quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

"VIRTVTIBVS MAIORVM"

... desci ao Martim Moniz, estacionei novamente o carro e saí.




Deste largo imenso, a que foi dado o nome do cavaleiro que valorosamente sacrificou a vida, atravessando o corpo na porta do castelo de S. Jorge, permitindo assim, aos guerreiros de D. Afonso Henriques conquistar o castelo, posso avistar a muralha poente, encimando a encosta por onde se estende o casario que compõe o bairro da Mouraria. Em meu redor, para além dos tapumes que tentam resguardar dos olhares, umas obras, vejo sujidade, noto o ar impregnado de cheiro a urina e uma profusão de gente originária de outros países. Os trajes que envergam e as fisionomias, identificam-nos como sendo oriundos de países asiáticos e africanos. Lugares onde o meu amigo Portugal levou a língua de Camões, a religião Cristã, a pólvora, a alfabetização, com quem comerciou, a quem explorou e escravisou, mas onde deixou cultura e obra.




Decido então, dirigir-me a pé até um largo próximo, a Praça da Figueira.




Aqui, neste largo, em cujo centro me detenho, admirando a estátua equestre de D. João I O "De Boa Memória", primeiro da dinastia de Aviz, primeiro na expansão marítima; a diáspora que levou o meu Amigo à descoberta do Mundo, tranportado pelas asas do vento e do sonho, sinto que é escusado perguntar por Portugal, decerto já ninguem se recorda dele.




Desço a rua da Prata, até ao Terreiro do Paço. Vou em frente, olho o Cais das Colunas, o Tejo... não; nem sinais do meu Amigo. Volto-me e retomo o caminho, passando pelo centro da Praça. Paro junto à estátua equestre do Rei D. José I. Esta estátua, este Rei, não me dizem nada, ou então... dizem pouquíssimo. Sinto-me desanimado e decido regressar, escolho a Rua Augusta, mas, assim que dou os primeiros passos, encandeio-me com uma estranha luminosidade. Coloco a mão em pala sobre os olhos e percebo que o sol, batendo de chapa no mármore do Arco, ao início da Rua, reflecte com imensa intensidade. Paro. Olho com redobrada atenção para aquele conjunto arquitectónico e escultural, após fitar, uma a uma, as estátuas crípticas que o encimam e representam a Glória, coroando o Génio e o Valor, detenho-me na frase inscrita em latim «VIRTVTIBVS MAIORVM VT SIT OMNIBVS DOCVMENTO.PPD», “Às Virtudes dos Maiores, para que sirva a todos de ensinamento. Dedicado a expensas públicas”.




Bateu-me fundo esta frase e o seu significado, transportando-me directamente para um tempo e um espaço já esquecidos, o tempo em que o meu Amigo Portugal alcançou a Glória, sendo Genial e Valoroso. Mas para que nunca o possamos esquecer, a frase termina como um pai quando fala para os seus filhos: "para que sirva a todos de ensinamento".




Bom, segui depois viágem, sempre com a imagem do Arco da Rua Augusta, bem presente na minha memória...

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Cada Terra com seu uso, cada roca com seu fuso I

Não sei se levado pelo espírito melancólico do Natal, se pelo espírito do fado, materializado na saudade, destinei os três dias passados a procurar um amigo de longa data de quem tenho recebido, através de terceiros, notícias espaçadas e em nada coincidentes.


Dizem-me uns, que se encontra bastante doente, que os médicos lhe diagnosticam um conjunto de males, para os quais a ciência não conhece ainda a cura. Dizem-me outros, que não... que já o viram por aí a caminhar todo desempenado e sorridente. Outros, confirmam, mas que lhes parece que não passa tudo de fachada, que ele está realmente bastante doente.


Então, decidi: vou tirar uns dias para procurar o meu querido e já velho Portugal.


E assim fiz, saí bem cedo e comecei um périplo pelos locais onde achei que poderia encontra-lo mais facilmente. Devido à proximidade, comecei a procurar o meu velho amigo na capital. Percorri os bairros típicos da cidade, os locais onde ele se deliciava com o típico linguajar das varinas, com os pregões, as zaragatas, os ditos e dichotes, da azáfama laboriosa de gente pobre, mas muito ciente do sentido gregário e do poder que ele lhes oferece, protegendo-os dos grandes males. Não o encontrei. Os únicos sinais de que por ali já passara, reconheci-os somente, nos escassos vasos de "sardinheiras", pendentes de algumas águas-furtadas, onde assomavam rostos sulcados profundamente por gelhas que mais pareciam sulcos de arado em terra seca.


Uma delas encarrapichada no altar de onde observa o lento passar do tempo, quando me viu de nariz no ar e de olho perscrutante, atirou-me lá de cima; ó senhor... anda à procura de alguém?


Sorri-me e respondi que sim, que procuro o meu Amigo Portugal, talvez ela me soubesse dar alguma indicação útil...


Ficou parada sem me dar resposta, mediu-me, avaliou-me com os seus olhos piscos mas atentos e, passados uns longos momentos, como que regressando de um estado hipnótico, repetiu; Portugal...? Tenho uma ideia, sim senhor, mas... já foi muito tempo... já lá vão muitos anos...


-Mas, a Senhora não faz ideia se ele ainda por aí anda?


Voltou a fazer nova medição da minha pessoa, demorada, como que... desconfiada, e por fim, soltando de mim o olhar e colocando-o lá longe, talvez na margem de lá do Tejo, ou ainda mais distante, desabafou num murmúrio; Hannn... por aqui?! Nem por aqui, nem por ali, nem por parte nenhuma... quem é que sabe o que é feito dele... por onde anda...


Agradeci a informação, notei que não desprendeu o olhar do infinito em que o havia colocado e despedi-me.


Enquanto descia as vielas estreitas do bairro, dirigindo-me para o carro, pensava; tenho de tentar noutros locais, é impossível que o meu Amigo se tenha volatilizado, hei-de encontra-lo em algum lugar... quem sabe fora das grandes cidades...


Quando entrei no carro, pensei: vou rumar ao Sul, o Portugal gostava imenso das planícies Alentejanas e das praias do Algarve, estou certo de que irei encontra-lo...


(continuará)

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Natal!

Hoje, preparamo-nos para festejar um novo Natal.
Na tradição Cristã, comemora-se no dia 25 deste mês de Dezembro, a Natividade de Jesus Cristo. No entanto, Natal, tal como muitos poetas o cantaram já, é Universal, na medida em que designa o dia, o país, ou o local do nascimento de alguém e, abrange-nos a todos, sem excepção.
Hoje, sentimos angustiados, que à nossa volta, são poucos os sinais capazes de nos motivar a festejar com alegria, o dia do nascimento daquele que foi designado pela religião Cristã, como O Salvador.
A tristeza pelo sofrimento de tantos, cada dia mais, que neste Natal não irão ter um lar, onde, reunidos, aconchegados no calor da amizade e da família, possam cear e trocar presentes entre si, possam sequer desejar-se felicidade; é enorme.
Mesmo que a solideriedade, que nestes tempos tem marcado positivamente lugar na nossa sociedade, minimize de certa forma o sofrimento de tantos a quem falta o comer e o agasalho, e para quem, a desesperança e a incerteza do futuro, são imensas.
A este propósito, recordo-me do poema de António Aleixo, intitulado; "Os Vendilhões do Templo"
Deus disse:faz todo o bem
Neste mundo, e, se puderes,
Acode a toda a desgraça
E não faças a ninguém
Aquilo que tu não queres
Que, por mal, alguém te faça.

Fazer bem não é só dar
Pão aos que dele carecem
E à caridade o imploram,
É também aliviar
As mágoas dos que padecem,
Dos que sofrem, dos que choram.

E o mundo só pode ser
Menos mau, menos atroz,
Se conseguirmos fazer
Mais p'los outros que por nós.

Quem desmente, por exemplo,
Tudo o que Cristo ensinou.
São os vendilhões do templo
Que do templo ele expulsou.

E o povo nada conhece...
Obedece ao seu vigário,
Porque julga que obedece
A Cristo - o bom doutrinário.

Nunca como agora, nos achámos tão cercados por vendilhões do templo.
É urgente que tomemos consciência da realidade, das dificuldades, das necessidades mais prementes e saibamos reunir e utilizar as ferramentas de que dispomos, para mudar e vencer essas dificuldades. E, as ferramentas de que dispomos, são, tal como António Aleixo no seu poema nos aponta, «conseguir fazer mais pelos outros, que por nós». Não é fácil... mas é o caminho!
Desejo a todos que visitam o "Avançando" e também a quem não teve ainda esse privilégio [ ;) ] um Natal aconchegado, repleto de amizade, solideriedade e vontade de ajudar a melhorar este mundo de todos nós!

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Porque Somos?

Da forma como entendo o mundo e as pessoas, vejo que os seres humanos, vivem confinados a uma existência... conflituosa.
Se por um lado algo indefinívelmente concreto (?) instiga os humanos a unir-se, a projectar e a construir em conjunto, a coexistir e a complementrem-se cada um as lacunas do outro... por outro, essa complementariadade, cerceia a possibilidade de cada ser evoluir por si só.
E é neste jogo de forças, do puxa e empurra, que vamos mantendo a dinâmica necessária para que a existência do mundo seja mantida.
Coloca-se então a questão, que é saber se uma força misteriosa ao serviço do mundo, do cosmos, controla e faz uso da energia humana...

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Para quê ler livros?

Quanto maior é o número de obras literárias já lidas, quanto mais informação acumulo num espaço interiormente dividido, maior é a sensação de vazio intelectual que experiencio.
Tudo já me sabe a dejá-vu. Tudo me parece impossível de alterar de melhorar, de tornar apetecível, capaz de constituir motivo de incentivo... ou de mobilização, seja para o que for.
Sinto apoderar-se de mim uma inquietação, uma desconfiança de que algo está a aproximar-se. Algo indefinível, algo que tanto pode ser o resultado apurado de tudo, como a extinção do que se conhece.
Sento-me para ler, sempre na esperança de que alguém tenha escrito o que irei ler pela primeira vez e me irá conduzir a uma nova perspectiva.
Experimento por vezes despejar a mente de qualquer pensamento, como quem limpa a casa de poeiras, por forma a receber condignamente os visitantes, de modo a que, ao sentirem que estão num ambiente limpo, incorrupto, se abram em revelações, como girassol ao receber os primeiros raios de luz.
Mas logo, após as primeiras frases, sobrevem o sentido, o mesmo sentido, dito da mesma forma, folha após folha... nada de novo.
Tal como os dias. Um, após o outro, iguais, previsíveis, despidos de tudo o que os possa tornar vibrantes, entusiasmantes, espaços ilimitados para o acontecimento.
Nem uma página lida, e devolvo o livro ao seu lugar na estante, volto-me para a janela, saio para a varanda, o terraço, depois, o jardim. Encontro ali tudo, as flores, as mesmas, as árvores, também. Ergo os olhos e juro que aquela nuvem é a mesma da semana passada... que se não for, é parente da outra, aquela que passou lentamente, de Sul para Este, no dia em que plantei aquele limoeiro. Sim... foi nesse dia, porque na semana anterior tinha semeado favas e na outra...
Afinal... não passo de um coleccionador de datas... para quê ler livros?

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A caminho do Sol.

