sábado, 5 de janeiro de 2013

D. Pureza; a padeira.

Se me lembro bem da Dona Pureza?!
Vinha de Seia a pé. Transportava à cabeça um cesto enorme de verga repleto de pão-trigo fresco, cozido de madrugada, muito bem coberto por um pano alvo.
A Dona Pureza era uma mulher possante. Para além do enorme cesto à cabeça, transportava ainda em cada braço, um cesto de asa. Um deles era destinado à broa de milho, o outro, o da minha preferência e dos outros miúdos, de onde não afastávamos o olhar desde que D. Pureza surgia na estrada ao fundo da aldeia, transportava os bolos. Uns bolos simples, cobertos de açúcar, outros de coco, outros ainda sem cobertura, mas com frutos cristalizados a recheá-los.
A Dona Pureza passava na aldeia duas vezes por semana, já não me recordo em que dias o fazia, mas recordo-me perfeitamente do sabor daquele pão alvo, acabado de cozer e do sabor da "ferradura" que  para meu deleite, a minha avó sempre lhe comprava.
Numa altura em que me achava a passar um período de férias na aldeia, ouvi contar um curioso acontecimento,  envolvendo a Dona Pureza.
Contavam que dias antes, no final da volta,  quando se dirigia a casa, transportando já os cestos vazios, D. Pureza foi abordada por dois meliantes que, apontando-lhe uma navalha enorme, tencionaram roubar-lhe a bolsa de pano  com o produto da venda e o fio de ouro que sempre usava ao pescoço.
A padeira não se amedrontou, àquele que lhe apontava a navalha, desfechou-lhe tamanho pontapé no baixo ventre que o desgraçado ficou sem conseguir falar. Ao outro, que ficara petrificado perante a surpresa da reacção e o efeito da mesma, após poisar os cestos no chão, foi-se a ele e deu-lhe um abraço com tamanha força que lhe quebrou várias costelas.
A partir dali, não voltei a ter notícia de que alguém tivesse tentado  assaltar novamente, a Dona Pureza.
Ficou provado que as mesmas mãos que amassam farinha e cozem o saboroso pão, também conseguiam fazer justiça... uma justiça exemplar!

5 comentários:

Tété disse...

Olá Bartolomeu. É a primeira vez que comento no seu blogue, mas conheço-o há muito tempo da tertúlia do Murcon.
Acho imensa graça às vossas discussões que tornaram o blogue mais vosso que do Prof.JMV.
Fui eu que corrigi a "assertividade" no Aliás mas como não queria intrometer-me no outro blogue, resolvi apresentar-me no seu.
Desejo-lhe um 2013 com tudo de bom a começar neste dia de Reis.
Abraço

Bartolomeu disse...

É um prazer receber neste blog, caras novas e bonitas como a sua, Tété.
Pois o "Murcon" tem realmente essa característica. O próprio Professor Júlio Machado Vaz, tem dito por diversas vezes, que o blog pertence mais aos que por lá "habitam" que a ele.
;))
Quanto à correcção feita, vou confessar-lhe; imaginei que tivesse sido escrita pelo autor do blog, que não querendo ferir a minha susceptibilidade, tivesse optado pelo anonimato.
E o que referi é verdade; escrevo muito de ouvido, sem dar atenção à pauta, o que origina erros frequentes. Problema que tambem se deve ao facto de quase sempre, quando escrevo, as ideias fluem mais rapidamente que a minha velocidade de escrita, o que me causa algum embaraço.
Quanto aos votos, resta-me agradecer e retribuir-lhe.
Um abraço Tété e obrigado pelo comentário.
;)

Tété disse...

Não consigo deixar de lhe agradecer a resposta e sobretudo o piropo feito à "velhota". Sim, que é, mas que não quer que se saiba que tem 62 anos.
Eventualmente podia ser sua mãe, ou não?
Abraços

Bartolomeu disse...

Hmmm... podia ser...caso a Tété já tivesse período com 3 anos de idade...
;)
Eu tenho 58.
;))

Cristina Torrão disse...

Uma bonita história, a da D. Pureza. É claro que as "mãos que amassam farinha" têm muita força, fazer pão até podia servir de alternativa ao ginásio ;)