domingo, 18 de outubro de 2009

Azulejos pequeninos

Na casa de banho, gosto de azulejos pequenos nas paredes.
Fui uma criança saudável mas, todos os anos era levado ao médico, antes do final do ano lectivo. Foi um ritual que se repetiu e manteve, até fazer 11 anos. Todos os anos, o Dr. Martins, aconselhava que fizesse um período de férias no campo e outro na praia. E lá ía imperterívelmente para casa de minha avó materna, numa aldeia na falda da Serra da Estrela. Um ano, porém, a estadia alterou-se e fui "remetido" para casa de um casal amigo da família, que passava temporadas na sua casa mesmo à beirinha do rio Minho.
Uma casa enorme, monótona e constrangedora. O casal não tinha filhos. Na casa habitávam somente eles, um motorista a que chamavam chaufeur e duas criadas, uma velha, cuja função consistia exclusivamente em preparar as refeições e uma novinha que servia à mesa, limpava o pó, fazia as camas e ouvia extensos raspanetes da Senhora.
O nome dela era Izilda e ganhava-me uns 5 anitos na idade-
O Senhor, saltava da cama muito cedo e pirava-se para Espanha, regressava raramente para almoçar. Quando um dia ao pequeno almoço perguntei se podia acompanha-lo, respondeu-me a Senhora que não, o Senhor ía tratar de negócios.
Depois do almoço, aquela casa enorme adquiria um ambiente sepulcral, era a hora da sesta. Uma hora e meia de repouso forçado em que era terminantemente proíbido provocar-se o mínimo ruído.
Uma tarde, depois do famigerado período de repouso, sentado no sofá de uma das salas da casa, no meio de um silêncio morno, ouvia a Senhora ler alto Júlio Dinis, Uma Família Inglesa e tentava desesperadamente não adormecer. De súbito, ouviram-se vozes no corredor e em seguida um bater leve na porta.
-Entre!
-Dá-me licença minha Senhora?
-Entre Jenoveva, que se passa?
-Foi a Izilda que partiu a jarra de flores que estáva no quarto do menino.
Izilda, de faces afogueadas, especada 2 passos atrás da Jenoveva, de olhos cravados na carapete Persa da sala, retorcia os dedos de nervoso e parecia que a todo o momento iría irromper em choro.
-Pode ir Jenoveva, eu falo com a Izilda.
Depois da cozinheira da casa sair, a Senhora, olhando com rispidez para Izilda, preparou-se para dar início a nova sessão de ralhos.
-Agora nós. Disparou, severamente na direcção de Izilda.
Antes que a moça abrisse a boca, pedi licença e, dirigindo-me à Senhora, disse meio atabalhoadamente: - A Izilda não teve culpa!
A Senhora, olhou-me de imediato com estranheza e Izilda, com um ar aparvalhado começou a chorar.
-Pare de chorar Izilda.
E voltando-se para mim, colocou um olhar perscrutador e quase soletrando as palavras, perguntou-me: - A Izilda não teve culpa de partir a jarra? Porque dizes isso Bartolomeu?
Voltei a gaguejar e, remexendo o cu no assento titubeei: - Não teve culpa, porque não foi ela que partiu a jarra.
-Ah sim? Essa revelação é espantosa. Então quem terá sido o autor do estrago?
- Ehhhh... fui eu.
-Ah sim? E como foi que isso aconteceu?
- Ehhhh... tropecei na carpete e fui de encontro à mesa e depois a jarra caíu.
- Hmmmm, muito bem. Então partiste a jarra e depois esqueceste-te de dizer, foi isso?
- Foi! Foi isso mesmo, peço muita desculpa. Respondi vertiginosamente.
Muito bem, nesse caso pode ir Izilda, volte para o seu serviço.
Se até ali não tinha guardado uma única palavra das que a Senhora lera, a partir daquele momento, deixei de ouvir a sua voz.
...

4 comentários:

lenor disse...

Porquê? Desmaiaste??? Que aconteceu?

Catarina disse...

Aqui está a Catarina de novo.
Prometo que lhe vou dar uma trégua.
Gostei do que li. E até aprendi um vocábulo novo.
Sempre pensei que o verbo fosse “tibutear”... tive que confirmar... é, de facto, “titubear”
Eu é que preciso de ir para uma escola primária para adultos!
Boa semana!

Bartolomeu disse...

Não querida... deixei d'ouvir a voz da sinhuora porque fiquei d'ideias cunfondidas (vê lá como a simples troca de vogais pode dar logo um sentido malicioso à palavra!?).
;))))))
Mas, é ebidente ca estória tem seguimento, é só teres paciência e ires esperando pelos próximos episódios.
;))))
Ou és daquelas (pessoas) que mal mete o rebuçado na boca, o trincas imediatamente?
Hmmm?
Não te dá mais prazer i-lo xupando e lentamente extraír-lhe todo o suco e sabor?
Hmmmm?
;)))))))

Bartolomeu disse...

Viva Catarina!!!
;)
Porquê? Hasteei por acaso a bandeira branca?
;)))
Ainda bem que gostaste do escrito.
Se decidires realmente ingressar nessa tal escola... é bem possível que venhamos a ser colegas de carteira... o que ira certamente condicionar o meu aproveitamento escolar.
Mas pronto, estou pronto a sacrificar o meu desempenho, por uma "boa" causa.
;)))))))))