Este fim-de-Semana, como às vezes faço, apeteceu-me sair sem destino.
O tempo não prometia nada definido, nem chuva nem sol, mas isso pouco me importou.
Aquilo que quis foi sair, atravessar o mundo, mesmo que somente um mundo reduzido, mas sobretudo, um mundo imprevisto, não programado.
Atravessei o Tejo em Vila Franca de Xira e depois de passar em Porto Alto, senti-me finalmente entrar, aos poucos, naquela dimensão de épocas passadas a que a vastidão das estradas alentejanas, praticamente desertas, possuem o "dom" de me transportar.
E assim fui, continuando sempre em direcção ao Sul, sem destino e sempre envolto em pensamentos que me transportavam para outras dimensões, ideais para reflectir sobre o que o passado guardou e que ilusoriamente, concedo, sejam a preparação para um futuro impossível de adivinhar, mas que se sente venha a ser penoso.
Em determinada altura inflecti a marcha para Oeste e continuei em frente até atingir o mar. Zambujeira do Mar. O local encontrava-se deserto, ninguém nas ruas, ao fundo o bramir do mar atraíu-me até ao miradouro junto à igrejinha de Nossa Senhora do Mar.
Ali fiquei durante longos minutos, talvez uma hora, ou mais, de frente para o mar imenso, apreciando o voo acrobático das gaivotas e outras aves marinhas que desafiavam as cristas e o ribombar das enormes ondas e, depois de uma volta larga, elevavam-se acima da arriba, suavemente, planando de frente para o vento, asas bem abertas, soltavam um estridente grasnado e poisavam na beira do miradouro, sacudindo as penas e as asas, assim como que a dizer-me : gostaste do meu voo? Queres experimentar? Anda, atreve-te, vais ver que não existe sensação de maior liberdade, que a de planar rasando a superfície do mar, subir mais alto que as falésias, e picar vertiginosamente sobre um peixe descuidado, lá em baixo, quase à superfície.
Anda, vem experimentar, liberta-te dessas amarras que te prendem os pés à terra e a essas regras mesquinhas que vos condicionam, humanos e vos tentam a ser senhores de ilusões e quimeras que nunca alcançareis.
Vem, vem voar comigo...
E Abria as asas como que a seduzir-me, ensaiava um voo, voltava a poisar as patas sobre o parapeito e desafiava-me; então? não tens coragem? Anda, abre bem os braços, respira fundo, solta-te desse chão, deixa os caminhos traçados para andares e descobre o infinito, vem!
Senti-me invadir por um desejo forte de seguir aquela gaivota quando ela finalmente abriu de novo as enormes asas e se elevou um pouco para em seguida mergulhar em direcção aquele mar imenso. Na garganta ainda prendi um grito; espera!, o braço ainda ficou por momentos estendido na direcção daquela gaivota desafiadora... depois, baixei os olhos e jurei... um dia, um dia destes vou ganhar asas e então... VOAREI!

sábado, 12 de novembro de 2011

Tudo...

Diógenes... O cínico, filósofo na antiga Grégia, cultivou a não-posse.
O filosofo entendia que os bens materiais condicionam a vida do Homem, obrigando-o a vergar-se a valores que não têm a ver com a ética e a moral, mas sim, com a corrupção.
Conta a lenda que um dia Alexandre Magno, terá perguntado a Diógenes o que desejaria que ele lhe oferecesse e que Diógenes terá respondido simplesmente "não me tires aquilo que não me podes dar". Diógenes terá respondido desta forma, porque Alexandre se encontrava numa posição entre o sol e o filósofo, por conseguinte, fazendo-lhe sombra.
Muitos de nós, não conseguiram perceber, ainda, que a ninguém é possível tirar do outro, aquilo que o outro não possui, por conseguinte, é impossível perder-se aquilo que não temos.
Muitos de nós, crêem possuir imensos valores materiais e que, com eles, se encontram numa posição de superioridade, perante aqueles que nada possuem.
Mas...Tudo se encontra na curva do espaço, no aconchego de um abraço, no calor de um regaço, na geometria de um laço.
Tudo cabe dentro de um átomo, na folha de um ramo, num gesto humano, num aceno profano.
Tudo; encontra-se na simplicidade de um olhar, num desejo, no mar, numa palavra, no sol... num gesto de dar!
Não sei porque escrevi isto. Nem tenho a certeza se aquilo que escrevi, corresponde integralmente àquilo que penso, e ainda menos àquilo que pratico, mas... quero acreditar que sim, e se acreditar...
;)

Planos para voar...


http://www.youtube.com/watch?v=8MDPeL8lpzo




Enquanto fui criança, sonhei muitas vezes que voava.
Era um encanto poder deslizar sem esforço nenhum, sem tocar em nada, sem mexer um músculo, voltar à esquerda e à direita, subir e descer, parar, flanar e voltar a mover-me.
Quando de manhã acordava, sentia-me envolvido por uma sensação imensa de bem-estar, a qual se dissipava logo de seguida, ao perceber que a faculdade adquirida durante o sono e o sonho, tinha desaparecido com o despertar. E então, pensava; Que bom seria se esta capacidade de voar se mantivesse, se pudesse escolher um local conhecido, ou a descobrir e pudesse voar até ele. Que bom, se pudesse transportar comigo alguém, alguém que não tivesse medo de voar e que também quisesse ardentemente conhecer outras paragens, outras paisagens, outros rostos e lugares.
Quando cresci, comprei uma mota. Aquele veículo afigurava-se-me como sendo o instrumento mais apto a satisfazer o meu desejo interior de voar. Mas não... o meu desejo não conhecia limites nem fronteiras, o meu desejo não era condicionado por obstáculos intransponíveis por uma mota. Com a mota só conseguia deslocar-me por estrada e, quando pretendia atingir um determinado ponto, era obrigado a contornar muitos outros. E o meu sonho era o caminho directo.
No meu sonho transpunha montanhas, atravessava oceanos, ziguezagueava nos desertos, nas estepes, fazia gincanas por entre os arranha céus de Manhatten... no meu sonho... rasava o chão vertiginosamente e recolhia os meninos famintos nas favelas, nos guetos, nas valas lamacentas e colocava-os nas casas dos políticos ricos, dos empresários milionários, dos banqueiros.
Depois, voltava a passar nos mesmos guetos, colocava as mãos em concha à volta da boca e gritava aos pais das crianças que tinha transportado: esta terra é vossa! Cultivem-na! Explorem-na! Alimentem-se dela! Sejam vocês os seus naturais senhores!
E ficava por momentos a observa-los, primeiro atónitos, desconfiados, depois segredando uns para os outros, em seguida começavam a movimentar-se e a formar grupos, em seguida iam procurar ferramentas e começavam a desbravar o solo, a limpar e a enterrar dejectos, a abrir sulcos de drenagem, por onde escorria a ignomínia acumulada ao longo de décadas e com qual já conviviam sem ligar. Pouco depois, começava a surgir um solo novo, mais saudável, ao mesmo tempo, os rostos começavam a ganhar alguma alegria, os braços começavam a lançar as enxadas à terra com redobrada energia, as sementes começavam a germinar, a crescer... a colheita fazia-se, a fome era vencida, e a dignidade recobrada. A vida recomeçava a fezer-se.
Por fim, sorria-lhes, acenava-lhes e antes de retomar o meu voo até outras paragens... pedia-lhes que não voltassem a fechar os olhos, nem a deixar de acreditar na sua força, e que não perdessem a esperança e a confiança nos outros...


http://www.youtube.com/watch?NR=1&v=53LnC9MDU6I


;)

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Eles, assumem-se republicanos mas, não dispensam o explendor, o glamour das cortes.

Eles, assumem-se republicanos mas, não dispensam o esplendor, o glamour das cortes.
Não dispensam os coches de luxo, o conforto das peles, sedas e damascos, as recepções cerimoniosas, os Porto de honra, os banquetes servidos em porcelanas e cristais, confeccionados por cozinheiros de renome, as viagens em executiva, o motorista perfilado e o porteiro que lhes abre a porta.
Em discursos inflamados, eleitoralistas, eles defendem os mais desfavorecidos, os mais necessitados, as vítimas de uma sociedade que não olha pelos seus cidadãos, vítimas de doença, de desemprego e de outras patifarias que a vida lhes pregou. De punho erguido, juram que farão tudo o que estiver ao seu alcance para mudar essas situações, que são a vergonha de uma sociedade que se rege por princípios de igualdade democrática.
Depois... depois de percorrerem as ruas, vielas e becos, mercados e escolas, depois de abraçar todo aquele por quem passam, depois de receberem de todos a retribuição pela simpatia dispensada e pelos discursos prometedores, recolhem aos hotéis, às sedes de candidatura, rodeiam-se dos seus pares e festejam as vitórias. No dia seguinte já não descem à rua, nem aos mercados, nem aos largos das vilas e aldeias. No dia seguinte, os segurança que os rodeiam, impedem que aquele idoso que na véspera os tinha abraçado e a quem prometeram o empenho na melhoria de condições de vida, de se aproximar. No dia seguinte, entram à pressa para a viatura topo de gama que o Estado, leia-se o idoso, o trabalhador rural, o médico, o comerciante, o empregado de escritório, o professor, contribuíram para comprar. Quanto muito, acena fugazmente, para os mesmos a quem no dia anterior abraçou. É que, no dia anterior prometera aquilo que no dia seguinte, não poderia, nem quereria cumprir. Excepto, usufruir dos luxos, dos dourados, das luzes, do conforto, da arrogância, da distância, do desprezo que a condição lhe permite dedicar a todos que no dia anterior abraçou, beijou, cumprimentou, fazendo-se passar por um igual, conhecedor e sofredor das suas penas, empenhado em lhas aliviar, custasse, o que custasse.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Silogismos

Gosto de silogismos!
Gosto; pronto, ponto.
quem prefira favas com chouriço, cozido à portuguesa, bife com ovo a cavalo...
Gosto de argumentos; de argumentos que possam ser provados, irrefutávelmente.
Vem este intróito a propósito de uma reflexão, acerca de um texto publicado por um amigo de outro blog, que pode ser lido aqui:
http://quartarepublica.blogspot.com/2011/11/problema-da-grecia-de-portugal-e-da.html
e cujo conteúdo se me afigura como um prefeito silogismo, ou seja; a maior preposição encontra-se no pânico de falência, de perda de toda a "qualidade de vida" e poder de compra, o qual comporta, a capacidade de endividamento e a incapacidade de liquidar o acumulado, que aflige toda a Europa. Passa pela menor preposição; que são as decisões políticas que influenciem a resolução dos problemas económicos e financeiros que afectam a mesma Europa, concluindo-se a falibilidade das uniões dos povos.
Tavares Moreira, na sua reconhecida qualidade de economista, coloca a questão mais à frente de um mero silogismo, fala de egoísmo e de imolação dos mansos cordeiros europeus, àqueles a quem foi mostrado um prado verdejante, apetitoso, mas que não repararam na vedação dissimulada, em redor desse mesmo prado, montada por uma alcateia esfomeada, que vem agora apertando o cerco e de dente aguçado, prontos a saltar no cachaço das indefesas criaturinhas.
A sorte, é que nos guia um lúcido, um iluminado apóstolo, de seu nome, Aníbal, o qual, inspirado pela bucólica imagem de um pastor, conduzindo pela serra o manso e obediente rebanho, nos exorta a vergar a mola sem descanso, ininterruptamente, de sol-a-sol, sem exigirmos paga nem regalias, férias ou descanso. Imolem-se! Grita-nos do alto do seu austero e espartano pedestal. Dêem todo o sangue que tiverem para dar, em nome da salvação económica deste país, governado por políticos que durante décadas satisfizeram as suas gulas, nas levadas de capital que chegaram com o fim de tornar prósperas as mansas ovelhas deste desorganizado rebanho.
Segundo silogismo; preposição maior, logro. Preposição menor; logrados. Conclusão; um epifânio profeta da desgraça!

