quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Bartô & Amélie

Amélia... Amélia...!
Ainda um pouco ofegante, cheguei perto de Amélia que se mantinha estática de frente para o mar e para aquele luar imenso que tornava a sua silhueta mais brilhante e enigmática.
-Consegues imaginar onde nos encontramos, Bartolomeu?
Com o olhar perdido no infinito, Amélia lançou-me esta interrogação.
- Cabo da Roca, suponho, estarei enganado?
- No tempo em que nos encontramos, ainda não ganhou esse nome, virá a chamar-se assim, daqui a alguns séculos...
-Séculos?... mas então, em que época nos encontramos?... ou seja, em que ano estamos? que data é hoje?
- Hoje não tem data Bartolomeu, hoje não existe ainda, encontramo-nos antes do início dos tempos de que tu tens conhecimento.
- Ah pronto, assim já nos começamos a entender! O que me estás a dizer concretamente, é que morri, e estou algures, esperando uma passagem para outro algures, é isso?
- Não sejas palerma Bartolomeu! O facto de até aqui teres aprendido a reger a tua vida por um calendário repleto de datas e de acontecimentos situados ereméticamente nessas datas, não é de modo nenhum a confirmação de que outro tempo não exista, inclusivamente, paralelamente ao outro.
-Ah sim, a tal questão de Einstein, da relatividade e do paralelismo, ok! Então diz-me lá uma coizinha só, Amélinha do meu coração... qual dos dois tempos é que existe na verdade?
- Não gozes Bartolomeu, ambos os tempos existem paralelamente, a questão é que, não consegues ter consciência de ambos em simultâneo, entendes? Aliás, esse senhor que referiste, ensinou-te isso, quando te enunciou as teorias da quântica.
-Xacáver Amélia, queres dizer então que neste momento, me encontro preso num determinado hiato de tempo, apesar de o tempo que serve de referência à minha existência consciente estar a decorrer em simultâneo, é isso?
-Hmmm, não se trata propriamente de um hiato, mas para que possas perceber melhor, digamos que sim.
-Ah, muito bem, e é a ti que fico a dever tamanho prodígio?
-Vê se entendes de uma vez Bartolomeu, nada daquilo que estás a viver se fica a dever à minha vontade, mas sim e somente à tua. Quando formulaste o teu desejo na noite de ano novo.
-Sabes querida Amélia? Já estou fartérrimo de formular desejos, tanto em ocasiões vulgares, como em especiais e somente esta se foi concretizar, isto é que eu chamo de sorte hein...
-Pois meu querido, mas como te disse, nesta questão, sirvo somente de intermediária num processo.
-E... quando é que toda esta história irá terminar?
Amélia fingiu que não escutou a minha pergunta e, após alguns momentos, voltou-se na minha direcção e, exibindo novamente o seu sorriso encantador, perguntou-me...
-Conheces a lenda que está ligada ao Cabo da Roca, Bartolomeu?
-Lenda? Nem sabia que neste tempo em que estamos, já tinham inventado as lendas.
-Deixa de gozar Bartolomeu e, se aceitas um conselho, aproveita esta experiência extraordinária que muitíssimo poucos mortais tiveram ainda oportunidade de viver.
-Ok Amélia, venha então de lá essa tal lenda.
Amélia aproximou-se e depositou nos meus lábios um beijo apaziguador, iniciando a narrativa da lenda.
- Esta lenda irá ocorrer num tempo posterior àquele em que nos encontramos, mas muito anterior àquele de onde vieste. Irá passar-se neste preciso lugar e, passar-se-ha do seguinte modo... num pequeno lugar próximo deste, irão morar um menino de 5 anos e sua mãe. Certo dia a criança desaparecerá e a sua mãe procurá-lo-a em vão por todos os cantos da aldeia. Uns dias após o seu desaparecimento, uns pastores que irão passar por este local, ouvirão, vindo de um fundo buraco na rocha, o choro de uma criança. Alarmados, irão ver e perceberão tratar-se da criança desaparecida. Correrão imediatamente até ao lugar e avisarão a mãe desesperada e os restantes habitantes. Imediatamente correrão todos ao local e, conseguirão retirar o menino do buraco. Abraçada ao seu filho, soluçando de alegria, a mãe desesperada, ouvi-lo-à relatar o acontecido. Umas mulheres, haviam-no levado pelos ares e deitado naquele buraco. Porém logo depois, aprecera uma senhora muito linda e luminosa que o tinha acalmado e todos os dias lhe levava uma sopinha de rosas, com que se tinha mantido todo aquele tempo. Perante tanta alegria e contentamento, decidirão, mãe e aldeãos, seguir em romaria como forma de agradecimento à capelinha de Nossa Senhora. Logo que entrarem no templo e o menino vir a imagem de Nossa Senhora, exclamará... Mãe, foi aquela a Senhora que todos os dias me levou a sopinha!!!
Vês Bartolomeu, como é possível que dois tempos diferentes coexistam?

