segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Porque Somos?

Da forma como entendo o mundo e as pessoas, vejo que os seres humanos, vivem confinados a uma existência... conflituosa.
Se por um lado algo indefinívelmente concreto (?) instiga os humanos a unir-se, a projectar e a construir em conjunto, a coexistir e a complementrem-se cada um as lacunas do outro... por outro, essa complementariadade, cerceia a possibilidade de cada ser evoluir por si só.
E é neste jogo de forças, do puxa e empurra, que vamos mantendo a dinâmica necessária para que a existência do mundo seja mantida.
Coloca-se então a questão, que é saber se uma força misteriosa ao serviço do mundo, do cosmos, controla e faz uso da energia humana...

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Para quê ler livros?

Quanto maior é o número de obras literárias já lidas, quanto mais informação acumulo num espaço interiormente dividido, maior é a sensação de vazio intelectual que experiencio.
Tudo já me sabe a dejá-vu. Tudo me parece impossível de alterar de melhorar, de tornar apetecível, capaz de constituir motivo de incentivo... ou de mobilização, seja para o que for.
Sinto apoderar-se de mim uma inquietação, uma desconfiança de que algo está a aproximar-se. Algo indefinível, algo que tanto pode ser o resultado apurado de tudo, como a extinção do que se conhece.
Sento-me para ler, sempre na esperança de que alguém tenha escrito o que irei ler pela primeira vez e me irá conduzir a uma nova perspectiva.
Experimento por vezes despejar a mente de qualquer pensamento, como quem limpa a casa de poeiras, por forma a receber condignamente os visitantes, de modo a que, ao sentirem que estão num ambiente limpo, incorrupto, se abram em revelações, como girassol ao receber os primeiros raios de luz.
Mas logo, após as primeiras frases, sobrevem o sentido, o mesmo sentido, dito da mesma forma, folha após folha... nada de novo.
Tal como os dias. Um, após o outro, iguais, previsíveis, despidos de tudo o que os possa tornar vibrantes, entusiasmantes, espaços ilimitados para o acontecimento.
Nem uma página lida, e devolvo o livro ao seu lugar na estante, volto-me para a janela, saio para a varanda, o terraço, depois, o jardim. Encontro ali tudo, as flores, as mesmas, as árvores, também. Ergo os olhos e juro que aquela nuvem é a mesma da semana passada... que se não for, é parente da outra, aquela que passou lentamente, de Sul para Este, no dia em que plantei aquele limoeiro. Sim... foi nesse dia, porque na semana anterior tinha semeado favas e na outra...
Afinal... não passo de um coleccionador de datas... para quê ler livros?

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A caminho do Sol.

Este fim-de-Semana, como às vezes faço, apeteceu-me sair sem destino.
O tempo não prometia nada definido, nem chuva nem sol, mas isso pouco me importou.
Aquilo que quis foi sair, atravessar o mundo, mesmo que somente um mundo reduzido, mas sobretudo, um mundo imprevisto, não programado.
Atravessei o Tejo em Vila Franca de Xira e depois de passar em Porto Alto, senti-me finalmente entrar, aos poucos, naquela dimensão de épocas passadas a que a vastidão das estradas alentejanas, praticamente desertas, possuem o "dom" de me transportar.
E assim fui, continuando sempre em direcção ao Sul, sem destino e sempre envolto em pensamentos que me transportavam para outras dimensões, ideais para reflectir sobre o que o passado guardou e que ilusoriamente, concedo, sejam a preparação para um futuro impossível de adivinhar, mas que se sente venha a ser penoso.
Em determinada altura inflecti a marcha para Oeste e continuei em frente até atingir o mar. Zambujeira do Mar. O local encontrava-se deserto, ninguém nas ruas, ao fundo o bramir do mar atraíu-me até ao miradouro junto à igrejinha de Nossa Senhora do Mar.
Ali fiquei durante longos minutos, talvez uma hora, ou mais, de frente para o mar imenso, apreciando o voo acrobático das gaivotas e outras aves marinhas que desafiavam as cristas e o ribombar das enormes ondas e, depois de uma volta larga, elevavam-se acima da arriba, suavemente, planando de frente para o vento, asas bem abertas, soltavam um estridente grasnado e poisavam na beira do miradouro, sacudindo as penas e as asas, assim como que a dizer-me : gostaste do meu voo? Queres experimentar? Anda, atreve-te, vais ver que não existe sensação de maior liberdade, que a de planar rasando a superfície do mar, subir mais alto que as falésias, e picar vertiginosamente sobre um peixe descuidado, lá em baixo, quase à superfície.
Anda, vem experimentar, liberta-te dessas amarras que te prendem os pés à terra e a essas regras mesquinhas que vos condicionam, humanos e vos tentam a ser senhores de ilusões e quimeras que nunca alcançareis.
Vem, vem voar comigo...
E Abria as asas como que a seduzir-me, ensaiava um voo, voltava a poisar as patas sobre o parapeito e desafiava-me; então? não tens coragem? Anda, abre bem os braços, respira fundo, solta-te desse chão, deixa os caminhos traçados para andares e descobre o infinito, vem!
Senti-me invadir por um desejo forte de seguir aquela gaivota quando ela finalmente abriu de novo as enormes asas e se elevou um pouco para em seguida mergulhar em direcção aquele mar imenso. Na garganta ainda prendi um grito; espera!, o braço ainda ficou por momentos estendido na direcção daquela gaivota desafiadora... depois, baixei os olhos e jurei... um dia, um dia destes vou ganhar asas e então... VOAREI!

sábado, 12 de novembro de 2011

Tudo...