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Houve Trampa no Bêco!

- Nome?
- Parco Sobre Despesa!
- Morada?
- Bairro Ocidental Europeu!
- Idade?
- Ora... nasci em Maio de 74... 37 anos e... 5 meses?!
- Muito bem; então conte-me a ocorrência...
- Então Meretíssimo, passou-se o seguinte: No primeiro dia do mês passado, de manhã ainda cedo, abri a janela e coloquei o alguidar de plástico que comprei na loja dos chineses com a roupa lavada lá dentro, no parapeito e, mal acabei de estender o primeiro par de cuecas, o meu vizinho da frente, o Senhor Seguro Patrício de Sousa, abriu também a janela dele e veio estender a roupa. Quando olhei para a roupa dele e vi que estava bastante encardida, disse-lhe num tom amigável que deveria mudar de detergente e passar a usar o mesmo que eu uso, que deixa a roupa tão limpa, que até parece nova. O meu vizinho Seguro Patrício de Sousa levou a observação para o lado da ofensa, e desatou para ali a fazer uma peixeirada que só visto, até porca chamou à minha mulher que é uma pessoa às direitas, ou não fosse ela de Ferreira e vendesse Leite. Nessa altura passei-me, meretíssimo e disse ao meu vizinho Seguro, que suja era a roupa dele que andava por lavar várias gerações, que ele devia rastejar na lama, para ter uma roupa assim tão suja. O meu vizinho foi aos arames e começou a atirar-me em cara, umas ceroulas borradas que uma vez o meu Avô Cantigas, coitado, devido à idade, estendeu no arame sem serem lavadas. Disse-me aquele ordinário, que as ceroulas até parecia que estavam sujas de caganitas de Coelha, ou de Bosta Pastosa de Novilho.
Estávamos a meio desta discussão, quando passam lá pela nossa Viela das Desgraças, 5 estrangeiros, com umas pastas de cabedal na mão e decidem telefonar para o 112.
Passados dois dias apareceu lá a bófia a perguntar o que é que se tinha passado e levantar um auto de ocorrências.
- Então e você tem testemunhas do que se passou?
- Quer dizer... tenho e não tenho, meretíssimo...
- Mas afinal... tem, ou não tem?
- A bem dizer a única testemunha que tenho é o meu... a minha... ai... o meu... vizinho do lado o Sr. Paulo.
- O Sr. Paulo?! Qual é a profissão desse senhor?
- É marceneiro, meretíssimo, faz Portas.
- Mas afinal... esse senhor, é ou não é testemunha?
- Ele assistiu à discussão, mas parece que não quer tomar partido nem pelo meu lado, nem pelo lado do Sr. Seguro, diz que, vendo bem as coisas, na opinião dele tanto um como o outro tem a roupa muito suja. Eu, quando ele me deu esta resposta, também lhe disse logo: Deixe lá vizinho que a sua roupa também não está nada limpa, que eu tenho reparado numas nódoas que por mais que sejam lavadas já não saem. Respondeu-me que foram feitas num dia em que foi fazer uma visita a uns submarinos e porque as águas estavam um bocado agitadas, acabou por enjoar e vomitou a camisa toda. Ao que parece, são nódoas difíceis de tirar.
- Então... e sem ser esse carpinteiro...
- Marceneiro, meretíssimo, marceneiro... faz Portas!
- Ou isso... então, para além desse marceneiro, não arranja mais ninguém que abone em seu favor?
- É muito difícil meretíssimo. Saiba Vossa Excelência, que os outros vizinhos, são todos uns "mulas" só "tomam partido" quando vêem que podem tirar algum benefício, de resto, fecham-se em copas e o que fazem é morder pela calada. Mas... lá no fundo, eles sabem que quem tem razão, sou eu... que passo o dia no tanque a esfregar a roupa com sabão azul e branco... mas nódoas que estão tão entranhadas...
Agora... aquilo que eu não consigo perceber, Meretíssimo, é porque carga de água, é que aqueles estrangeiros de um raio, tinham de meter o bedelho... a conversa até estava animada e como é costume, no fim até acabávamos na tasca do Sr. Bento a comer uns tremoços e a (a)provarmos uma cerveja que agora nova que é da marca... orçamento.

domingo, 16 de outubro de 2011

Que N L P...!

Quando depois de saborear uma excepcional dobrada com feijão branco, confeccionada pelas mãos mágicas de uma jovem anciã, conhecedora de imensos segredos, quer culinários, como de gestão e de economia domésticas, Senhora que viveu os duros anos do final da segunda guerra mundial e aprendeu a magia de transformar o sobrante, no essencial...Olho melancólicamente para a nossa actualidade política e social e só me ocorre mandar os políticos que nos têm governado e aqueles que nos governam, de volta, à cona da mãe que os pariu.
Esta, é a única forma possível, que me ocorre, de imaginar uma maneira de reciclar toda esta bagunçada em que vivemos.

sábado, 15 de outubro de 2011

O Meu País.

O meu país, falece.
E falece porquê, pergunto-me, olhando à minha volta, fazendo uma rectrospectiva daquilo que conheço do meu país e das suas gentes... e posso dizer que conheço bastante, sem que o conheça totalmente.
Um país, porque também é composto por gente, encontra-se em permanente mudança. É verdade mas, não compreendo que essa permanente mudança, possa ser a causa da doença súbita que o atacou e o debilita, sempre mais, a cada dia que passa.
Ha uns anos, conheci uma historieta de bolso, que contava a conversa entre os vários órgãos do corpo e a importância vital que cada um atribuía a si mesmo, afirmando todos, e cada um por si, que se "entrassem em greve", o corpo adoeceria, ficaria febril, entraria em estado comatoso e faleceria.
Não precisamos possuir formação médica para perceber a evidência. Basta que um dos nossos orgãos vitais, pare de funcionar, para que o corpo comece a colapsar e acabe mesmo por falecer.
Mas a verdade, olhando bem à minha volta, é que, este imenso corpo que somos todos nós, parece por um lado querer desistir de funcionar, mas por outro percebe que se o não fizer, falecerá inevitávelmente. Esta dualidade de sentimentos, traz o meu país e as suas gentes numa completa desorientação, numa imensa ansiedade.
O cérebro lateja-nos, porque os intestinos não evacuam, esses não o fazem, porque o estômago não lhes fornece a matéria necessária para fabricar o quilo que enriquecerá o sangue. O coração, tasquinha uma ração de sangue pobre, fraco, mediocremente oxigenado por uns pulmões atrofiados.
Em reunião de conselho, os orgãos declaram-se impotentes para manter vivo um corpo que afinal, possui tudo o que necessita para readquirir a saúde... menos o ânimo, menos a convergência de vontades, menos a visão de futuro, menos o entendimento e a consciência concreta do presente.
O meu país falece. Mas, EU não quero que ele faleça!
Eu já conheci o meu país saudável, não rico, mas sustentado e a atingir a sustentabilidade. Já conheci as suas gentes felizes, laboriozas, produtivas e produtoras. Eu continuo a ver o meu país e as suas gentes, capazes de se renovar, mudando o paradígma actual, importado de uma realidade que não lhe pertence, para um modelo genuíno que é nosso, adaptado às nossas reais qualidades, desejos e competências.
Segundo Pessoa e Agostinho da Silva, ainda não nos cumprimos, Portugal ainda se não cumpriu... Cumpramo-nos!

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Porque será?

O que me trava o andar,
E me enfraquece o querer?
Se tenho olhos para ver,
Se tenho pernas para andar.

O que me turva a razão,
E não me deixa crescer.
Porque me dizem que não,
Porque me querem prender?

Porque não entendem o desejo
Que tenho, de ir mais além?
Porque não crescem também?
E são mais do que eu almejo?!

Não me parem, não me empurrem.
Deixem-me caminhar solto.
Não me ergam, nem derrubem,
Nem me expulsem... porque eu volto.
;)

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Outono

Chega já o mês de Outubro
Para confirmar o Outono.
É com ele que eu me cubro
E que o Verão abandono.

No final dos dias, lucubro
Preparando já o Inverno.
Esqueço tudo que ainda lembro
E ao chegar a noite, hiberno.

Sinto já grandes saudades
Do passado Verão, rubro.
Das madrugadas, das tardes
Já mais frias, em Outubro.

Mas para colmatar a diferença,
De uma estação sonolenta.
Lá vou marcando presença
Num regaço que me acalenta.

E quando o Inverno chegar,
Mais a chuva tamborileira,
Já me estarei a aconchegar,
Na sob a tua pele fagueira.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Cogitações antes do deitar...

Daqui, de onde estou, consigo ver o sol
beijando o mar.
E depois, devagarinho, esconder-se
do outro lado do mundo.
Sorrio e penso. Será que apetece ao sol
brincar com o meu olhar?
Em seguida, escurece, o sol perde-se
e em volta, o mar, fica mais fundo.

Um versinho pá Rosa...

A metade de mim
que já não sou
Repousa nesse jardim
onde um dia, nosso amor se consumou.

E a rosa molhada,
que sobre o peito, descansa
Olha-me ainda pura, encarnada.
Lembrança de uma paixão mansa.

E ainda, plácidamente me embala
como valsa roçagante
Ainda pelo meu corpo resvala
Quando desejas ser minha amante.

A metade de mim, que fui
Guarda-se na memória do tempo
Um tempo que parou, mas flui
Quando do meu ser se solta um lamento.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Ai os meus marmelos!

