quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Houve Trampa no Bêco!

- Nome?
- Parco Sobre Despesa!
- Morada?
- Bairro Ocidental Europeu!
- Idade?
- Ora... nasci em Maio de 74... 37 anos e... 5 meses?!
- Muito bem; então conte-me a ocorrência...
- Então Meretíssimo, passou-se o seguinte: No primeiro dia do mês passado, de manhã ainda cedo, abri a janela e coloquei o alguidar de plástico que comprei na loja dos chineses com a roupa lavada lá dentro, no parapeito e, mal acabei de estender o primeiro par de cuecas, o meu vizinho da frente, o Senhor Seguro Patrício de Sousa, abriu também a janela dele e veio estender a roupa. Quando olhei para a roupa dele e vi que estava bastante encardida, disse-lhe num tom amigável que deveria mudar de detergente e passar a usar o mesmo que eu uso, que deixa a roupa tão limpa, que até parece nova. O meu vizinho Seguro Patrício de Sousa levou a observação para o lado da ofensa, e desatou para ali a fazer uma peixeirada que só visto, até porca chamou à minha mulher que é uma pessoa às direitas, ou não fosse ela de Ferreira e vendesse Leite. Nessa altura passei-me, meretíssimo e disse ao meu vizinho Seguro, que suja era a roupa dele que andava por lavar várias gerações, que ele devia rastejar na lama, para ter uma roupa assim tão suja. O meu vizinho foi aos arames e começou a atirar-me em cara, umas ceroulas borradas que uma vez o meu Avô Cantigas, coitado, devido à idade, estendeu no arame sem serem lavadas. Disse-me aquele ordinário, que as ceroulas até parecia que estavam sujas de caganitas de Coelha, ou de Bosta Pastosa de Novilho.
Estávamos a meio desta discussão, quando passam lá pela nossa Viela das Desgraças, 5 estrangeiros, com umas pastas de cabedal na mão e decidem telefonar para o 112.
Passados dois dias apareceu lá a bófia a perguntar o que é que se tinha passado e levantar um auto de ocorrências.
- Então e você tem testemunhas do que se passou?
- Quer dizer... tenho e não tenho, meretíssimo...
- Mas afinal... tem, ou não tem?
- A bem dizer a única testemunha que tenho é o meu... a minha... ai... o meu... vizinho do lado o Sr. Paulo.
- O Sr. Paulo?! Qual é a profissão desse senhor?
- É marceneiro, meretíssimo, faz Portas.
- Mas afinal... esse senhor, é ou não é testemunha?
- Ele assistiu à discussão, mas parece que não quer tomar partido nem pelo meu lado, nem pelo lado do Sr. Seguro, diz que, vendo bem as coisas, na opinião dele tanto um como o outro tem a roupa muito suja. Eu, quando ele me deu esta resposta, também lhe disse logo: Deixe lá vizinho que a sua roupa também não está nada limpa, que eu tenho reparado numas nódoas que por mais que sejam lavadas já não saem. Respondeu-me que foram feitas num dia em que foi fazer uma visita a uns submarinos e porque as águas estavam um bocado agitadas, acabou por enjoar e vomitou a camisa toda. Ao que parece, são nódoas difíceis de tirar.
- Então... e sem ser esse carpinteiro...
- Marceneiro, meretíssimo, marceneiro... faz Portas!
- Ou isso... então, para além desse marceneiro, não arranja mais ninguém que abone em seu favor?
- É muito difícil meretíssimo. Saiba Vossa Excelência, que os outros vizinhos, são todos uns "mulas" só "tomam partido" quando vêem que podem tirar algum benefício, de resto, fecham-se em copas e o que fazem é morder pela calada. Mas... lá no fundo, eles sabem que quem tem razão, sou eu... que passo o dia no tanque a esfregar a roupa com sabão azul e branco... mas nódoas que estão tão entranhadas...
Agora... aquilo que eu não consigo perceber, Meretíssimo, é porque carga de água, é que aqueles estrangeiros de um raio, tinham de meter o bedelho... a conversa até estava animada e como é costume, no fim até acabávamos na tasca do Sr. Bento a comer uns tremoços e a (a)provarmos uma cerveja que agora nova que é da marca... orçamento.

domingo, 16 de outubro de 2011

Que N L P...!