Diógenes... O cínico, filósofo na antiga Grégia, cultivou a não-posse.
O filosofo entendia que os bens materiais condicionam a vida do Homem, obrigando-o a vergar-se a valores que não têm a ver com a ética e a moral, mas sim, com a corrupção.
Conta a lenda que um dia Alexandre Magno, terá perguntado a Diógenes o que desejaria que ele lhe oferecesse e que Diógenes terá respondido simplesmente "não me tires aquilo que não me podes dar". Diógenes terá respondido desta forma, porque Alexandre se encontrava numa posição entre o sol e o filósofo, por conseguinte, fazendo-lhe sombra.
Muitos de nós, não conseguiram perceber, ainda, que a ninguém é possível tirar do outro, aquilo que o outro não possui, por conseguinte, é impossível perder-se aquilo que não temos.
Muitos de nós, crêem possuir imensos valores materiais e que, com eles, se encontram numa posição de superioridade, perante aqueles que nada possuem.
Mas...Tudo se encontra na curva do espaço, no aconchego de um abraço, no calor de um regaço, na geometria de um laço.
Tudo cabe dentro de um átomo, na folha de um ramo, num gesto humano, num aceno profano.
Tudo; encontra-se na simplicidade de um olhar, num desejo, no mar, numa palavra, no sol... num gesto de dar!
Não sei porque escrevi isto. Nem tenho a certeza se aquilo que escrevi, corresponde integralmente àquilo que penso, e ainda menos àquilo que pratico, mas... quero acreditar que sim, e se acreditar...
;)

Planos para voar...


http://www.youtube.com/watch?v=8MDPeL8lpzo




Enquanto fui criança, sonhei muitas vezes que voava.
Era um encanto poder deslizar sem esforço nenhum, sem tocar em nada, sem mexer um músculo, voltar à esquerda e à direita, subir e descer, parar, flanar e voltar a mover-me.
Quando de manhã acordava, sentia-me envolvido por uma sensação imensa de bem-estar, a qual se dissipava logo de seguida, ao perceber que a faculdade adquirida durante o sono e o sonho, tinha desaparecido com o despertar. E então, pensava; Que bom seria se esta capacidade de voar se mantivesse, se pudesse escolher um local conhecido, ou a descobrir e pudesse voar até ele. Que bom, se pudesse transportar comigo alguém, alguém que não tivesse medo de voar e que também quisesse ardentemente conhecer outras paragens, outras paisagens, outros rostos e lugares.
Quando cresci, comprei uma mota. Aquele veículo afigurava-se-me como sendo o instrumento mais apto a satisfazer o meu desejo interior de voar. Mas não... o meu desejo não conhecia limites nem fronteiras, o meu desejo não era condicionado por obstáculos intransponíveis por uma mota. Com a mota só conseguia deslocar-me por estrada e, quando pretendia atingir um determinado ponto, era obrigado a contornar muitos outros. E o meu sonho era o caminho directo.
No meu sonho transpunha montanhas, atravessava oceanos, ziguezagueava nos desertos, nas estepes, fazia gincanas por entre os arranha céus de Manhatten... no meu sonho... rasava o chão vertiginosamente e recolhia os meninos famintos nas favelas, nos guetos, nas valas lamacentas e colocava-os nas casas dos políticos ricos, dos empresários milionários, dos banqueiros.
Depois, voltava a passar nos mesmos guetos, colocava as mãos em concha à volta da boca e gritava aos pais das crianças que tinha transportado: esta terra é vossa! Cultivem-na! Explorem-na! Alimentem-se dela! Sejam vocês os seus naturais senhores!
E ficava por momentos a observa-los, primeiro atónitos, desconfiados, depois segredando uns para os outros, em seguida começavam a movimentar-se e a formar grupos, em seguida iam procurar ferramentas e começavam a desbravar o solo, a limpar e a enterrar dejectos, a abrir sulcos de drenagem, por onde escorria a ignomínia acumulada ao longo de décadas e com qual já conviviam sem ligar. Pouco depois, começava a surgir um solo novo, mais saudável, ao mesmo tempo, os rostos começavam a ganhar alguma alegria, os braços começavam a lançar as enxadas à terra com redobrada energia, as sementes começavam a germinar, a crescer... a colheita fazia-se, a fome era vencida, e a dignidade recobrada. A vida recomeçava a fezer-se.
Por fim, sorria-lhes, acenava-lhes e antes de retomar o meu voo até outras paragens... pedia-lhes que não voltassem a fechar os olhos, nem a deixar de acreditar na sua força, e que não perdessem a esperança e a confiança nos outros...


http://www.youtube.com/watch?NR=1&v=53LnC9MDU6I


;)

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Eles, assumem-se republicanos mas, não dispensam o explendor, o glamour das cortes.