O burro do Ti Xico comeu-me os marmelos todos.
Não eram muitos, não passariam de uma dúzia, mas estavam lindos e eram os primeiros que a árvore produzia desde que 2 anos a plantei.
-Não é burro! É macho espanhol, afirma o Ti Xico pela enésima vez, colocando algum ênfase na frase. Eu, para o arreliar, refiro-me sempre ao Gaspar, designando-o por burro.
-Você não vê que um burro é mais pequeno...?!
-Para mim é burro, Ti Xico. Tem aspecto de burro... se é maior ou não, não sei. É burro!
-Ah!!! É macho! É filho de burro com égua, por isso não é burro...
Quando ontem ao fim do dia me dirigi ao pomar, para regar as árvores, topei com o Gaspar lá ao fundo a tasquinhar os últimos marmelos.
-Ah malvado! Salta daí, burro maluco! Seu sacana, comeste-me os marmelos todos...
O Gaspar espetou as orelhas, esticou as beiçolas, e mandou dois ou três zurros, que me deixaram sem perceber muito bem, se me estava a agradecer, ou a mandar bugiar.
Quando cheguei mais perto, percebi que se tinha soltado da corda com que o Ti Xico o prende a uma estaca e então, decidira provar os meus marmelos.
Passada a zanga e depois de voltar a prender o Gaspar no sítio, lembrei-me de uma certa tarde de verão; teria uns doze anos e ajudava uma vizinha dois anos mais velha, repetente, a preparar-se para os exames de segunda chamada.
Rosa, vinha quase todos as tardes a minha casa, para rever a matéria dada durante o ano lectivo e tentar esclarecer dúvidas. Ficávamos numa pequena sala de costura, que dava para as traseiras da casa, sentados a uma mesa redonda, onde com enfado, a Rosa estendia livros e cadernos e ficava especada a olhar para mim, esperando pelo milagre de uma injecção de sabedoria.
Eu, tentava "espremer" da miúda as dificuldades que sentia, para tentar explicar-lhe aquilo que necessitava saber para passar nos exames.
Rosa, passava o tempo a divergir para conversas que nada tinham a ver com a matéria e que não colhiam minimamente o meu interesse.
Naquela tarde, apareceu de saia azul e blusa branca.
Vinha diferente.
Parecia que transportava uma luz, um brilho, algo que me provocou uma sensação de nervosismo e que não consegui perceber muito bem.
Sentou-se à minha frente como de costume. Poisou os livros e os cadernos sobre a mesa e ficou a olhar-me de frente, com um leve sorriso a bailar-lhe nos lábios.
Notei que tinha dois botões da blusa branca, desabotoados. Notei que sob o tecido semi-transparente da blusa, dois pontos rosados, faziam o tecido levantar.
Petrifiquei o olhar naqueles pontos.
Os sentidos em alvoroço e uma atrapalhação indescritível, assaltaram-me. Como que sob um efeito hipnótico, o olhar fixo nos rosados mamilos de Rosa, condicionava-me o raciocínio.
Sem proferir uma palavra e sem desviar o seu olhar do meu, Rosa, pegou-me na mão direita e colocou-a sobre o seu seio direito.
-Mexe! disse ela baixinho, mantendo sempre o mesmo sorriso e o olhar fixo no meu.
Não mexi. Toquei ao de leve, o suficiente para sentir a maciez da pele, a rijeza do mamilo, o calor da carne.
Rosa, colocou então a sua mão sobre a minha e exerceu alguma pressão. Tentei retirar a minha, mas Rosa segurou-a e conduziu-a até ao outro seio, igualmente macio, rijo e quente, semi-cerrando os olhos e soltando um leve gemido.
Senti o rosto afogueado, invadiu-me uma sensação de embriaguez, algo que nunca tinha sentido até ali. Sobre as calças, elevou-se um feroz desejo de algo que não sabia identificar mas que me impelia a abraçar e beijar Rosa.
Assim foi, mas dali não passou.
Rosa, recolhendo os livros e cadernos, levantou-se de um salto e anunciou que se tinha esquecido de um compromisso, que tinha de ir embora.
Saiu.
A natureza cumpriu a sua parte!
Alguém inventou o ditado: "O primeiro milho é dos pardais". Esqueceu-se de acrescentar: "Os primeiros marmelos são do burro".
Ai... do burro não. Do macho espanhol!
;))))))

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A distância e o tempo

Sempre acho, que o ponto de onde observamos, pode condicionar a forma como entendemos.
Ou seja; se nos encontrarmos num determinado ponto de uma fila de gente, com a finalidade de chegarmos a outro ponto, que poderá ser a bilheteira de um teatro, por exemplo; difícilmente teremos a percepção da distância a que nos encontramos desse ponto, ou, e, do número de pessoas que se encontram entre nós e o ponto que desejamos atingir.
Contudo, se tivermos a possibilidade de nos encarrapicharmos às cavalitas de alguém, dependendo da extensão da fila onde nos encontramos, poderemos percepcionar um pouco melhor a referida distância.
Mas; imaginemos que nos encontramos numa cidade e que a fila onde nos encontramos se estende ao longo de várias artérias, que viram à esquerda e à direita...
Então, para podermos ter a tal percepção, precisaríamos de um ponto de observação mais elevado, que os costados do parceiro da frente. Talvez de um terraço de um edifício, ou do alto de uma torre, a nossa visão pudesse abarcar toda a extensão da fila em que nos encontramos.
Mas; imaginemos que a fila onde nos encontramos, se prolonga por diversos países e continentes...
Então, seria necessário dispormos de um ponto de observação tão alto e tão distante, que nos permitisse abarcar toda a extensão dessa fila.
No entanto, o facto de conhecermos a verdadeira distância que separa o ponto que ocupamos na fila, do ponto que pretendemos atingir, não nos permite alterar a distância, nem o tempo que demoraremos a atingi-lo.
;))

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O Sôre Isidro morreu...

A uma amiga morreu um alpercheiro que tinha plantado quase vinte anos. Uma doença estranha e subita, secou-o ramo após ramo até ao tronco e à raiz. Apesar dos esforços empregues, a minha amiga não conseguiu salvar o alpercheiro. A minha amiga acha que a morte do alpercheiro pode ser o prenúncio daquilo que virá a acontecer na União Europeia que, tal como o alpercheiro, possui alguns ramos que evidenciam sinais de doença grave, que os esforços de alguns parecem insuficientes para conseguir debelar.
Hoje, apareceu-me o meu vizinho Manel.
Vinha cabisbaixo, acabrunhado.
-Então Manel, que tal vai a vida?!
-Vai indo...
Eu, andava de volta de uns pinheiros que plantei em Novembro passado, a limpar-lhe as covas que já se tinham enchido de ervas.
-Tenho de limpar isto Manel, senão, um dia destes mais ervas que pinheiros-
-Sabes quem morreu?
O Manel tem o habito de tratar toda a gente por tu, diz ele que, uma vez que somos todos irmãos uns dos outros, não motivos para tratar uns por senhores e outros por doutores ou engenheiros, ou outra coisa qualquer...
Acho que ele tem toda a razão, mas não me habituo a trata-lo assim, apesar da insistência dele: -Trata-me por tu, pá!
-Não faço ideia, quem foi?
-O Isidro, sabes quem é?!
-Sei muito bem, era ele que me enxertava as árvores.
-Era o melhor a enxertar! Olha que chegaram a vir cá buscá-lo de carro, para ir enxertar para fora, chegou a ir para o Alentejo e lá para cima, para a Guarda e para Viseu... e para mais lados.
O Manel não tirava os olhos do chão enquanto ia falando e recordando o amigo Isidro. Notei a tristeza que lhe enchia o coração.
- O Isidro já devia ter idade, não?!
-Somos da mesma idade, fomos às sortes no mesmo dia. Foi a primeira vez que estive em Lisboa.
Nesta altura, os olhos do Manel ganharam algum ânimo. Depois, levantando a cabeça e olhando para longe, lembrou um episódio, quando tinham ambos 16 anos e se lembraram de ir com uns sacos, ao cair da noite, apanhar à sorrelfa, uns melões de um vizinho, que lhes apareceu de caçadeira em punho, quando já tinham os sacos meio cheios, fazendo-os largar os sacos e correr com quantas pernas tinham, que até parecia que as duas não chegavam.
A história ainda o fez rir um pouco, mas logo a seguir, esmoreceu e de novo a melancolia tomou-lhe conta do olhar.
-Mas estava doente? perguntei...
-... morreu de tristeza. A mulher tinha morrido vai fazer três anos e agora os filhos queriam metê-lo num lar. Quando lhe entraram em casa, encontraram-no morto, deitado na cama, ninguém sabe ao certo de que morreu, cá para mim foi de tristeza.
-A gente tem de morrer de alguma coisa Manel, olhe, tristeza pode ser um mal como outro qualquer.
Lembrei-me da minha amiga e do alpercheiro, que provavelmente, terá morrido também de tristeza...

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O Vento

muitos anos conheci em Sesimbra, um Homem e um barco.
Do Homem, esqueci o nome pelo qual era conhecido. Do barco, recordo-me ainda do nome. Era "O Vento".
O Homem tinha já passado os 90 anos de idade. Baixo, seco, ágil, cabelos brancos, olhar vivo, e um interesse sem tamanho, por tudo o que o rodeava. Vivia dentro do seu barco, que é como quem diz; vivia dentro do vento.
Estabelecemos laços de amizade, eu, o Homem e o Vento.
Um dia, contou-me que aquele barco era o culminar do sonho de uma vida. Desenhara-o e construíra-o num estaleiro perto de Vila Nova de Mil Fontes. O casco, todo em madeira, possuía linhas esguias e harmoniosas, a cabine era baixa e exígua, sem mais comodidades que as suficientes para lhe albergar o corpo franzino.
O Homem, contou-me que construíra "O Vento" com um propósito final... o de ser a sua última morada. Tinha decidido que quando sentisse chegar o final, sairia n'O Vento, oceano dentro e afundar-se-iam juntos.
Antes de me fazer esta confidência, olhou-me fixamente nos olhos e pediu-me que guardasse o segredo que iria confiar-me, porque a família não conhecia o seu paradeiro, e sabia que se fosse encontrado, seria impedido de realizar o seu sonho.
Lembro-me de ter passado uns dias e umas noites inquieto, sem saber ao certo que decisão tomar. Se por um lado aprovava e apoiava a decisão do Homem, por outro, a consciência alertava-me para a aflição em que os filhos e restante família andariam, por não saberem dele.
Entretanto, durante os últimos dias que ainda estive de férias, acompanhei o Homem em pequenas viagens ao longo da costa.
"O Vento" era um barco lindo, ligeiro, facílimo de manobrar, uma espécie de "escuna" em ponto pequeno.
O Homem tinha criado um sistema inédito que lhe permitia, através de um conjunto de roldanas, içar-se ao topo do mastro, sentado numa pequena prancha idêntica ao banco de um baloiço de crianças, e dali, usando cordas, manobrar a direcção do barco e a posição das velas.
Era impressionante assistir à satisfação do Homem, quando içado no topo do mastro, concentrado na direcção do vento, olhos postos no horizonte, conduzindo o seu sonho, cortando vagas, virando de bordo, bolinando e arribando, como um cavaleiro cruzado, adestrando a sua montada, preparando-se para a derradeira batalha.
Dois dias antes de terminar as férias, apareceu em Sesimbra, um fotógrafo e um jornalista do "Correio da Manhã". Alguém os tinha alertado para a presença daquele Homem e daquele barco, que era manobrado de uma forma estranha.
Na sua simplicidade e inocência, o Homem recebeu-os a bordo e concedeu-lhes a entrevista que lhe pediram, demonstrando a forma de manejo que concebera. Esqueceu-se no entanto que o jornal chegava a muitos sítios, inclusive... a Vila Nova de Mil Fontes, onde a família do Homem residia e o procurava.
Quando voltei a Sesimbra, soube que a família do Homem o encontrou e o recolheu.
A "O Vento" vim a encontra-lo alguns anos depois, na doca de Belém, em cima da muralha, assente numa armação de madeira, parado.
O Homem, não existe já, certamente. Talvez os seus ossos repousem, num qualquer cemitério da costa alentejana.
Mas os sonhos e o vento permanecem!

sábado, 16 de julho de 2011

Insaciabilidade(s)

«A insaciabilidade dos desejos humanos obriga a dar voltas que não conduzem a outro lugar que não ao ponto de partida.»
Penso que o sentido, ou os sentidos desta frase, podem ser aplicados a diferentes situações em diversos contextos.
A frase termina com uma afirmação, que para o ser, obriga a que não seja considerado somente o ponto de partida, mas também, o ponto que se pretende, seja o ponto de chegada.
No entanto, o ponto de chegada é indeterminável. Indeterminável por diversas razões; porque se não consegue divisar, porque se não consegue idealizar e ainda, porque é impossível de concretizar. Mesmo depois de supostamente atingido, esse ponto de chegada, continua por atingir, porque se mantem em permanente construcção, em permanente actualização, em permanente "crescimento".
Então, poderei resumir que o ponto de chegada é o Homem, e que o ponto de partida, é o homem... ao caminho que intervala entre o homem e o Homem, poderemos chamar "a insaciabilidade dos desejos"...?
A administração do blog ceita sugestões e, ou, reflexões.
Rejeita conclusões.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

À conversa com Ricardo Reis

«Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive»

Para ser grande, sê iconoclasta: nada
Que não seja a vida, te basta.
Sê em cada coisa símbolo de ti . Porque
Em cada coisa eu te vi.
Assim, serás eternamente tu, em ti.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Os Freixos e o Mundo

Encontrei hoje muito cedo (para mim), o meu vizinho Manuel do Freixo.


