quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

E eu sei lá?!

Apoquenta-me há algum tempo, uma dúvida que penso enquadrar-se simultâneamente, num contexto existencial e profissional.
É uma dúvida para a qual não encontro uma explicação ou uma justificação que me pareçam minimamente razoáveis.
Sou, desde a idade dos 17 anos, empregado do Estado. Vulgo, Funcionário Público.
Quando iniciei as funções no Estado, existia a preocupação ética e moral   de aproveitar com seriedade e sentido da "coisa pública" os dinheiros do Orçamento do Estado.
Neste propósito, todo o dinheiro que era gasto pelos diferentes serviços públicos, destinava-se ou tinha como objectivo, acrescentar maisvalias directas ou indirectas para a sociedade. Existia nessa época, a noção precisa de que, o dinheiro utilizado pelos serviços do Estado, não aparecia debaixo das pedras, mas sim, nascia dos impostos pagos por todos, deduzido ao esforço do seu trabalho.
Hoje, por mais voltas que dê à imaginação e ao raciocínio, acho-me cada vez mais, parte de uma máquina diabolicamente gastadora desses mesmos recursos que, actualmente são mais escassos, dia para dia.
Na tentativa de encontrar um fio condutor que me pudesse ajudar a compreender minimamente, ou em último caso, aceitar a situação que dá origem às dúvidas que referi, decidi contactar uma profissional do sexo.
Procurei anúncios e liguei.
No primeiro contacto fui atendido por uma jovem com sotaque brasileiro; voz amável e atenciosa.
Perguntei-lhe se era profissional do sexo.
Respondeu-me que sim, que fazia tudo sem tabus.
Esta resposta transmitiu-me alguma confiança e fez-me sentir até um início de cumplicidade.
Em seguida perguntei-lhe há quanto tempo desempenhava a profissão.
Depois de uma breve pausa, respondeu-me também com uma pergunta: Que me interessava saber há quanto tempo?!
Respondi-lhe: Bom, se você é uma profissional, tem uma carreira, um percurso que corresponderá a um determinado período de tempo, durante esse tempo, adquiriu certamente experiência, "know how", "Skills".
Nesta altura, não querendo mostrar-me antipático e tendo notado uma certa relutância da parte da minha interlocutora, na resposta, acrescentei: esteja à vontade, não se sinta inibida; olhe, vou confessar-lhe, desde o início da nossa conversa que comecei a sentir alguma empatia consigo. Sabe, no decorrer da minha carreira profissional, notei diferenças em várias ocasiões. Notei que com o passar do tempo ganhei mais confiança em mim próprio e até, que essa confiança e a certeza de não errar que ela me conferia, levaram-me a ultrapassar alguns limites que a própria profissão impõe, abrindo espaço para algum arrojo e criação de novos métodos, os quais eram muito apreciados pelos meus superiores. Acho que até certo ponto, ajudei a criar novas perspectivas e novos métodos que vieram a revelar-se úteis para o meu trabalho e para o trabalho dos meus colegas.
Como durante o tempo em que desenvolvi este discurso, a minha interlocutora se manteve silenciosa, perguntei: está lá?
Após mais alguns momentos de silêncio, ouvi de novo a sua voz: - Olha cara, me fala uma coisa: você também é puta como eu?!

4 comentários:

Cristina Torrão disse...

:D

Não leves a mal, mas acho que levaste a resposta merecida. A mocinha a querer tratar de nogócios e tu vais-lhe com filosofias...

Bartolomeu disse...

;)))
Mas mesmo assim, perdeu a oportunidade de fazer um bom negócio.
Se fosse esperta, tinha marcado uma hora e cobrava pela consulta!
;))))
Mas olha Cristina, por vezes, quando comento com os meus colegas de profissão que me sinto menos que uma prustituta, na medida em que considero que o trabalho que desempenhamos tem menos proveito social que o delas, eles olham-me dando "ares de poucos amigos".
;))))

Olinda Melo disse...


Caro Bartolomeu

As voltas que o teu raciocínio deu. Apanhaste-me completamente desprevenida e tive que mudar rapidamente a intenção do meu discurso, cuidando eu que irias continuar na mesma senda, dos gastos, do mau aproveitamento dos nossos impostos, enfim...Mas olha, não está mal, não senhor, é sempre bom contactar outros profissionais para se saber dos métodos e inovações para se chegar a resultados que incrementem o bom desempenho.

És um espanto, não há dúvida! :)

Abraço

Olinda

Bartolomeu disse...

Tomara que o meu raciocínio tivesse metade da fertilidade que lhe atribuis, minha amiga Olinda.
Com efeito, o post foi consequência de conversas que por vezes me opõem em termos de conceito e opinião a colegas e amigos.
Geralmente, termino essas conversas com uma conclusão que de certo modo espanta os meus interlocutores. Costumo comparar os nossos políticos, decisores e gestores públicos, às prustitutas de beira de estrada, realçando no entanto o melhor carácter e sentido ético delas.
É que elas são putas, assumem essa condição e não vendem a alma ao diabo para fazer crer aos clientes que são virgens, castas e puras. Os mesmos predicados não podemos atribuir à totalidade da "outra gente".