O burro do Ti Xico comeu-me os marmelos todos.
Não eram muitos, não passariam de uma dúzia, mas estavam lindos e eram os primeiros que a árvore produzia desde que há 2 anos a plantei.
-Não é burro! É macho espanhol, afirma o Ti Xico pela enésima vez, colocando algum ênfase na frase. Eu, para o arreliar, refiro-me sempre ao Gaspar, designando-o por burro.
-Você não vê que um burro é mais pequeno...?!
-Para mim é burro, Ti Xico. Tem aspecto de burro... se é maior ou não, não sei. É burro!
-Ah!!! É macho! É filho de burro com égua, por isso não é burro...
Quando ontem ao fim do dia me dirigi ao pomar, para regar as árvores, topei com o Gaspar lá ao fundo a tasquinhar os últimos marmelos.
-Ah malvado! Salta daí, burro maluco! Seu sacana, comeste-me os marmelos todos...
O Gaspar espetou as orelhas, esticou as beiçolas, e mandou dois ou três zurros, que me deixaram sem perceber muito bem, se me estava a agradecer, ou a mandar bugiar.
Quando cheguei mais perto, percebi que se tinha soltado da corda com que o Ti Xico o prende a uma estaca e então, decidira provar os meus marmelos.
Passada a zanga e depois de voltar a prender o Gaspar no sítio, lembrei-me de uma certa tarde de verão; teria uns doze anos e ajudava uma vizinha dois anos mais velha, repetente, a preparar-se para os exames de segunda chamada.
Rosa, vinha quase todos as tardes a minha casa, para rever a matéria dada durante o ano lectivo e tentar esclarecer dúvidas. Ficávamos numa pequena sala de costura, que dava para as traseiras da casa, sentados a uma mesa redonda, onde com enfado, a Rosa estendia livros e cadernos e ficava especada a olhar para mim, esperando pelo milagre de uma injecção de sabedoria.
Eu, tentava "espremer" da miúda as dificuldades que sentia, para tentar explicar-lhe aquilo que necessitava saber para passar nos exames.
Rosa, passava o tempo a divergir para conversas que nada tinham a ver com a matéria e que não colhiam minimamente o meu interesse.
Naquela tarde, apareceu de saia azul e blusa branca.
Vinha diferente.
Parecia que transportava uma luz, um brilho, algo que me provocou uma sensação de nervosismo e que não consegui perceber muito bem.
Sentou-se à minha frente como de costume. Poisou os livros e os cadernos sobre a mesa e ficou a olhar-me de frente, com um leve sorriso a bailar-lhe nos lábios.
Notei que tinha dois botões da blusa branca, desabotoados. Notei que sob o tecido semi-transparente da blusa, dois pontos rosados, faziam o tecido levantar.
Petrifiquei o olhar naqueles pontos.
Os sentidos em alvoroço e uma atrapalhação indescritível, assaltaram-me. Como que sob um efeito hipnótico, o olhar fixo nos rosados mamilos de Rosa, condicionava-me o raciocínio.
Sem proferir uma palavra e sem desviar o seu olhar do meu, Rosa, pegou-me na mão direita e colocou-a sobre o seu seio direito.
-Mexe! disse ela baixinho, mantendo sempre o mesmo sorriso e o olhar fixo no meu.
Não mexi. Toquei ao de leve, o suficiente para sentir a maciez da pele, a rijeza do mamilo, o calor da carne.
Rosa, colocou então a sua mão sobre a minha e exerceu alguma pressão. Tentei retirar a minha, mas Rosa segurou-a e conduziu-a até ao outro seio, igualmente macio, rijo e quente, semi-cerrando os olhos e soltando um leve gemido.
Senti o rosto afogueado, invadiu-me uma sensação de embriaguez, algo que nunca tinha sentido até ali. Sobre as calças, elevou-se um feroz desejo de algo que não sabia identificar mas que me impelia a abraçar e beijar Rosa.