Vinha pela estrada poeirente, de enxada ao ombro, corpo vergado, mais pela tristeza que pelo cançasso. Parei e saí do carro para o cumprimentar.


-Então sô Manel, que tal a vida ?


-Cá se vai vizinho (e nem mais uma palavra).


Cogitei com os meus botões; será que o sô Manel está doente, ou com algum problema a afligi-lo?


-Isso não me parece lá muito bem sô Manel, parece-me que você vai meio aborrecido...


-Na senhor... coisas da vida...


-Mas está alguem doente?


-Na senhor, felizmente cá se vai andando da forma que Deus quer...


Mudei de assunto e perguntei-lhe pela agricultura. Que lá ía tudo da forma que Deus manda o tempo, que se não piorasse, assim estaria muito bem. O sô Manel do Freixo, é uma pessoa muito faladora e sempre com um sorriso franco e enorme a bailar-lhe nos lábios e nos olhos. Desconfio, pelos olhos claros e um certo ar, que será ainda descendente de algum militar das tropas de Massena que premaneceram acantonadas por estas bandas, no tempo das últimas invasões francesas. Talvez trineto de alguma moçoila trigueira e de um desertor do exército francês que no meio da trapalhada da retirada, se tenha esquecido de voltar às fileiras e de quem as fileiras se tenham esquecido.


Na verdade, incomodava-me o recolhimento a que o meu vizinho e amigo, Manuel do Freixo se estava a remeter e não o dispensei da conversa sem voltar a insistir que o achava estranho, muito diferente daquilo a que estava habituado a reconhecer nele.


Depois de mais uns minutos de conversa, o meu amigo Manuel lá começou a desenovelar o problema que o afligia.


- Sabe vizinho?! É que o meu compadre, cada vez que vem cá a casa, atenta-me o juízo, a mim e à mulher, para irmos passar uns dias à casa dele em Lisboa. Ê tenho-lhe dito sempre que nã senhor que tenho aqui munto que fazer na agricultura e que tenho os animais que precisam de ser tratados todos os dias e amais... o que é que vou fazer lá pra casa dele?


Mas tanto ele como a mulher, estão sempre a insistir ca gente pra irmos, pra irmos ver aquilo e as ruas e assim. Tanto insistiram que gente acabámos por pedir a uma vizinha para nos tratar da bicharada e lá fomos, para passar uma semana na casa deles.


-Então ó sô Manel, mas também faz bem mudar de ares e ver coisas diferentes...


-Pois faz vizinho, mas olhe; primeiro, fui-me meter dentro de um andar com gente por cima e por baixo, depois, como aquilo do elevador me faz munta confusão (à minha não faz confusão nenhuma, quela pela-se para andar para cima e para baixo dentro daquilo - olhe caté para ir pró carro, vão no elevador) logo no primeiro dia sobi pelas escadas e ás tantas já não sabia onde estava, nem dava com a saída, disse mal da minha vida. Depois lá apareceu uma mulher que é a porteira, toda cheia de maus modos a perguntar-me o que é que andava ali a fazer. Olhe vizinho, já tava tão xateado que só me apeteceu manda-la aquela parte...


E mais, à nôte, quando já távamos deitados, comecei a ouvir o barulho de água a correr, pensei que alguém tivesse deixado uma torneira aberta e levantei-me, fui ver à casa de banho, nada, fui à cozinha, nada, voltei-me a deitar e a água sempre a correr. Levantei-me outra vez e fui batar à porta do quarto dos mês compadres, quando o compadre me apareceu disse-lhe, olhe que vocemecê tem uma torneira da casa de banho aberta quê tou a ouvir a água a correr. Respondeu-me que não me preocupasse, que era a vizinha de cima a tomar banho.


Diga-me lá vizinho... então a vizinha da outra casa está a tomar banho e a gente ouve como se fosse ali ao pé de nós?


-Pois, é assim em muitos casos sô Manel, nos prédios isso é frequente acontecer.


-Mas ainda o pior, sabe, foi no dia seguinte... eles têm o habito de salevantar pró tarde e eu, alevanto-me sempre cedo, e assim que acordo tenho de me levantar, ir á casa de banho, comer e saír. Assim que me levantei comecei a pensar... quando abrir a torneira da água, vou acordar a casa toda... olhe, até mijei encolhido para não fazer barulho. Depois disse à minha; não vou ficar mais tempo em casa dos compadres, tu se quiseres fica, mas eu vou prá nossa casa, lá é queu me sinto bem. A minha desatou logo num pranto, que ía parecer mal, o que é que os compadres íam dizer, que íam levar a mal concerteza. Olhe vizinho, com tanto pranto e tanta confusão, vesti-me, desci as escadas e vim para a rua, para apanhar ar. Pus-me a andar por ali fora para me distrair e a páginas tantas já não sabia onde é que estava, para cada lado que me virava parecia-me que era tudo igual. Agora é que isto está bonito, pensei cá para mim, como é que vou dar outra vez com a casa dos compadres? Depois lembrei-me de entrar num café e perguntar se alguém conhecia o meu compadre pelo nome. Olhe, aquilo pareciam todos uma vara de porcos a olhar de nariz no ar, nem que sim, nem que não, olhavam para mim como um boi a olhar para um palácio.


Andei naqueles preparos mais de três horas, metia por uma rua, depois por outra, depois por outra e nada de dar com a casa dos mês compadres. Já estava a pensar chamar um carro de praça para me trazer prá minha casa quando apareceram os meus compadres e a minha, todos muito aflitos, a perguntar dondé queu me tinha metido, o que é que andava a fazer ali e sei lá mais o quê. Olhe vizinho, virei-me para eles e só lhes disse; ou vão-me levar já á minha casa, ou então apanho um carro de praça e vou sózinho.


Vamos lá a ter calma, disse o meu compadre. Vamos para casa que está na hora do almoço e depois isso logo se resolve. E lá fomos, almoçamos e depois os compadres levaram-nos a dar um passeio pela Capital, andámos a ver uns largos grandes com umas estátuas de reis e uns jardins também muito grandes e bonitos, até quase à hora do jantar. O problema, foi depois, quando voltámos a casa e ele enfiou o carro num buraco por baixo do prédio e para sair dali, teve de ser outra vez de elevador. Olhe vizinho, deu-se-me um aperto no peito e uma zoeira na cabeça, queu voltei-me prós compadres e disse-lhes, vocês desculpem mas eu não aguento viver aqui mais tempo, tenho de voltar para a minha terra e para a minha casa, para os meus animais e para a minha horta e conversar com os meus amigos, isto aqui não é para mim.


E pronto, depois de jantar, vieram trazer-nos a casa, contra a vontade da minha, mas ê não aguentava estar lá nem mais um minuto.


Ri-me, mas compreendi a angústia do meu amigo Manel do Freixo, um homem que nasceu no monte e tem passado a vida toda na completa liberdade e harmonia com a natureza e os elementos.


-Vá sô Manel, isso agora já tudo passou, já não vale a pena andar aborrecido, vai ver que os seus compadres perceberam que a cidade é para uns e o campo para outros.


-Pois é vizinho... só que a minha ainda anda de trombas...


-Isso passa-lhe, vai ver...


-Que remédio senão passar-lhe... a mim, é que não voltam a apanhar lá por Lisboa!

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Os carros, ou... as pessoas...

Os carros são como as pessoas!

Perdoem-me se afirmo tão peremptoriamente esta semelhança mas, já se detiveram alguma vez a comparar os dois?

Não?

Então, convido-vos a fazer esse exercício:

Comecemos pelo aspecto, ou... pela fisionomia, como preferirmos...

Se olharmos com atenção e durante algum tempo, para a frente de um carro, começamos aos poucos a notar algumas semelhanças com um rosto humano, sobretudo se estivermos em frente de um modelo de carro mais antigo... tipo, anos 50, 60 ou 70. Assim, notamos que à semelhança dos olhos humanos, o carro possui posicionados em cada lado da "face", um farol, o qual cumpre a finalidade de lhe iluminar o caminho. Ao centro da mesma "face", o carro possui um nariz; a grelha por onde entra o ar que vai atravessar as alhetas do radiador que por sua vez arrefece o líquido que irá manter o motor a uma temperatura de funcionamento aconselhável. O mesmo sucede com os seres humanos, que inspiram o ar até aos pulmões e por sua vez, esse ar irá manter, entre outras funções, a da temperatura sanguínea.

Passemos agora ao funcionamento:

Tal como os seres humanos necessitam de se alimentar, para proporcionar ao organismo a energia suficiente para se manter activo e em funcionamento, também os carros necessitam de combustível para que o seu motor funcione. Mas, para que se dê início a esse funcionamento, tanto nos carros como nos humanos, é necessário que haja uma ignição. Nos humanos, essa ignição dá-se à nascença e na maioria dos casos, mantém-se até à morte. Porém acontecem excepções, quando a pessoa por algum motivos sofre de uma perda de sentidos, ou chega a perder por completo os sinais de vida. No primeiro caso, após alguns exercícios, ou de forma natural, a pessoa recobra os sentidos, no segundo, necessita que lhe apliquem o desfibrilhador para que se volte a dar a ignição e a actividade vital seja retomada. Passa-se o mesmo com os carros que possuem uma bateria e um motor de arranque, a primeira que acumula energia eléctrica que transmite ao segundo que por sua vez envia energia para a vela que emite uma faisca, a qual faz inflamar o combustível, o qual misturado com o ar admitido e pulverizado para dentro do cilindro, provoca uma explosão que empurra um piston, o qual, ligado a um êmbolo faz girar um veio em cuja extremidade se encontram rodas dentadas de uma engrenagem que ligada a uma caixa de velocidades e depois a dois veios acopulados às rodas dianteiras ou traseiras, colocam o carro em movimento.

A maior semelhança, contudo, verifica-se a nível de "modelos". Tal como se passa com os carros, também os seres humanos correspondem a modelos específicos; os pequenos e largos, os compridos e esguios, os rápidos, os lentos, os possantes que transportam mercadorias pesadas, os frágeis, os elegantes, os rústicos, os feios, os bonitos, etc.

Mas...(ou, e) tal como os carros, também os seres humanos cumprem a missão de percorrer estradas, auto-estradas, caminhos certos e incertos, becos, pontes túneis, cruzamentos, etc.

E ambos... ao sentir que é chegado o fim do tempo que lhes cabe, recordam com saudade essas estradas, esses caminhos que percorreram e... no caso dos carros, recordam os rostos que conheceram... no caso dos homens... recordam os carros que conduziram...

