terça-feira, 20 de outubro de 2009

Azulejos pequeninos

Naquele dia, passei o almoço alheio ao que se passava à mesa, buscando incessantemente o olhar de Izilda, sempre que ela entrava na sala de jantar, transportando bandejas de servir.
Imperturbável, Izilda prestava unicamente atenção aos sinais que a Senhora lhe fazia e mesmo quando me servia, olhava unicamente para os alimentos e nunca para mim.
Foi com imensa dificuldade que acabei a refeição e, acabrunhado recolhi ao meu quarto para a famigerada sesta.
Deitado sobre a cama, de mãos entrelaçadas por trás da cabeça, olhava o tecto abstraídamente, enquanto considerava a hipótese de Izilda se ter zangado, ou de se achar envergonhada, ou mais uma infinidade de outros motivos, para não ter correspondido ao meu olhar durante a duração do almoço.
Naquele dia, o tempo cornometrado da sesta passou sem se notar.
Voltei a tomar consciência dele, quando senti um leve bater na porta do quarto e em seguida apareceu a cabeça loura e a face rosada de Izilda.
- A Senhora pergunta se não vai descer à sala?
- Izilda, podes entrar... quero perguntar-te uma coisa.
- Diga menino...
- Não me trates por menino, sabes o meu nome.
Calou-se e ficou à espera da minha pergunta.
- Quero perguntar-te, porque não olhaste para mim durante o almoço?
- Então, porque estava a trabalhar e a Senhora não permite que me distraia quando estou a servir à mesa, para não cometer nenhum erro. Se o fizer, ela ralha-me.
Naquele momento senti-me envergonhado e ridículo. Era evidente, Izilda estáva certa, não podia distraír-se.
-Ah... está bem, desculpa-me.
- Desculpo o quê, menino?
-Já te pedi para não me tratares por menino. Desculpa, porque pensei que estivesses zangada comigo.
-Zangada porquê, men... Bartolomeu?
Sorri porque finalmente chamou o meu nome.
- Por causa do beijinho...
Sorriu tambem e chegando-se mais a mim, saracoteando ligeiramente as ancas, perguntou: - Gostaste?
Não me deu tempo para responder, colocando uma mão de cada lado do meu rosto, voltou a tocar os seus lábios nos meus, demorando um pouco mais aquele beijo que o anterior no jardim. Depois afastou o rosto sem retirar as mãos, olhou-me e sorriu, um sorriso doce e provocador que não entendi perfeitamente, em seguida aproximou de novo a boca da minha e voltou a beijar, desta vez, mexendo os lábios e tocando com a sua lingua nos meus. Instintivamente abri a boca e recebi a lingua dela dentro da minha. Invadiu-me naquele momento uma sensação indefinível de desejo e de nervoso, uma sensação que me fazia desejar algo que não conseguia identificar, algo que não sabia onde estava, nem o que era.
Izilda prolongou aquele beijo e senti a sua respiração ofegante e quente, senti o seu corpo espalmar-se contra o meu e senti aturdidamente a rijeza dos seus seios contra o meu peito, senti uma vontade imensa de os segurar, de os sentir nas minhas mãos, acho que até desejei beija-los.
Quando levantei as mãos tentando alcançar os seios de Izilda, senti-a desprender-se repentinamente de mim e soltar um risinho nervoso e brincalhão de menina ladina que acaba de cometer uma traquinice. E, em biquinhos de pés, dirigiu-se saltitante até à porta, depois, apontou-me o indicador e avisou-me: - Despacha-te, a Senhora está à tua espera, para irem saír.
...

14 comentários:

Rosa dos Ventos disse...

Estive uns dias fora e olha o que por aqui rolou!
Solares no Minho, empregadas atrevidas, meninos a brincar e Senhoras a rezar!
Dá tema para uma telenovela!

Abraço

Catarina disse...

Bartolomeuzinho!... menino muito precoce....

Bartolomeu disse...