Quando depois de saborear uma excepcional dobrada com feijão branco, confeccionada pelas mãos mágicas de uma jovem anciã, conhecedora de imensos segredos, quer culinários, como de gestão e de economia domésticas, Senhora que viveu os duros anos do final da segunda guerra mundial e aprendeu a magia de transformar o sobrante, no essencial...Olho melancólicamente para a nossa actualidade política e social e só me ocorre mandar os políticos que nos têm governado e aqueles que nos governam, de volta, à cona da mãe que os pariu.
Esta, é a única forma possível, que me ocorre, de imaginar uma maneira de reciclar toda esta bagunçada em que vivemos.

sábado, 15 de outubro de 2011

O Meu País.

O meu país, falece.
E falece porquê, pergunto-me, olhando à minha volta, fazendo uma rectrospectiva daquilo que conheço do meu país e das suas gentes... e posso dizer que conheço bastante, sem que o conheça totalmente.
Um país, porque também é composto por gente, encontra-se em permanente mudança. É verdade mas, não compreendo que essa permanente mudança, possa ser a causa da doença súbita que o atacou e o debilita, sempre mais, a cada dia que passa.
Ha uns anos, conheci uma historieta de bolso, que contava a conversa entre os vários órgãos do corpo e a importância vital que cada um atribuía a si mesmo, afirmando todos, e cada um por si, que se "entrassem em greve", o corpo adoeceria, ficaria febril, entraria em estado comatoso e faleceria.
Não precisamos possuir formação médica para perceber a evidência. Basta que um dos nossos orgãos vitais, pare de funcionar, para que o corpo comece a colapsar e acabe mesmo por falecer.
Mas a verdade, olhando bem à minha volta, é que, este imenso corpo que somos todos nós, parece por um lado querer desistir de funcionar, mas por outro percebe que se o não fizer, falecerá inevitávelmente. Esta dualidade de sentimentos, traz o meu país e as suas gentes numa completa desorientação, numa imensa ansiedade.
O cérebro lateja-nos, porque os intestinos não evacuam, esses não o fazem, porque o estômago não lhes fornece a matéria necessária para fabricar o quilo que enriquecerá o sangue. O coração, tasquinha uma ração de sangue pobre, fraco, mediocremente oxigenado por uns pulmões atrofiados.
Em reunião de conselho, os orgãos declaram-se impotentes para manter vivo um corpo que afinal, possui tudo o que necessita para readquirir a saúde... menos o ânimo, menos a convergência de vontades, menos a visão de futuro, menos o entendimento e a consciência concreta do presente.
O meu país falece. Mas, EU não quero que ele faleça!
Eu já conheci o meu país saudável, não rico, mas sustentado e a atingir a sustentabilidade. Já conheci as suas gentes felizes, laboriozas, produtivas e produtoras. Eu continuo a ver o meu país e as suas gentes, capazes de se renovar, mudando o paradígma actual, importado de uma realidade que não lhe pertence, para um modelo genuíno que é nosso, adaptado às nossas reais qualidades, desejos e competências.
Segundo Pessoa e Agostinho da Silva, ainda não nos cumprimos, Portugal ainda se não cumpriu... Cumpramo-nos!

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Porque será?

O que me trava o andar,
E me enfraquece o querer?
Se tenho olhos para ver,
Se tenho pernas para andar.

O que me turva a razão,
E não me deixa crescer.
Porque me dizem que não,
Porque me querem prender?

Porque não entendem o desejo
Que tenho, de ir mais além?
Porque não crescem também?
E são mais do que eu almejo?!

Não me parem, não me empurrem.
Deixem-me caminhar solto.
Não me ergam, nem derrubem,
Nem me expulsem... porque eu volto.
;)