;))))))

És tão parvinho Bartolomeu... deves achar que tens muita gracinha, deves, deves!

domingo, 3 de julho de 2011

O Espírito Santo

Enquanto depenicávamos umas tirinhas de um saboroso queijo de cabra e bebericávamos em pequenos goles, um moscatel bem fresco, íamos dissertando sobre o estado político e social do nosso país.
Em dada altura, o amigo que me fazia companhia, assumindo um ar desolado e, com o olhar perdido ao longe na paisagem, afirmou sem me olhar: isto nunca mais se levanta, a malta anda toda desmotivada, já ninguem acredita nos políticos nem na justiça... e abanava a cabeça de um lado para o outro enquanto desfiava o rosário de lamentações.
Como não manifestei imediatamente qualquer opinião acerca do que acabara de dizer, o meu amigo voltou-se para mim e perguntou: não és da mesma opinião?
Em parte, respondi-lhe.
-Em parte, como? Não notas que anda toda a gente descrente e desmotivada?
-Sim... mas, em minha opinião, aquilo em que muitos deixaram de acreditar, chama-se Espírito Santo!
-Bah! Lá vens tu com a conversa da religião...
-Espírito Santo é algo muito diferente de religião, meu amigo. Espírito Santo é vontade, é fé mas, fé no futuro, um futuro que tem por base a união de todos os seres humanos.
Olhou-me novamente com os músculos do rosto contraídos...
-Que é que estás para aí a dizer, pá?
-Falo de algo simplicíssimo, algo de que todos falam mas de que poucos fazem uma correcta interpretação e, a que poucos dão a devida importância. Diz-me uma coisa... já rezaste, tenho a certeza. E no final da oração, fizeste o sinal da cruz e proferiste as palavras sacramentais, evocaste o nome do Pai, tocando a testa com as pontas dos dedos da mão direita, do Filho, tocando com as pontas dos dedos da mesma mão na zona do peito e, do Espírito Santo, tocando com os dedos no ombro esquerdo e em seguida no ombro direito, finalizando com a palavra sagrada Amen. Alguns historiadores e antropólogos, são de opinião que a origem dessa pelavra, remonta ao culto egípcio a Amon, considerado pelos egípcios, o deus dos deuses, criador de toda a vida. Bom, mas isso agora não está em análise. Referia-me ao sinal que é feito quando se evoca o Espírito Santo, após ter-se evocado o nome do Pai, em cima e o do filho em baixo e... como todos muito bem sabemos, de uma forma ou de outra, aquilo que a Humanidade tem buscado ao longo de toda a sua existência, tem sido precisamente a forma de estabelecer a ligação, a comunicação entre o Pai e o Filho, entre aquilo que está em cima e aquilo que está em baixo. E é num determinado ponto, a meio do caminho entre o Pai e o Filho, que se encontra o Espírito Santo, o Espírito Unificado dos Homens, a caminho do Futuro!
Notei que aquilo que acabara de dizer, fêz o meu amigo reflectir. Fêz-se silêncio durante alguns momentos. Por fim lá concluiu... - vou reflectir melhor acerca disso e depois voltamos a falar!
;)

sábado, 2 de julho de 2011

Quem?!

Quem não se deixou já conquistar pela força indomável do desejo?
Quem, não socumbiu à sedução, à vontade forte de provar, de possuir... de saborear?
Quem, não se abandonou impotente à avassaladora volúpia, à inebriez de um prazer?
Quem não foi já, vítima desse desejo?
Quem, não viu os seus desejos serem desejados, serem assaltados, conquistados pelos desejos dos outros?
Quem não sentiu os olhares maliciosos do desejo, cravados no seu olhar?
Quem não chorou já, noite dentro, possuído pela raiva do desejo ardente?
Quem não gritou já, do cimo de uma ponte, do alto de um prédio... do fundo de um mar... pelo desejo de um desejo?
Quem?!

quinta-feira, 30 de junho de 2011

...

Se alguém conta encontrar certezas, nas frases incertas que escrevo, desengane-se. Todas as que tenho são feitas de dúvidas.
Pérolas que fui carinhosamente juntando num fio, que sempre desejei translúcido, mas que tantas vezes se apresenta opaco, impossível de desvendar.
Fio tecido em várias existências, que, de tão continuamente renovadas, se descobrem velhas, tão velhas quanto o mundo… se for verdade… se for certo que o mundo exista.

domingo, 26 de junho de 2011

Os Homens são todos iguais...!

Conheço dois homens da mesma idade (80 anos)mas, de condição diferente. Um, conheço-o à menos tempo, é uma pessoa simples do campo, analfabeto. Ao outro, conheço-o desde criança, é médico, académico, intelectual. Tenho-os a ambos em muita consideração, são ambos muito bons, sempre prontos a ajudar o próximo e a partilhar conhecimento. O rural, possui terras, animais, árvores de fruto, vegetais e, um conhecimento do tempo, da terra e das coisas simples, impressionante. O outro, dedicou a vida à profissão e com ela, acumulou fortuna à que já possuía de herança. Possui bens materiais e um conhecimento imenso de medicina e de outras ciências.
Chegaram ambos a um ponto do percurso das suas vidas em que o fim natural pressentem estar próximo.
O rural, quando conversamos, conta-me com saudade os tempos difíceis em que pouco ou nada possuía, para além da fome e da certeza que se não conseguisse trabalhar para os grandes agrários, difícilmente teria uma refeição. Com a mesma saudade, um brilho intenso no olhar e um sorriso maroto a bailar-lhe nos lábios, recorda as romarias e os bailaricos dos tempos de juventude, quando pedia uma bicicleta emprestada a um vizinho, percorria 40 kms por estradas de terra, para ir a um bailarico, e voltava já noite avançada, com "o grãozinho na asa" e uma satisfação a encher-lhe o peito até mais não, por haver dançado 2 ou 3 modinhas com uma rapariga trigueira que já andava a catrapiscar desde o ano passado, quando a vira na feira anual acompanhada dos pais.
O médico, quando conversamos, conta-me com saudade os tempos de faculdade, em Coimbra. Depois, salta para a Guiné, onde já médico cumpriu o serviço militar. Tempos horríveis, recorda com sofrimento e angustia. Quando o primeiro filho nasceu, já se encontrava no meio daquele inferno. Depois, anima-se-lhe um pouco o olhar, quando recorda o início de carreira, já regressado do ultramar, os sucessos nos casos difíceis, as operações complicadas, os congressos onde perante colegas estrangeiros, expunha novos processos de tratamento com que obtivera sucessos. Foi, pode dizer-se uma estrela. Durante anos, deslocou-se semanalmente ao Porto, sua Terra Natal, para consultar e operar gratuitamente os mais necessitados. Um santo!... como muitos acharam que lhe deviam chamar.
Conheço dois homens da mesma idade (80 anos)mas, de condição diferente...
Não vivem muito longe, um do outro. Muitas vezes penso: se um acaso juntar no mesmo local estes dois Homens que conheço, e partirem desta vida no mesmo instante... será que o rural vai emprestar um pouco da alegria e do brilho do seu olhar, ao médico, àquele homem triste que a tantas vidas deu alento, saúde, felicidade?
Estou certo que sim, merece-o sem dúvida!

sábado, 18 de junho de 2011

Basta-me um cordel!

Pouco passava das 6 horas da manhã, fui acordado pelo ruído ao longe, de uma máquina agrícola.
Parece-me uma enfardadeira, pensei...
Enfardadeira, é uma máquina que atrelada a um tractor, percorre o campo que antes esteve semeado com um cereal, o qual foi previamente ceifado, debulhado e ajuntado e o compacta num bloco paralelipipédico a que vulgarmente se dá a designação de fardo de palha.
Levantei-me após algumas espreguiçadelas, desjejuei e saí para o campo. O ruído ritmado da enfardadeira continuava a chegar-me, trazido pelo vento.
A minha curiosidade, levou-me a seguir no sentido de onde me chegava o som da enfardadeira. Após ter transposto 2 cabeços, lá estava. Num terreno plano, máquina e homem, completavam uma tarefa que tem perdurado ao longo dos anos. Continuei a percorrer os campos até chegar ao local. Era o terreno do Manel Zacarias.
-Bom dia patrão, lançou-me ele.
-Bom dia sô Manel, retribui.
-Então anda a passear?
-É verdade sô Manel, ouvi a máquina e vim até aqui... precisa de ajuda?
Riu-se e respondeu-me; Então se quer, pegue aí nessa forquilha e ajude a ajuntar a palha, sabe que isto como está, não se pode perder nada. E este ano como há mais, o preço vai baixar... No aproveitar é que está o ganho!
Eis uma boa lição de economia, pensei... "no aproveitar é que está o ganho"... e é tanto aquilo que desaproveitamos, queixando-nos em seguida, que o dinheiro não chega para nada, que está tudo caríssimo, etc. etc.
Depois de enfardar, foi preciso empilhar os fardos. O processo obedece a uma regra: Os fardos são colocados uns em cima dos outros, aos pares, mas entre eles, tem de ficar um espaço aberto, por forma a que o ar circule livremente e a palha não corra o risco de apodrecer.
Eu de um lado e o sô Manel do outro, lá fomos pegando e empilhando os fardos, formando torres de 4 andares.
É fantástico como o trabalho em equipe pode ser gratificante, apesar de duro. Passado pouco tempo, entre conversa e dicas que o sô Manel me foi oferecendo, em troca da força que lhe fui oferecendo, notei que já havíamos empilhado duzentos e tal fardos.
Era meio-dia, hora que dita a obrigatoriedade de abandonar o trabalho e chegar-se à mesa. O corpo tem religiosamente de ser alimentado, afirma o sô Manel.
E eu, entre risadas, devolvo-lhe; pois... e eu tenho de ir pôr um cinto, esqueci-me, e tenho passado a manhã a puxar as calças para cima.
O sô Manel, depois de uma enorme gargalhada, tira um cordel do bolso e diz-me: Ó homem, já podia ter dito, "andamaí com as calças na mão há um ror de tempo sem necessidade"... tome lá este cordel e ate as calças com ele... olhe que a pior coisa que pode acontecer a um homem, é andar com as calças na mão.
E ria-se "que nem um perdido" enquanto me explicava a forma simples de segurar as calças com um pedaço de cordel!
Despedimo-nos, disse-me que agora a palha ía ficar enfardada, na terra, até aparecer comprador, se não aparecesse ninguém, voltava lá com o tractor e guardava tudo no palheiro.
Voltei para casa, depois de dar um forte aperto de mão ao sô Manel, que me agradeceu a ajuda, quando era eu que lhe devia pela conversa e pelo trabalho que me proporcionou.
Quando voltava a casa, atravessando de novo os mesmos campos, reflectia nas palavras do sô Manel «a pior coisa que pode acontecer a um homem, é andar com as calças na mão».
Efectivamente... não há nada pior para um homem... e afinal, a solução para que não se ande com as calças na mão, reside num simples cordel... um cordel que serve para atar, para segurar, para unir, para criar cumplicidade e sustentabilidade.
Muito obrigado sô Manel... pelo cordel que me ofereceu!

sábado, 7 de maio de 2011

O Homem e o Mundo

O Homem não se cansa de contemplar o céu, a terra, a água e o fogo... o Homem não se cansa de se contemplar a si mesmo.
http://www.youtube.com/watch?v=-rCd5uGaM8s&feature=fvst

domingo, 1 de maio de 2011

Mãe!

