... desci ao Martim Moniz, estacionei novamente o carro e saí.
Deste largo imenso, a que foi dado o nome do cavaleiro que valorosamente sacrificou a vida, atravessando o corpo na porta do castelo de S. Jorge, permitindo assim, aos guerreiros de D. Afonso Henriques conquistar o castelo, posso avistar a muralha poente, encimando a encosta por onde se estende o casario que compõe o bairro da Mouraria. Em meu redor, para além dos tapumes que tentam resguardar dos olhares, umas obras, vejo sujidade, noto o ar impregnado de cheiro a urina e uma profusão de gente originária de outros países. Os trajes que envergam e as fisionomias, identificam-nos como sendo oriundos de países asiáticos e africanos. Lugares onde o meu amigo Portugal levou a língua de Camões, a religião Cristã, a pólvora, a alfabetização, com quem comerciou, a quem explorou e escravisou, mas onde deixou cultura e obra.
Decido então, dirigir-me a pé até um largo próximo, a Praça da Figueira.
Aqui, neste largo, em cujo centro me detenho, admirando a estátua equestre de D. João I O "De Boa Memória", primeiro da dinastia de Aviz, primeiro na expansão marítima; a diáspora que levou o meu Amigo à descoberta do Mundo, tranportado pelas asas do vento e do sonho, sinto que é escusado perguntar por Portugal, decerto já ninguem se recorda dele.
Desço a rua da Prata, até ao Terreiro do Paço. Vou em frente, olho o Cais das Colunas, o Tejo... não; nem sinais do meu Amigo. Volto-me e retomo o caminho, passando pelo centro da Praça. Paro junto à estátua equestre do Rei D. José I. Esta estátua, este Rei, não me dizem nada, ou então... dizem pouquíssimo. Sinto-me desanimado e decido regressar, escolho a Rua Augusta, mas, assim que dou os primeiros passos, encandeio-me com uma estranha luminosidade. Coloco a mão em pala sobre os olhos e percebo que o sol, batendo de chapa no mármore do Arco, ao início da Rua, reflecte com imensa intensidade. Paro. Olho com redobrada atenção para aquele conjunto arquitectónico e escultural, após fitar, uma a uma, as estátuas crípticas que o encimam e representam a Glória, coroando o Génio e o Valor, detenho-me na frase inscrita em latim «VIRTVTIBVS MAIORVM VT SIT OMNIBVS DOCVMENTO.PPD», “Às Virtudes dos Maiores, para que sirva a todos de ensinamento. Dedicado a expensas públicas”.
Bateu-me fundo esta frase e o seu significado, transportando-me directamente para um tempo e um espaço já esquecidos, o tempo em que o meu Amigo Portugal alcançou a Glória, sendo Genial e Valoroso. Mas para que nunca o possamos esquecer, a frase termina como um pai quando fala para os seus filhos: "para que sirva a todos de ensinamento".
Bom, segui depois viágem, sempre com a imagem do Arco da Rua Augusta, bem presente na minha memória...
19 comentários:
Se eu fosse a ti, escreveria uma carta “a quem de direito” com o objetivo de o/a/os/as recordar dessa frase! : )))))
Olá minha Amiga Catarina!
Espero que o teu Natal te tenha trazido mais felicidade.
"a quem" enviar uma carta, existem vários... "de direito" é que, francamente, não me ocorre ninguém.
;))
: )
Feliz Ano Novo, Bartolomeu! O melhor para ti e tua família!
Abraço amigo. : )
Evocando aqui Portugal, o Amigo, fizeste-me recordar por uma associação de ideias que talvez não tenha razão de ser, 'Frei Luís de Sousa', de Almeida Garrett, quando é perguntado a D.João de Portugal 'Quem és tu?' e ele responde: 'Ninguém'.
Um périplo pela cidade de Lisboa,com História e, ao mesmo tempo, reparando no meio envolvente.
Muito bom.É muito bom reflectirmos sobre os dias de hoje, fazendo uma retrospectiva para que a Memória não se perca.
Meu amigo, reitero os meus votos de um Feliz Ano Novo.