Eles, assumem-se republicanos mas, não dispensam o esplendor, o glamour das cortes.
Não dispensam os coches de luxo, o conforto das peles, sedas e damascos, as recepções cerimoniosas, os Porto de honra, os banquetes servidos em porcelanas e cristais, confeccionados por cozinheiros de renome, as viagens em executiva, o motorista perfilado e o porteiro que lhes abre a porta.
Em discursos inflamados, eleitoralistas, eles defendem os mais desfavorecidos, os mais necessitados, as vítimas de uma sociedade que não olha pelos seus cidadãos, vítimas de doença, de desemprego e de outras patifarias que a vida lhes pregou. De punho erguido, juram que farão tudo o que estiver ao seu alcance para mudar essas situações, que são a vergonha de uma sociedade que se rege por princípios de igualdade democrática.
Depois... depois de percorrerem as ruas, vielas e becos, mercados e escolas, depois de abraçar todo aquele por quem passam, depois de receberem de todos a retribuição pela simpatia dispensada e pelos discursos prometedores, recolhem aos hotéis, às sedes de candidatura, rodeiam-se dos seus pares e festejam as vitórias. No dia seguinte já não descem à rua, nem aos mercados, nem aos largos das vilas e aldeias. No dia seguinte, os segurança que os rodeiam, impedem que aquele idoso que na véspera os tinha abraçado e a quem prometeram o empenho na melhoria de condições de vida, de se aproximar. No dia seguinte, entram à pressa para a viatura topo de gama que o Estado, leia-se o idoso, o trabalhador rural, o médico, o comerciante, o empregado de escritório, o professor, contribuíram para comprar. Quanto muito, acena fugazmente, para os mesmos a quem no dia anterior abraçou. É que, no dia anterior prometera aquilo que no dia seguinte, não poderia, nem quereria cumprir. Excepto, usufruir dos luxos, dos dourados, das luzes, do conforto, da arrogância, da distância, do desprezo que a condição lhe permite dedicar a todos que no dia anterior abraçou, beijou, cumprimentou, fazendo-se passar por um igual, conhecedor e sofredor das suas penas, empenhado em lhas aliviar, custasse, o que custasse.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Silogismos

Gosto de silogismos!
Gosto; pronto, ponto.
quem prefira favas com chouriço, cozido à portuguesa, bife com ovo a cavalo...
Gosto de argumentos; de argumentos que possam ser provados, irrefutávelmente.
Vem este intróito a propósito de uma reflexão, acerca de um texto publicado por um amigo de outro blog, que pode ser lido aqui:
http://quartarepublica.blogspot.com/2011/11/problema-da-grecia-de-portugal-e-da.html
e cujo conteúdo se me afigura como um prefeito silogismo, ou seja; a maior preposição encontra-se no pânico de falência, de perda de toda a "qualidade de vida" e poder de compra, o qual comporta, a capacidade de endividamento e a incapacidade de liquidar o acumulado, que aflige toda a Europa. Passa pela menor preposição; que são as decisões políticas que influenciem a resolução dos problemas económicos e financeiros que afectam a mesma Europa, concluindo-se a falibilidade das uniões dos povos.
Tavares Moreira, na sua reconhecida qualidade de economista, coloca a questão mais à frente de um mero silogismo, fala de egoísmo e de imolação dos mansos cordeiros europeus, àqueles a quem foi mostrado um prado verdejante, apetitoso, mas que não repararam na vedação dissimulada, em redor desse mesmo prado, montada por uma alcateia esfomeada, que vem agora apertando o cerco e de dente aguçado, prontos a saltar no cachaço das indefesas criaturinhas.
A sorte, é que nos guia um lúcido, um iluminado apóstolo, de seu nome, Aníbal, o qual, inspirado pela bucólica imagem de um pastor, conduzindo pela serra o manso e obediente rebanho, nos exorta a vergar a mola sem descanso, ininterruptamente, de sol-a-sol, sem exigirmos paga nem regalias, férias ou descanso. Imolem-se! Grita-nos do alto do seu austero e espartano pedestal. Dêem todo o sangue que tiverem para dar, em nome da salvação económica deste país, governado por políticos que durante décadas satisfizeram as suas gulas, nas levadas de capital que chegaram com o fim de tornar prósperas as mansas ovelhas deste desorganizado rebanho.
Segundo silogismo; preposição maior, logro. Preposição menor; logrados. Conclusão; um epifânio profeta da desgraça!