19 comentários:

Rosa dos Ventos disse...

Acho que a Senhora até ia de mula e os cascos ficaram gravados na rocha!
Ou não é neste cabo?
Ou estou fora do tempo e do espaço?
Continuo em suspense...

Abraço

Bartolomeu disse...

lolololol
Estás a competir comigo em capacidade imaginativa, Rosinha?
hehehehehehehe

Anabela disse...

Continuo a achar que estás na Nazaré, naquela terra onde as Festas de Nª Srª são feitas no Sitio :o)

BF disse...

Neste episodio revi um pouco do livro "stravaganza" na questão dos tempos paralelos. De qualquer das formas estou curiosa porque ago´ra a estória está a ficar santinha!!!!!

Beijos
BF

lenor disse...

Quer dizer, para se poder contar-te qualquer coisa tens de ser primeiro beijado? Senão não paras de gozar? Que reguila!

Bartolomeu disse...

Obviamente Anabelinha, que as festas às senhoras, nunca poderão ser feitas fora do sítio. Pois correm o risco de não ser festas, mas sim... sei lá... outra coisa qualquer...
lolololol
Esta rapariga está-me sempre a pregar rasteiras.

Anabela disse...

Essa do "fora do sitio" é mto relativo.....
Até parece que estás a falar do sitio "certo" como medida standard.
:o)

Beijos e bom fds!

Bartolomeu disse...

Calma Papoilinha linda, logo, logo, a santidade vai-se esfumar, vais ver... nem vais acreditar.
;))))

Bartolomeu disse...

Quer dizer , Leozinha querida, não é forçoso que seja beijado, mas... o beijo em mim funciona como um excelente catalizador...
;)))
Se não for beijo... pode ser... hmmmm... beijo! é... beijo, pode ser beijo meismo!!!

Bartolomeu disse...

Claro que para encontrar o sítio "certo", é sempre necessário que se faça um reconhecimento demorado dos sítios...
oras... apressadinha!!!

Anabela disse...

Ah ah ah
Vá lá, safaste-te!

;o)

... disse...

Esta história fascina-me....
aguardando desenvolvimentos.

ALeite disse...

Venho por aqui e sou sp obrigado a regressar. Um abração.

Divinius disse...

Gostei de ler:)

A LUZ QUE TE DEIXO É DA COR DA MINHA VIDA:)

R disse...

Bom texto.

Como prometido regresso sempre para ler.


Estou de volta num novo "formato".

O seu,


Vicissitude.

Carla disse...

fica a curiosidade...
beijinhos

*Um Momento* disse...

E aqui te vim ler... e até me apetecia uma sopinha:))))


Deixo-te um beijo saudoso!!!

(*)

... disse...

Então, não há mais????? Beijinho e bom Wk

isabel mendes ferreira disse...

eu venho e re.venho.


leio. volto a ler.


hoje digo.

excelentérrimo.


!!!