sábado, 18 de maio de 2013

Chove

Chove uma chuva, miudinha
E tu, gelada e franzininha
Estendes a mão, magrinha
A quem passa por ali, tão sozinha.

Tão pequena e já tão sofredora
Mas forte, sobre as pernas finas de tesoura
Que sustentam a amargura devoradora
De um destino feroz e sem tutora.

Não choras, nem foges pelo caminho,
Que os astros misturaram no cadinho
Sem que à massa juntem algum carinho
O calor de um abraço, ou um beijinho.

É essa a vida que tu levas...
E que quase em segredo, guardas
Sob as dores que te ferem como espadas
Nos cartões onde dormes, nas arcadas.

Sonhas com a luz ténue do Sol, ao acordar
Mas é a chuva miudinha que te vai beijar
E a fome, sempre pronta para te recordar,
Que nasce mais um dia de penar.

Chove, chove sempre para ti!
E a cor do teu dia, é sempre igual.
No vale profundo onde habitas,
O destino fora do mundo, de ti se ri!
Todos te olham sem te ver, é banal.
Enquanto por dentro, morres e gritas.

4 comentários:

Menina Marota disse...

Comovente, o quadro de uma realidade que dói e fere!

Bartolomeu disse...

Uma realidade cada dia mais evidente e, cada dia mais abrangente, Menina.
E tudo porque a vontade dos Homens é fraca e subjuga-se ao poder dos interesses financeiros, remetendo para o inferno aqueles a quem a sorte não toca.

Cristina Torrão disse...

Uma poesia que parece um retrato e nos põe um nó na garganta.

Bartolomeu disse...

Um quadro infelizmente, cada dia mais frequente emais real, Cristina.