Mãe...
Ser de Saber
De verdade e
De bondade
Concebeste-me
Geraste-me
Alimentaste-me
Deste-me o Ser
Ensinaste-me o Mundo
E a ganhar a liberdade.
Amo-te, Mãe!
Acima de tudo,
Sei que me amas.
Que darias a vida por mim.
Que me dedicas, todos os dias da tua Vida!
No entanto, eu dedico-te, somente...
Um dia por ano, da minha vida...
Amo-te Mãe!
;)

terça-feira, 26 de abril de 2011

Terra-Mãe

Transporta-me a ti um vento forte
Sussurra-me teu nome, a brisa morna
De ti, nunca me separará a morte
A ti, todo o meu ser agora torna

Depende de ti, toda a existência
De ti nasce a seiva que me percorre
De ti, nunca eu sinto a ausência
Em ti, tudo nasce, se cria e morre

És imensa, protectora e forte
Dás. Ralhas. Castigas e amas
Em ti se joga, da vida a sorte
Por ti se empunham e disparam armas

Por ti, corro a defender
Aquilo que nos dás a todos, igual
Aquilo que alguns querem vender
Aquilo que é, património mundial

Utópicos, loucos, queremos possuir,
Comprando partes do teu corpo amado
Esquecendo o prazer que é, fruir
Dos prazeres que colocas ao nosso lado

Mas tu, jovem anciã, lá vais rodando,
Indiferente, às nossas tolas vaidades
Oferecendo-nos o caminho e embalando
Os sonhos com que construímos realidades

sábado, 23 de abril de 2011

Coisas dea minha Terra III

Por vezes acontece ficarmos em silêncio.
Ele, no seu ar sempre estático, como que a dizer-me: estou aqui, porque nunca daqui saí.
Eu, hesitante, questiono-me intimamente se aquilo que ele conhece, confrontado com o que eu conheço, corresponde de alguma forma a uma qualquer realidade.
É estranho, a forma persistente como nos preocupamos em encontrar, em identificar a realidade, uma realidade, algo que caiba sem hipótese de discussão, dentro de um padrão tido como irrefutável.
Estávamos assim, eu e o meu moinho há um par de horas, olhando ambos o horizonte mas, vendo realidades diferentes, quando ele me diz peremptório: o tempo vai mudar.
Hmmm?!
O tempo vai mudar, repetiu-me.
Ah sim? Tens a certeza?
Absoluta!
Talvez me pudesses desvendar a fórmula que te permite chegar a essa conclusão...
Fácil, basta que repares na mudança da direcção do vento. Há pouco soprava de sul, agora rondou para noroeste. Quando soprava de sul, puxava a chuva, agora, começa a afastar as nuvens mais grossas. Se continuar a rondar no mesmo sentido, vamos ter sol em pouco tempo... sol e vento. Adoro o vento, lembra-me os tempos áureos em que o moleiro aqui vinha, alinhava-me de acordo com a direcção do vento, soltava-me as velas e os meus mastros começavam a rodar, impulsionando as mos que transformavam o grão em farinha e farelo.
Sabes Bartolomeu, poucas pessoas dão valor ao farelo, muitos, consideram-no até um produto sem valor, algo a desconsiderar. No entanto, era com ele que se engordava o gado; o porco, a galinha, etc. que eram a base da subsistência de todo esse povo que cavava a terra e que dela retirava o sustento e... a riqueza dos grandes proprietários.
É verdade meu amigo, respondi-lhe. Mas então, dizes que os ventos são de mudança... queres dizer que é lícito manter-se a esperança de que tudo mude, pelo menos, que algo mude, que o sol volte a brilhar?
O vento já mudou muitíssimas vezes, Bartolomeu. Aquilo que ainda não mudou, foi a forma que os homens encontram para aproveitar esses ventos, para tirar partido desses ventos, do mesmo modo que o moleiro o aproveita, transformando o grão em farinha que alimenta a alma e o farelo que engorda a carne. Entender o mundo, passa também pela forma como se vê e entende o nosso semelhante e ainda... pela vontade de construir conjuntamente, de aproveitar a força individual e transforma-la numa força comum, indomável, capaz de se sobrepor aos ventos nefastos, capaz de conduzir a humanidade, de a tornar próspera e sobretudo, consciente.
Adoro o silêncio do meu moinho!

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Poema

... de Pedro Homem de Mello

"Povo"

Povo que lavas no rio,
Que vais às feiras e à tenda,
Que talhas com teu machado
As tábuas do meu caixão,
Pode haver quem te defenda,
Quem turve o teu ar sadio,
Quem compre o teu chão sagrado,
Mas a tua vida, não!

Meu cravo branco na orelha!
Minha camélia vermelha!
Meu verde manjericão!
Ó natureza vadia!
Vejo uma fotografia...
Mas a tua vida, não!

Fui ter à mesa redonda,
Bebendo em malga que esconda
O beijo, de mão em mão...
Água pura, fruto agreste,
Fora o vinho que me deste,
Mas a tua vida, não!

Procissões de praia e monte,
Areais, píncaros, passos
Atrás dos quais os meus vão!
Que é dos cântaros da fonte?
Guardo o jeito desses braços...
Mas a tua vida, não!

Aromas de urze e de lama!
Dormi com eles na cama...
Tive a mesma condição.
Bruxas e lobas, estrelas!
Tive o dom de conhecê-las...
Mas a tua vida, não!

Subi às frias montanhas,
Pelas veredas estranhas
Onde os meus olhos estão.
Rasguei certo corpo ao meio...
Vi certa curva em teu seio...
Mas a tua vida, não!

Só tu! Só tu és verdade!
Quando o remorso me invade
E me leva à confissão...
Povo! Povo! eu te pertenço.
Deste-me alturas de incenso,
Mas a tua vida, não!

Povo que lavas no rio,
Que vais às feiras e à tenda,
Que talhas com teu machado,
As tábuas do meu caixão,
Pode haver quem te defenda,
Quem turve o teu ar sadio,
Quem compre o teu chão sagrado,
Mas a tua vida, não!

terça-feira, 19 de abril de 2011

Plano para salvar a economia portuguesa.

Os Finlandeses e os Alemães têm razão. O empréstimo de oitenta mil milhões de euros, não poderá salvar a economia portuguesa, porque a nossa recuperação económica, está dependente da nossa capacidade de produzir e de exportar. No entanto, estas duas actividades não têm condições de recuperação, porque os investidores não se dispõem a arriscar o seu dinheiro e porque o crédito lhes custa caro.
A solução, em lugar de passar pela negociação de empréstimos, de taxas de juro e de prazos para pagamento, passa sim, pelo pedido de anulação da dívida pública, saída do euro e desvalorização do escudo. A par destas três medidas, a adopção de uma política de importação controlada, com a proibição de importação de produtos equivalentes, produzidos internamente.
Com a anulação da dívida externa, deixaria de haver preocupação com o pagamento de juros e de amortização do capital em dívida, passando o Pib a reverter para as contas públicas e para o apoio aos investimentos de recuperação económica.
O retorno à moeda antiga e a sua desvalorização, os euros que pertencem a cada cidadão, passariam a render mais, sendo essa medida um incentivo ao investimento e trazendo ainda um incentivo e uma sensação imediata de alguma recuperação do poder de compra. Havendo esse incentivo e consequentemente mais investimento, surgiriam novas indústrias e a criação de mais postos de trabalho. O retorno à moeda antiga, acompanhado da sua desvalorização e o consecutivo aumento do investimento privado, acompanhado de uma política de protecção, de uma política mais justa de impostos, permitiriam a reactivação de indústrias que foram desactivadas desde a entrada de Portugal para a UE. Por exemplo a indústria siderurgica, a indústria vidreira e cerâmica, a indústria das pescas, conservas e transformação e embalagem, a agricultura, e pecuária, complementadas por normas restritivas à importação, certamente retomariam a actividade e a relevância para a economia interna, que já conheceram num passado ainda recente.
Todas estas medidas, acompanhadas de uma política governamental, séria e transparente, empenhada em requalificar a educação, a formação profissional, em tornar a justiça mais eficaz e célere, iriam certamente criar nos portugueses a vontade necessária para arregaçar as mangas e colaborar no reerguer deste país que possui todas as condições para ser próspero e produtivo.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Coisas da minha Terra II.

Ontem, ao final do dia, voltei a visitar o "meu" moinho.

Chamo-lhe "meu", porque o conheço ha 15 anos, já ele se encontrava ha muito reformado, e desde o primeiro dia em que nos vimos, estabeleceu-se entre nós uma relação de amizade e cumplicidade. Quando nos encontramos conto-lhe coisas deste tempo, que ele compara com as coisas do tempo dele. No final, antes de nos despedirmos, soltamos ambos umas boas risadas, porque concluímos que apesar dos séculos que passaram entre as coisas de então, e as coisas de hoje, nada mudou. As pessoas são as mesmas, os campos, os ventos, a chuva o sol.

A minha segunda visita no mesmo dia, deveu-se à minha vontade de lhe contar que tinha colocado um post no meu blog, onde pela primeira vez, o tinha mencionado.

Emocionou-se, agradeceu-me a atenção e quis saber concretamente, sobre o que havia escrito.

O meu moinho já sabe o que são computadores e internet e redes sociais, por vezes, quando o visito, levo comigo o portátil e, encostado às suas paredes, vou escrevinhando as minhas impressões e reflexões. Quando pela primeira vez conversámos acerca deste assunto e lhe expliquei que actualmente a informação circula em tempo real, graças a essa evolução conhecida por internet, contou-me que no tempo dele, os moleiros e por conseguinte os moinhos, por se encontrarem em locais elevados e à vista uns dos outros, comunicavam entre si por sinais préviamente estabelecidos, os quais lhes permitiam saber e transmitir as notícias mais importantes. Como foi o caso em Novembro de 1810, quando as tropas francesas do General Massena, dali retiraram para Santarém.

Ontem, ainda conversámos acerca da ilusão humana em possuir, enquanto para oeste, o sol que viramos nascer, se recolhia, espalhando novamente nos céus aquela poalha incandescente que recorda ao mundo o fogo purificador, e que faz renascer a alma dos seres e os conduz à certeza de um novo amanhã.

domingo, 17 de abril de 2011

Coisas da minha Terra I.

Hoje, saí muito cedo. Atravessei pelos campos até chegar a um moinho que fica num alto. Ai chegado, sentei-me sobre uma mó de pedra abandonada e esperei pelo nascer do sol. Á minha volta, a vida acordava. As plantas ainda molhadas do orvalho, como que despertavam, a passarada chilreava caçando insectos. De resto, só o som do vento brando e ligeiramente fresco a deixar adivinhar o nascer de mais um dia de calor primaveril. Quando a luz do sol rompeu, primeiro alaranjado e depois brilhante e quente e começou a fazer realçar as tonalidades dos campos em volta, encheu-se-me o peito de alegria, senti o entusiasmo, o desejo forte de fazer, de construir, de ser parte activa de um mundo em permanente mudança e aperfeiçoamento. Pensei então: o mundo é realmente muito bonito! De súbito assaltou-me outro pensamento; se o mundo é efectivamente belo, cómodo, agradável, se a terra nos dá tudo o que necessitamos para nela viver... porquê perseguir a riqueza, o sucesso? Porquê a ganância de possuir, escondida por trás da capa da evolução? Afinal... o que representa efectivamente a evolução? Não continuamos a ser, como sempre fomos, mortais? Não continuamos a ser, como sempre fomos, falíveis? Não continuamos a ser, como sempre fomos, sonhadores? Não continuamos a ser, como sempre fomos, idealistas? Fez-me bem este nascer do sol... fez-me bem, ver o mundo iluminado, fez-me bem ouvir a passarada. Ainda me invade o olfato, o cheiro da terra humida!

sábado, 16 de abril de 2011

Sinto que sinto, o que sinto.

