sábado, 15 de outubro de 2011

O Meu País.

O meu país, falece.
E falece porquê, pergunto-me, olhando à minha volta, fazendo uma rectrospectiva daquilo que conheço do meu país e das suas gentes... e posso dizer que conheço bastante, sem que o conheça totalmente.
Um país, porque também é composto por gente, encontra-se em permanente mudança. É verdade mas, não compreendo que essa permanente mudança, possa ser a causa da doença súbita que o atacou e o debilita, sempre mais, a cada dia que passa.
Ha uns anos, conheci uma historieta de bolso, que contava a conversa entre os vários órgãos do corpo e a importância vital que cada um atribuía a si mesmo, afirmando todos, e cada um por si, que se "entrassem em greve", o corpo adoeceria, ficaria febril, entraria em estado comatoso e faleceria.
Não precisamos possuir formação médica para perceber a evidência. Basta que um dos nossos orgãos vitais, pare de funcionar, para que o corpo comece a colapsar e acabe mesmo por falecer.
Mas a verdade, olhando bem à minha volta, é que, este imenso corpo que somos todos nós, parece por um lado querer desistir de funcionar, mas por outro percebe que se o não fizer, falecerá inevitávelmente. Esta dualidade de sentimentos, traz o meu país e as suas gentes numa completa desorientação, numa imensa ansiedade.
O cérebro lateja-nos, porque os intestinos não evacuam, esses não o fazem, porque o estômago não lhes fornece a matéria necessária para fabricar o quilo que enriquecerá o sangue. O coração, tasquinha uma ração de sangue pobre, fraco, mediocremente oxigenado por uns pulmões atrofiados.
Em reunião de conselho, os orgãos declaram-se impotentes para manter vivo um corpo que afinal, possui tudo o que necessita para readquirir a saúde... menos o ânimo, menos a convergência de vontades, menos a visão de futuro, menos o entendimento e a consciência concreta do presente.
O meu país falece. Mas, EU não quero que ele faleça!
Eu já conheci o meu país saudável, não rico, mas sustentado e a atingir a sustentabilidade. Já conheci as suas gentes felizes, laboriozas, produtivas e produtoras. Eu continuo a ver o meu país e as suas gentes, capazes de se renovar, mudando o paradígma actual, importado de uma realidade que não lhe pertence, para um modelo genuíno que é nosso, adaptado às nossas reais qualidades, desejos e competências.
Segundo Pessoa e Agostinho da Silva, ainda não nos cumprimos, Portugal ainda se não cumpriu... Cumpramo-nos!

6 comentários:

Catarina disse...

Não fosse o assunto estar revestido de tanta gravidade, dir-te-ia, “ficam-te bem esses sentimentos”.
Sente-se a tua dor e, simultaneamente, essa esperança que ainda te aquece o teu ser. Esperança que o teu país se cumpra. Enquanto os teus governantes continuarem a “alimentar a pobreza”, os pobres farão sempre parte da tua sociedade. E esses (os pobres) é que deviam desaparecer no enquadramento social.
Boa sorte!

Olinda Melo disse...

Olá, Bartolomeu

Uma excelente reflexão com uma 'radiografia' real do que se passa. Com os órgãos vitais a soçobrar, os outros deixam de ter capacidade para garantir o suporte de vida.

Cumpramo-nos...dizes bem!

Bom fim de semana.

Olinda

Bartolomeu disse...

Para que os pobres deste Meu país, possam deixar de o ser, Catarina... temos de aprender a reconhecer-nos.
A reconhecer-nos na igualdade da nossa condição humana, na igualdade dos nossos direitos e na igualdade das oportunidades. Em suma, os fundamentais artigos da nossa Constituição, deveríam passar a ser ensinados na escola, em paralelo com a tabuada, logo após a prendizagem do conhecimento das letras.
Enquanto aqueles artigos servirem somente para ilustrar umas quantas folhas, e para o Senhor Presidente da República os evocar quando pretende vectar uma lei, os pobres deste país, sobretudo os de espírito, continuarão a fazer os possíveis para que o número de outros pobres, os de recursos, aumente.

Bartolomeu disse...

Amen, Olinda!
Bom fim de semana!
;))

Cristina Torrão disse...

"um corpo que afinal, possui tudo o que necessita para readquirir a saúde..." - mas parece estar espartilhado. Será a União Europeia maldição, ou bênção?

É complicado, caro Bartolomeu.

Bartolomeu disse...

Complicadíssimo, Cristina.
Uma questão em que as opiniões se dividem e em que temos a sensação, que cada opinião não é errada.
Desde sempre, a minha opinião, foi de que a união, é e será sempre a maior força humana, mas, se acompanhada de outros predicados, tais como, a humildade a que te referes no post do teu blog. Mas uma humildade que não pretenda humilhar, mas sim, igualar.