Passámos um tempo indeterminado naquela extasiante admiração, saímos dela quando Amélia, tocando a minha mão me convidou a fazer-lhe companhia para o pequeno almoço.
Aceitei. Saí do carro, abri-lhe a porta e prontifiquei-me para a ajudar a saír. Olhou-me com alguma altivez e declarou: não precisas incomodar-te consigo perfeitamente saír, basta que me ofereças a tua mão. Assim fiz, delicadamente pousou a sua sobre a minha e sem dificuldade abandonou o banco do carro. Quando subíamos a breve escadaria em pedra da mansão, a vetusta porta em madeira de carvalho trabalhado, na frontaria do edifício abriu-se, mostrando a figura austera de um mordomo, que fazendo uma ligeira vénia reverencial, cumprimentou a minha mais recente amiga, dirigindo-lhe um: Bom dia Srª. Marquêsa.
Marquêsa? Oh com um raio, e agora? Como é que se toma um pequeno almoço à mesa com uma marquêsa?
Talvez adivinhando as minhas cogitações e inseguranças, pediu-me que lhe oferecesse o meu braço e sossegou-me dizendo: Bartolomeu, a aristocracia de hoje, não faz questão em observar as mesmas regras espartilhantes de outrora. Não nos tornámos trogloditas, mas aligeirámos, ou se preferires, ajustámos as etiquetas seculares aos tempos actuais. Por isso descontrai-te e sê tu próprio, só assim, poderemos sentir prazer na companhia um do outro.
Não pude evitar um riso denunciador de algum nervosismo e decidi seguir o conselho de Amélia, descontraindo-me.
Desde que saímos do carro, notei que Amélia se tinha transformado um pouco, quase podia afirmar que a via rejuvenescer, notava-lhe mais agilidade, mais vitalidade no rosto e no sorriso. O seu passo era firme e elegante, a postura um misto de altiva e diligente e o trato subtil e carinhoso, uma verdadeira dama aristocrata.
Chegádos à salinha onde iria decorrer o pequeno almoço e onde a mesa se achava já posta, convidou-me a sentar ao seu lado. Afastei o seu cadeirão, e voltei a colocá-lo para que se sentásse e em seguida ocupei o lugar que me havia indicado.
Em seguida, Amélia fez sinal à empregada que entretanto aparecera rigorosamente fardada e empurrando um carrinho de copa repleto de pratos e travessas tapados por campânulas, para que nos servisse.
Foi-nos servido um pequeno almoço a que noutra situação, chamaria um almoço, mas que me soube divinalmente. Terminada a refeição, Amélia fez questão de me contar abreviadamente a história daquele palacete desde a sua construção, passando de relance pelas origens da ancestral família a que pertencia.
Em seguida, Amélia voltou a fixar o seu olhar doce e penetrante no meu e declarou que desejava que lhe satisfizesse um desejo.
Com todo o gosto, declarei-lhe.
-Desejo que passes o dia na minha companhia e se te apetecer descansar um pouco, tens um quarto pronto para te receber.
Tentei declinar a oferta, desculpando-me com o incómodo que iria causar. Recusou as minhas desculpas, declarando-se ofendida se eu não aceitásse.
Um pouco embaraçado, decidi aceder.
Amélia tocou uma campaínha que se encontrava sobre a mesa e de imediato apareceu o mordomo que nos tinha aberto a porta.
Jarbas, conduza o Sr. Bartolomeu ao quarto azul.
Certamente Senhora Marquesa. E voltando-se para mim, indicou-me o caminho a seguir.
Despedi-me de Amélia que se manteve sentada à mesa do pequeno almoço e se despediu também, enviando-me um sorriso algo enigmático. Senti de novo um tremendo arrepio que me percorreu a coluna vertebral, porém, ao contrário do anterior, este revelou-se-me bastante desconfortável.
quarta-feira, 9 de janeiro de 2008
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8 comentários:
Como é que irá acabar a história da Marquesa?
Será que vai aparecer uma outra marquesa daquelas onde nos deitamos ou uma marquise?
Marquise não! É demasiado pequeno-burguês para um ambiente tão raffiné...
Será que no próximo capítulo já teremos o Bartô elevado à categoria de D. Bartolomeu de Messines?
Espero que o colchão do quarto azul seja confortável...
2008 já cá canta e muito bem, corre e corre em direcção ao futuro, vamos agora atrás dele antes que nos ultrapasse.
ahahahahahhaha
Excelente imaginação querida Rosa, mas... tal como nos negócios... o segredo é a alma das escritas.
ahahahahahah
Um beijão Rosa e fica atenta aos próximos desenvolvimentos.
Vamos ver se daqui a um tempo não vamos descobrir que a marquesa tem um estábulo por trás da mansão, onde guarda um burro... muito amigo?
hmmmm... não me parece neste relato o unico burro que entra é o Bartolomeu.
ahahahahah
Olá meu amigo Rui!!!
Um excelente 2008!!!
Em direcção ao futuro... SEMPRE!!!!
ahahahaha
Um abração!!!
Será que é no próximo post que nos dás a conhecer o desfecho do enigma??
I'm still waiting...
Bjs
Olá Paula, minha amiga!!!
De maneira nenhuma!
Ainda é cedíssimo para concluir este enredo.
Acho que tanto o escritor como os personagens ainda vão ter muito para caminhar, antes de atingirem o climax.
Espera lá... eu escrevi climax?
Oh diacho, parece que já estou a levantar parte do véu.
;))))))))
Um beijão, Paulinha!!
Não consigo adivinhar o fim. Mas que interessa o fim se o meio está tão bom?
ahahahahahah
Ora aí está oma observação demonstrativa de uma grande sabedoria!
É evidente querida Leozinha, se o meio é bom e temos a garantia que o fim não vei deixar de acontecer, então aproveite-se o meio ao máximo, sem que no entanto se antecipe o fim. Ele acontecerá natural e inevitávelmente.
Conserve-se então o meio, por forma a chegarmos paulatinamente ao fim.
ahahahahha
um beijão Leozinha!!!!
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