caso a massa biológica de um semeador de sementes.
Haja saúde! Física e mental.

Bartolomeu disse...

E quem nunca tiver tido (passo o pleonasmo)uma ferida... que atire o primeiro microscópio!
;)
Claro que sim, minha Amiga Interessada; Haja saúde, física e mental, que todas as feridas serão saradas, com mais ou menos crosta, mais ou menos microorganismos.
Microorganismos?! o qué quéisso? são bichinhos?
(Queres ver Bartolomeu, que a Interessada está a insinuar outravez, que és bicha?!)
;)))

Interessada disse...

Não passa nada despercebido :)))))
Estava gaga ;)

Bartolomeu disse...

Mi casa es su casa, Interessada!
;)))

Olinda Melo disse...

Olá, Bartolomeu

Ontem à noite, a desoras, vi lá do meu painel o título do teu post anterior e algumas das primeiras palavras, fiquei curiosa...
Hoje de manhã saí muito cedo e só agora pude aqui vir. Mas, sem ainda ler o referido post eis que encontro um outro 'A crosta', já com um desenvolvimento muito interessante.
Como sabes, gosto muito dos teus textos, daquilo que transmitem levando-nos a pensar ou a repensar conceitos que dizem muito acerca da nossa saúde mental.
Discorrendo, discutindo tornamo-nos mais ágeis em termos de raciocínio e é isso que eu vejo sempre aqui.

Saio daqui sempre enriquecida.

:)

Abraço.

Olinda

Bartolomeu disse...

É também a discussão, que considero o privilégio que a inteligência nos concede, Olinda.
Por isso, aprecio tanto a sua prática, tanto em blogs como na vida do dia-a-dia.
Reconheço que o exercício, aqui,se torna por vezes difícil. Nem sempre se consegue a sintonia de diálogo com quem não se vê e a quem também não aparecemos físicamente. Ficam assim a faltar pormenores importantes para o entendimento e expressão dos pensamentos, tais como as expressões faciais, os gestos, etc.
De todo o modo, nunca deixamos de extrair proveito de uma boa conversa, de uma boa troca de opiniões, originadas muitas vezes pelas leituras de bons posts.
E neste campo de leituras, sem referir nomes, devo dizer-te que conheço alguns blogs onde a escrita é deveras educativa, e gratificante.
;)