Abraço
Olinda
;)
Olinda,
Quando "mapeei" mentalmente este pequeno périplo pela cidade de Lisboa, tão rica em lugares e monumentos evocativos de personagens e factos da nossa Nacionalidade, pensei em, depois de evocar a figura de D. João I e da sua acção governativa, ao chegar à Praço do Comércio, à vista de Almada, evocar o mito do Sebastianismo, baseando-me precisamente na peça literária de Frei Luis de Sousa e evocando o palácio de Manuel de Sousa Coutinho.
Não o fiz, porque considero essa, uma fase negra da nossa história, que resultou em 60 anos de ocupação espanhola e em que a nossa nacionalidade quase se perdeu.
Hoje, estamos prestes a perdê-la novamente, desta vez para os chineses, que se preparam para nos conquistar económicamente.
Entretanto, não deixemos de nos desejar um 2012 com saúde e sem desmoralismos.
Ah!
Já agora e... a "talho de foice", gostaria de relembrar Nostradamus e bandarra e as suas predições... «do oriente virá um gigante que subjugará o mundo a ferro e fogo... mas que será vencido por um pequeno reino do extremo da Europa».
A estarem certas estas predições, é bem possível que Portugal volte a desempenhar um papel crucial neste mundo em constante mudança-
Mantenhamos então bem viva a esperança, minha Amiga Olinda.
;)
Igualmente Catarina!
Que o Ano Novo nos seja próspero e nos mantenha acesa a chama da esperança!
;)
Olá semeador de ideias nos campos da mente!
mesmo que depressinha tinha de aqui vir...evidentemente!!!
Li e sorri e achei interessante...
e então Nostradamus?!...que visão
tão estonteante!!! :))
...mas a bem da verdade vim por ser o primeiro dia do resto do ano, para te desejar sonhos concretizados sem qualquer engano!!!!
tudo de bom amigo Bartô...e daqui me vou para outra paragem, pois sabe Deus da minha viagem;)
um abraço festivo, em sementeira de esperança vestido!
Olá, minha Amiga Bailarina!
Agradeço os teus votos e desejo-te um excelente ano de 2012!
Ahhh! E que a inspiração poética se reforce!
;)))
A Mouraria cheira a urina?
Se visitares a Casa da Achada só encontrarás cerveja, mas em doses industriais.
Para algum lado ela tem de ir, amigo.
Cheira bem, cheira a Lisboa....
Pois... é isso Interessada.
A Câmara de Lisboa é que podia distribuir uns penicos pela cidade, de forma a poupar os passeios...
;)))
A Câmara já subsidia as actividades culturais da referida casa.
Será que os penicos não estão abrangidos? Hei de perguntar à Helena Roseta.
Imagino que a Senhora, culturalmente, pouco entenda de penicos, o que, por si só, não exclui a utilidade e oportunidade dos mesmos...
;)))
Catarina são 10 milhões de cartas :)Bartolomeu adorei este post, és uma admiração e orgulho, gosto de aprender/relembrar/adicionar conhecimentos contigo.
Oiiii Crotalus!!!
Ainda bem que encontraste motivos interessantes para ler este post...
Para aprender... bom, para partilhar algum conhecimento, talvez seja mais correcto, na medida em que, cada um de nós, sabe sempre algo que o outro ainda não conhece.
;))))
o PPD já cá estava no tempo dos romanus?
Vir ti bus?
axo que foi uma mensagem da sibila da época sobre as futuras greves da carris...
latim logo me salta nas grenhas
folgai qu'essa'outra tenhas
mais viva ca lengua morta
e ceteris par i bus
nem quo vadis par i bis
Magnífico penteado, Patogen!
A espiral, partindo do centro, simboliza o desenvolvimento do raciocínio, verdade?
;)
O embrião daquilo que vieram a ser as ideologias partidárias, já cá está desde muito antes dos Rumanus... penso. Talvez desde o primeiro homem...
;))
Estranha linguae a tua, Τροίας.
Acho que parea te entender, vou precisar de passar um ano numa ilha da Grécia antiga... talvez escolha a de Lesbos... antes, vou ver as ofertas turísticas, depois decido.
;)))
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