sábado, 30 de junho de 2012

O Salgueiro-Chorão e a Figueira "Pingo-de-Mel".

Aquela árvore, ali, foi plantada por mim.
Abri um buraco fundo na terra,  coloquei a raíz da pequena árvore lá dentro, mais, um palmo do tronco, depois tapei tudo...num gesto mecânico... sem prestar atenção a pormenores, ou a técnicas de cultivo.
É um chorão. Um salgueiro chorão. Uma árvore comum das margens do Tejo, na zona do Ribatejo.
Não possui um tronco forte... mas os ramos, com as suas folhas comprindas, pendem como uma cabeleira, chegando a  tocaro chão.

Por vezes, meto-me debaixo do Chorão, com vontade de chorar. deixo-me envolver por aquela profusão de ramos que pendem até ao chão  e que formam uma perfeita cortina, capaz de me separar do mundo, mantendo-me em simultâneo nele.
Não consigo chorar debaixo do meu chorão.
Aquela árvore sou eu; irrequieta, brincalhona. Uma pequena aragem é suficiente para a fazer vibrar, agitar, ganhar vida. Basta esse pequeno nada, para que o "meu" Chorão cresça, avolume, refulja. Então, saio debaixo dele, finjo-me zangado e atiro-lhe: não posso contar contigo para nada, que grande amigo me saíste.
Mais a baixo tenho uma figueira. Plantei-a ... está a fazer uns 5 anos. Desconheço a que "raça" pertence. Quem ma vendeu, afiançou-me que era "pingo de mel".
Mas,comprei-a porque ouvi a uma velha contar, o caso de um homem que morreu debaixo de uma figueira e em seguida, morreu a mulher, debaixo da mesma figueira.
Contou-me a velha que o homem, já cansado e doente, costumava sentar-se ao final da tarde, numa velha cadeira, encostada ao tronco da figueira. Certo dia, a mulher foi encontra-lo morto, sentado na velha cadeira, com um ar muito sereno.
Feito o funeral, a mulher passou a sentar-se na mesma cadeira, ao final do dia, sob a mesma figueira.
Poucos dias depois, encontraram-na morta, sentada na cadeira, com um ar muito sereno.
A superstição das gentes aqui dos montes, afirma que quem se sentar sob uma figueira, sofre da parte desta, uma sucção de vitalidade, acabando por falecer, omo que, or inanição.
Sinto que o objectivo do nosso governo, é o de nos enfraquecer e de nos fazer socumbir, exaurindo-nos,esgotando-nos com impostos e aumentos de custo dos bens essenciais.
Não compreendo, que o nosso governo tencione, ao menos, plantar meia-duzia de Salgueiros-chorões, sob os quais, protegidos pelas suas ramagens, possamos carpiar as nossas mágoas e em seguida, de alma aliviada, saltemos para fora, aregacemos as mangas e lutemos pelo futuro e pela prosparidade que desejamos.
Sinto que o nosso governo, tem dado espaço e premissão, para que sejam plantadas somente figueiras, milhares de figueiras, sob as quais nos iremos sentando, em velhas cadeiras, esperando pelo momento final da inanição-colectiva.
Pelo sim, pelo não, prefiro a minha figueira, porque, enquanto for morrendo, vou saboreando os pequenos mas saborosos figos "pingo-de-mel".


sexta-feira, 22 de junho de 2012

Pensamos que temos tudo, mas não temos nada...

Caminhava pela berma da estrada estreita, deserta. Amparava-se a um pau tosco, encardido. Obesa, quase andrajosa. Parou quando me aproximei e ficou parada a olhar enquanto passei. Parei logo a seguir, fiz marcha atrás, abri o vidro, não precisei de lhe oferecer boleia, passou imediatamente pela frente do carro, dirigindo-se à porta do passageiro.
-Vou só até ali à frente, ao café, sabe onde é?
-Sei; entre.
Entrou com imensa dificuldade, agarrando-se a tudo o que pudesse servir-lhe de travão ao desmoronamento daque corpo enorme. Primeiro de tudo, entrou o pau, a seguir a perna esquerda e com ela metade de um cu que mais parecia a anca de um animal de tracção. A restante perna, o resto do cu e o tranco onde avolumava um par de mamas que se confundia com o prolongamento do proeminente estômago, é que foram a parte mais difícil de entrar.
Quando já me preparava para saír do carro, com a intenção de empurrar aquela massa gelatinosa para o lugar do passageiro, num súbito solavanco, como rolha de garrafa de champanhe que se solta, mas ao contrário, lá entrou a totalidade daquele corpo imenso arfante, balôfo.
Nem lhe ordenei que colocasse o cinto de segurança, imaginei-o insuficiente para abarcar a totalidade do volume.
-É a coluna que me mata, sabe?! Foram muitos anos no duro, de manhã à noite, por esses campos fora, desde muito pequena. Levantava-me como primeiro cantar.
-Com o primeiro cantar? O que é isso?!
-Então, era quando o galo cantava pela primeira vez, sabe que naquele tempo, ha oitenta anos, aqui por estes sítios, ninguém tinha relógio nem despertador. Agente alevantava-se quer fosse de Verão ou de Inverno, com o primeiro cantar do galo; e depois lá íamos por esses caminhos fora até às quintas onde nos davam trabalho, a roer uma côdea de pão pelo caminho. Olhe que foram tempos muito difíceis... nem me quero lembrar, senhor, Jesus, Maria. Mas olhe, tudo se criou,e viveu-se com mais alegria. A gente nada tinha, mas eramos alegres, íamos o caminho todo a cantar e a contar anidotas. E hoje...(calou-se uns instantes) hoje, julgamos que temos muito e ainda temos menos.
-Então acha que esses tempos passados, foram melhores que os actuais?
- Olhe senhor, se hoje é melhor, não lhe posso dizer, aquilo que lhe digo é que já não ha alegria para nada.
Chegámos ao largo em frente ao café, parei o carro e perguntei-lhe se era ali que desejava ficar.
-É sim senhor, respondeu-me, venha beber um cafézinho que pago eu.
-Não senhora, muito obrigado (enquanto esperava que o corpanzil conseguisse mover-se, desta vez para fora do carro).
-Então e uma cerveja? venha daí, ao menos uma cervejinha.
-Agradeço-lhe, minha senhora, mas fica para outra altura, agora está na hora de ir almoçar.
-Então e o que é que tem? Venha lá beber a cerveja...
-Não vai, não vai... mas agradeço à mesma!
-Pronto, você é que sabe, mas olhe que é de boa-vontade.
E lá acabou por conseguir tirar a totalidade do corpo, fechar a porta do carro e agradecer de novo a boleia com um sorriso imenso e radioso.