Fica provado que não podes abandonar o convívio com os teus amigos, Rosinha!
E por aquilo que vi, passeaste por sítios maravilhosos, só te esqueceste de um pequeno pormenor... de me convidar.
;)))

Bartolomeu disse...

Adoro quando me chamam Bartolomeuzinho, ou Bartolominho, ou... bom, adoro quando me chamam!
;)))
(sou tão parvinho, benza-me o altíssimo)
Muito bem minha amiga Catarinazinha, para início de comentário devo dizerte que estou em desacordo com a tua observação.
:(
Estaria de acordo se a iniciativa tivesse sido minha, mas não, pertenceu à trigueirinha minhota, eu fui o tal pormenor que está no sítio onde o destino o colocou, no minuto preciso, depois... aconteceu aquilo que acontece quando dois polos magnéticos de cargas electricas diferente entram no campo magnético um do outro... atraem-se!
São as lei inalteráveis da atracção magnética dos corpos.
;)))))))))
Olha, gostei do teu comentário no 4R.

Bartolomeu disse...

"dizerte" parece-me que utiliza um ífen entre duas consoantes, consoante as consoantes que forem, mas... não me consigo lembrar quais são...

lenor disse...

Alguma vez foi a primeira vez que sentiste uma rapariga a espalmar-se em cima de ti. Suponhamos que foi desta e vamos ver como foi da segunda vez.

Bartolomeu disse...

não leste o texto com atenção, Leozinha... a Izilda não se espalmou por cima, mas sim de frente.
Bom, mas se o sentido foi na vertical ou na horizontal, também não interessa nada.
Olha, sabes que mais?
Deu-ma preguiça e já não vou escrever mai nadex.
Só para satisfazer alguma presistente curiosidade, vou resumir que regressei a casa dois dias depois e que sucedeu algio mágico na manhã do dia em que regressei, e que isso sucedeu na casa de banho, cujas paredes eram revestidas a azulejos pequeninos. Quando cheguei a casa e o casal me foi "entregar", no meio daquelas frazes de circunstância, perante o olhar espectante do casal, os meus pais perguntaram: Então Bartolomeu gostaste das férias?
Com um ar distante, respondi: Gostei.
O casal, meio sem jeito, interveio: Mas não pareces muito contente, passou-se alguma coisa que não te agradasse?
E os meus pais, tentando compôr o "ramalhete": Então diz lá, de que gostaste mais?
E eu, logo como uma flecha: Da casa de banho!
Ficaram todos surpreendidos, devem ter pensado... o puto anda a meter-se na passa.
Então a minha mãe já com um ar preocupado, confirmou: Da casa de banho? mas porquê, é mais bonita que a nossa?
Ai, tomei um bocado consciência do que tinha dito e emendei:
Não. Porque tem azulejos pequeninos na parede!
Topas?

lenor disse...

ahahah
És tão giroooooo!!! E desde os dez anos!

Bartolomeu disse...

Giro, de rodar feito um pião, Leozinha?!
;)))

lenor disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
lenor disse...

Giro porque havias de existir no coração de todas as pessoas. Isto é, giro para amar. E quando amamos andamos à roda tão depressa que até levantamos os pés do chão, como um pião.
*

Catarina disse...

... e foi assim que o mundo do pequeno Bartolomeu se tornou mais vivo, mais colorido...

Bartolomeu disse...

Tá bem Leozinha... olha... queres jogar comigo ao pião?
Lançaste o pião quando eras miúda?
Na escola primária, tive uma coleguinha que lançava o pião tal e qual como os rapazes.
Penso que o nome dela era Rita, mas já não tenho a certeza.

Bartolomeu disse...

Catarina!!!!
;)))
Eu diria antes:... e foi assim que o pequeno mundo do pequeno Bartolomeu se tornou mais vivo, mais colorido...
Talvez seja somente uma questão semântica... talvez...
;)))))))))))))))))))