Como caçador que sai... Antes do romper da alva. E pelas quebradas vai... Correndo a lebre que salta. Sinto que me chamam o Vento, A Terra, o Sol e o Mar. E o passar do tempo, lento, E o desejo de não voltar. Sinto sede de universo, De lonjora e mansidão. Do aconchego no regresso, Que me oferece o meu chão. Sinto sede de voltar, Sem nunca chegar a partir. De te ver, de te abraçar, De te beijar, e sentir. Sinto medo de te inventar, Na lonjura da razão. De te ter, de te encontrar, De segurar tua mão.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

O Homem.

Diluem-se os tempos numa luz futura, que após outra, sucessão infinita de dias e de noites, de choros e alegrias, de conquistas e repousos, se reconstrói. Derrotas não existem, porque o Homem será eternamente guerreiro, à conquista de um reino imaginário, onde os sonhos e as mãos se confundem... e os passos, são eternamente leves.

sábado, 12 de março de 2011

Ás vezes...

Ás vezes, sou o espanto de mim mesmo
Ás vezes, olho o mundo e não o entendo
Ás vezes, sinto-me uma rocha no deserto
Ás vezes, sinto-me da razão, tão perto
Ás vezes, sinto a força brotar do medo
Ás vezes, descubro soluções a esmo
E assim, fazendo e desfazendo, vou gastando os meus dias, vou chorando as alegrias e as angústias suspirando, alimentando a esperança, alimentando o sofrimento de ter nascido esperando.
(Dedicado ao meu amigo Henrique-da-Travessa e ao seu ovo de Colombo)
;)

quinta-feira, 10 de março de 2011

Sonhos!

Todas as minhas raizes se afundam, no terreno imaginário dos sonhos.
Todos os meus desejos, todos os que tanto quis, e nunca fiz; se guardam e resguardam ainda, nos sonhos... naqueles sonhos que ainda não sonhei e que sonho, sonhar.
Todas as minhas certezes, são sonhos... sonhos passados, sonhados.
Todas as estrelas que compõem o firmamento, são sonhadas, nos meus sonhos. Elas não existem na verdade. Somente brilham, de noite, porque as sonho!

quinta-feira, 3 de março de 2011

O Pensamento e a Liberdade

Aquilo que pensamos, não é da nossa exclusiva vontade!
O pensamento não é livre, ao contrário do que frequentemente supomos.
Cada pensamento é gerado pela influência de muitos outros, captados pelos nossos sentidos e transmitidos por alguém. Ou seja; os nossos sentidos são como uma antena de televisão que capta o que alguém está a transmitir, transfere a informação para a nossa cabeça que processa essa informação, do mesmo modo que um televisor ou um computador, servindo essas informações recebidas, para construir as nossas decisões.
É esta a dinâmica universal; o fluxo e o refluxo, a emissão e a recepção, resultando na circulação da informação.
Mas, será que a criação de informação tem um limite?
Ou terá a nossa capacidade de armazenamento dessa informação, um limite?
E, se esse limite existir; sérá o fim, a extinção da raça humana?
Descartes afirmou; "Cogito, ergo sum".
Estaria o filósofo a antever o fim da humanidade, ou a demonstrar-nos a nossa incapacidade de sermos verdadeiramente livres?!

quarta-feira, 2 de março de 2011

Ambíguo

Ambíguo.
Este termo é frequentemente empregue, para caracterizar alguém com quem é preciso ter-se cuidado, porque nunca se sabe, para que lado irá virar-se.
No entanto, esta caracteristica, poderá identificar também uma pessoa que, tanto pode ser isto, como aquilo. Não lhe chamaria polivalente, mas sim, uma pessoa capaz de ver, de sentir, de tentar e de arriscar, para além daquilo que é convencional, e, ou seguro.
Ambíguo, poderá relacionar-se então, como a capacidade extrasensorial, dilatada.
Ou seja, uma capacidade dúctil que permite a quem a possuí saír de si mesmo e expandir-se sem amarras de qualquer espécie que a contenham.
Por outro lado, penso não ser desejável, a generalização desta "qualidade".
Imagine-se que toda a gente se tornava de um momento para o outro, ambígua e dúctil?!

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Éramos pequeninos, mas danados prá porrada!

Sou um apreciador de castelos.
Não é a imponência da obra que atrai a minha atenção, apesar de considerar de extrema significância, um conjunto de pormenores, relativos à construção em si, como por exemplo o esforço que foi preciso dispender, para preparar o terreno de implantação, assim como o transporte dos materiais necessários e a construção própriamente dita, dado que, na sua maioria, os castelos encontram-se alcandorados em locais de difícil acesso. Sendo necessário acrescentarmos ainda, a todas estas dificuldades, o desconhecimento de meios tecnológicos e ferramentas, sendo tudo feito à base da força humana e animal.
Mas, como dizia, aquilo que atrai a minha atenção, são outros pormenores, tais como a baixa estatura dos homens que os habitavam e a exiguidade dos espaços, tais como a estreiteza das escadas de acesso às ameias. Em alguns castelos que visitei, notei que as portas, sobretudo as que dão acesso às torres, nas ameias, são baixas e estreitas, o que revela a pequena estatura dos homens daquela época. Esta observação contrasta com a valentia e força que demonstraram possuir, ao defender-se e muitas vezes, a reprimir o ataque dos invasores e sitiantes.
Conclusão: éramos pequeninos, mas danados prá porrada!
;)

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Eu, Tu e o Ovo...

A proposito do que escreve Salvador Massano Cardoso no seu "Esquecimento", em http://quartarepublica.blogspot.com/ e do mecanismo que remete as memórias menos gratas para um a parte recôndita do nosso cerebro, como forma de auto-protecção, lembrei-me da evolução humana ao longo dos milénios.
Cientistas defendem que a origem da nossa memória, está aquém da nossa existência. Ou seja, para que o ser humanos pudesse existir, foi necessário que existisse préviamente memória, talvez somente uma memória genética.
Á luz do conhecimento actual, percebemos com facilidade essa absoluta necessidade, a qual nos remete incomensurávelmente para a velhíssima questão... do ovo e da galinha e, qual dos dois terá aparecido primeiro, sendo que só uma galinha poderá fabricar um ovo, mas só um ovo, poderá dar origem ao aparecimento de uma galinha.
Tal como com a memória e o esquecimento, colocam-se ao homem mistérios só solúveis, ainda no campo espiritual, o material... bom esse, parece que se reconstroi a cada instante.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Ciência, técnica... (e) ou magia?!

Ah e tal... porque a técnica tem algo de magia!
E a ciência, o qué que tem?
Tão... a ciência é que cria a técnica, dá-lhe origem, fa-la surgir...
Ah sim?! Então, quando um cirurgião executa com êxito uma operação de alto risco, intervieram no processo, somente a ciência e a técnica... é isso?
Não, claro que interveio também o homem.
Ahhh!!!
Então e qual foio papel do homem, nesse processo?
Peraí... então o homem, aí, foi ... hmmm foi o executante da técnica, apoiado no conhecimento científico!
Pois... então e se o resultado da mesma operação, for desastroso?
Bom... nesse caso, é porque alguma coisa falhou.
Falhou... como?
Tão... ou a técnica aplicada não foi de acordo com o que a ciência determina, ou o homem não executou a técnica como devia...
Pôzé... então... e se durante a operação, o homem encontra imprevistos e decide experimentar algo que a ciência e a técnica não reconhecem?
É um risco e um recurso!
E se esse risco e esse recurso, resultam com sucesso?
Optimo!
Então e onde é que cabe a magia, no meio disto tudo?
E lá vens tu com a magia... xiça qué xato!
Então, parece-te que o facto de o homem não ficar paralizado perante o desconhecido, mas sim, tentar a descoberta de um novo caminho, perante o aparecimento de uma barreira, não se pode classificar de mágico, ou de magia?
Claro que não, pá! Repara por exemplo nas experiências feitas com ratos, em laboratório. Quando um rato é colocado à entrada de um labirinto e no outro extremo do mesmo, é colocado um pedaço de isco, o rato encontra sempre o caminho para chegar ao isco.
Hmmm... então, queres dizer que; quando buscamos algo, é porque temos a certeza que existe, mesmo que desconheçamos completamente o seu paradeiro?!
Pois! Tázaver como chegaste lá!?
E a isso não podemos chamar magia?!
Porra pá... já me táz a xatiar com essa cena da magia!

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Mentira, ou talvez não...

Para podermos construir uma ficção, precisamos de nos "socorrer" de elementos concretos e reais, dar-lhes um arranjo diferente, dispondo-os de forma a que, os nossos sentidos, possam construír com eles, uma nova imágem, a qual passará em dado momento, a substituir com a mesma veracidade, a imágem anterior, que deixou de ser real.
Assim, constroi-se uma mentira, ou uma nova realidade?

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A influência...

Um dos aspectos que motiva o desenvolvimento da sociedade, é a influência.
A influência, manifesta-se de diferentes formas e tanto pode acelerar um processo, como retê-lo.
Em sociedade a influência, resulta habitualmente determinante e move-se na maioria das situações, a nível do pensamento.
Quantas vezes somos compelidos a avançar, ou a ficarmos parados numa determinada acção, por influência de um pensamento?!
Quantas vezes decidimos em função do conhecimento do pensamento alheio, relativamente à acção que pretendemos levar a cabo, sem nunca termos a certeza desse pensamento, mas deixando que as nossas acções sejam por ele influênciadas?!
Quando conseguimos afastar-nos desses pensamentos, os quais se encontram habitualmente amarrados a regras e a formas, na sua maioria religiosas, encontramos então a nossa espiritualidade, ou seja; ficamos a sós com nós mesmo, com a essência daquilo que somos, daquilo que é, com efeito, responsável por toda a criação e pelo resultado da mesma, quer a nível pessoal e individual, como a nivel global.
«É por isso que somos modernos. É por isso que não somos contemporâneos do futuro»
Mas somos inexorávelmente responsáveis pela sua (re)construcção.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

De onde surge a solução...?!

Perante o surgimento de um qualquer problema, tendemos a concentrar-nos em encontrar a forma de o solucionar.
Normalmente, após pesar e avaliar o problema de diversos ângulos, encontramos aquela que nos parece ser a única forma de o resolvermos.
Quanto maior ou mais difícil nos parece o problema, maior é a tendência para concluírmos que a única forma de o resolver, é também ela difícil e complicada, o que nos conduz muitas vezes a um estado de desespero e desânimo.
Contudo, por vezes, surge-nos quase do nada, uma segunda hipotese, simples e muitas vezes, contrária àquela que tinhamos encontrado e que nos parecia ser absoluta.
E são tantas as vezes em que essa segunda hipotese surge de onde nunca imaginámos que pudesse surgir...