Assim foi, mas dali não passou.
Rosa, recolhendo os livros e cadernos, levantou-se de um salto e anunciou que se tinha esquecido de um compromisso, que tinha de ir embora.
Saiu.
A natureza cumpriu a sua parte!
Alguém inventou o ditado: "O primeiro milho é dos pardais". Esqueceu-se de acrescentar: "Os primeiros marmelos são do burro".
Ai... do burro não. Do macho espanhol!
;))))))
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
10 comentários:
Pensando na tristeza
entre a distância e o tempo
venho acabar aqui
neste sofrido lamento
de teres perdido os marmelos
que o Gaspar - de burro nada tem -
os comeu sem gastar vintém :)))
e acabando por te lembrar
uma Rosinha doutros tempos
que te deixou em pensamentos
Ai Bartolomeu
que tormento o teu! ;))))
tudo por causa de burros e machos
e de marmelos sem tachos! ;)))
Já por aqui ando
mas não prometo assiduidade...
dentro de poucos dias
começa a minha rodagem pela cidade
e o tempo e a distância
tira um pouco desta minha vadiagem
respiro/expiro e coragem! :)))
deixo-te um abraço e um sorriso
"aquele conduto" que na vida é preciso
Pois é, minha amiga bailarina... diz o ditado, que "guardado está o bocado, para quem o ha-de comer".
E é bem verdade!
Quem me diria que o Gaspar, iria provar os marmelos antes de mim?!
;))))
Desenvolvimento inesperado este!Eu a contar que a história andasse à volta de marmelos, da época dos marmelos, já estava a preparar um comentário à maneira sobre o incrível doce, marmelada, que a minha avó fazia e que durava o ano inteiro.
Mas assim também não está má, não!A época em que as hormonas começam a saltitar tem o seu encanto. E nada mais certo:'Guardado está o bocado para quem o há-de comer'...
:))
Abraço
Olinda
Lamento ter defraudado as tuas expectativas, Olinda...
De qualquer forma, a receita da avó, é muitíssimo bem vinda. O Gaspar comeu os marmelos, mas deixou o marmeleiro, o que permite, ao confirmar-se o ciclo da natureza, que no próximo ano, haja novos marmelos. E nessa altura, vou estar de sentinela, não vá o maroto do burro, soltar-se novamente.
Aiiiii... o burro não. O macho espanhol!
;)))))
Nunca vi ninguém aqui comprar marmelos. Mas devem comprá-los porque os supermercado os tem... em pequena quantidade, mas tem...
O burro não se engasgou com tantos marmelos de uma só vez? Coitado do animal que nem sequer teve água para “regar” um fruto tão seco!
As meninas são muito atrevidotas. A Rosa a querer tirar o Bartolomeuzinho do seu mundo ingénuo! : )
Catarina; os chineses também se engasgam por comer arroz a toda a hora?!
;)))
Que saudades daqueles tempos de ingenuidade... como dizem aqui os meus vizinhos do campo "havia de ser hoje... havia, havia"
;)))
Caro Bartolomeu:
De burro é que o Gaspar não tem nada; demonstrou até uma arguta inteligência e uma enorme sensibilidade. Sabia que ao comer os marmelos iria provocar a alguém a memória de uns outros "marmelitos", talvez mais verdes, na altura, mas porventura até mais saborosos. E se assim o pensou, melhor o fez. Objectivo consumado. Mas creio que o Bartolomeu censurou no texto o seguimento da "história" ...
Ehhhhh... quer dizer... censurar... censurar, não. Omiti.
;)
Ha coisas que dado o seu carácter, não podem passar as portas da íntimidade. Se o fizessem, correriam o risco de a sua memória se perder para sempre.
;)
Agradeço-lhe a gentileza da visita, caro Dr. Pinho Cardão.
Passo muito por aí, caro Bartolomeu. E gosto.
Honra-me, com tamanha distinção, caro DR. Pinho Cardão.
;)
Postar um comentário