sábado, 16 de julho de 2011

Insaciabilidade(s)

«A insaciabilidade dos desejos humanos obriga a dar voltas que não conduzem a outro lugar que não ao ponto de partida.»
Penso que o sentido, ou os sentidos desta frase, podem ser aplicados a diferentes situações em diversos contextos.
A frase termina com uma afirmação, que para o ser, obriga a que não seja considerado somente o ponto de partida, mas também, o ponto que se pretende, seja o ponto de chegada.
No entanto, o ponto de chegada é indeterminável. Indeterminável por diversas razões; porque se não consegue divisar, porque se não consegue idealizar e ainda, porque é impossível de concretizar. Mesmo depois de supostamente atingido, esse ponto de chegada, continua por atingir, porque se mantem em permanente construcção, em permanente actualização, em permanente "crescimento".
Então, poderei resumir que o ponto de chegada é o Homem, e que o ponto de partida, é o homem... ao caminho que intervala entre o homem e o Homem, poderemos chamar "a insaciabilidade dos desejos"...?
A administração do blog ceita sugestões e, ou, reflexões.
Rejeita conclusões.

19 comentários:

Olinda Melo disse...

Se os desejos humanos são insaciáveis e se o Homem é a medida de todas as coisas, o homem continuará na sua caminhada sem fim à procura de si mesmo, i. e. , consubstanciando o seu objectivo no próprio Homem…
“…a felicidade desta vida não consiste no repouso de um espírito satisfeito, pois não existe o finis ultimus nem o summum bonum de que se fala nos livros dos antigos filósofos morais. E ao homem é impossível viver quando seus desejos, tal como quando seus sentidos e imaginação ficam paralisados. A felicidade é um contínuo progresso do desejo, de um objecto para outro, não sendo a obtenção do primeiro outra coisa senão o caminho para conseguir o segundo.” (Leviatã, XI, p.91)
Será isto uma conclusão? No reino da filosofia, tudo não passa de especulações que, contudo, nos elevam o espírito e tornam a mente vigilante…

Bartolomeu disse...

Sábia reflexão, Olinda.
A qual nos conduz, a mais um corredor do imenso labirinto que é a existência. A felicidade!
Será uma utopia, ou um desígnio, um objectivo, ou uma maldição?

Parece no entanto, ser uma inevitabilidade.
O Professor Agostinho da Silva, afirmava que a felicidade, é algo a que o Homem se acha condenado. Sendo assim, será uma "pena", um "castigo" que todos nos teremos de cumprir, para que se complete um cíclo. Nessa altura, voltaremos ao início do processo...

Cristina Torrão disse...

Acho que é bom para a natureza humana que o ponto de chegada esteja em permanente "crescimento". Mal do dia em que já não tenhamos objectivos pela frente. O ponto de chegada deve ficar sempre lá longe... Mas devemos vencer etapas, é importante ganhar motivação para continuar.

Bartolomeu disse...

Sem dúvida, Cristina.
E, sempre numa prespectiva de construção interior, em harmonia com tudo o que nos rodeia e compõe este cenário, palco das vidas que são a razão da nossa vida.
Razão tinha aquele rapaz... o António; quando proclamou que "na natureza, nada se perde, nada se cria, tudo se transforma".
;)

Olinda Melo disse...

Talvez sim.Talvez seja um castigo, uma pena.Mas será que conseguimos chegar ao 'fim' do ciclo? Ou estaremos condenados a procurar a Felicidade enquanto vivermos? Alguns poderão chegar até ela e outros não...No entanto, pensando melhor, o que constitui felicidade para mim pode não o ser para outros...Também a felicidade não residirá apenas em grandes momentos, grandes feitos. Poderá estar no segundo em que eu contemplo uma flor, bebo um copo de água ou então no momento em que eu sou apanhada por uma grande chuvada e fico que nem um pinto...Digo isto porque gosto de andar à chuva.
E assim, por aí afora...

Bom fim de semana, amigo Bartolomeu.

Olinda

Bartolomeu disse...

Tal como o Universo, minha cara Amiga Olinda... um caleidoscópio de emoções, de sonhos, que se pretende culminem em momentos de felicidade.
Gostas de chuva e de senti-la no teu corpo... eu também, assim como os restantes elementos, o que prova a nossa interacção com tudo o que é Terra em nosso redor. É deles que retiramos a energia que nos faz mover e colocar em mivimento todo o Universo.
Afinal, somos mesmo uma peça fundamental na engrenagém cósmica...!
;)
No início de Julho, coloquei aqui um post, cujo título: Os carros, ou... as pessoas... não beneficiou do teu comentário...
;)
Naquele texto, onde demonstrei ostensivamente a analogia entre gente e automóveis, deixei propositadamente uma alínea em aberto, na esperança de que, quem lesse, chamasse a atenção para o pormenor da entrada em funcionamento do motor do carro.
Mecânicamente, a coisa começa a funcionar, ou a explodir, quando se dá a faísca que incendeia a mistura do combustível com o ar, mas... para que essa faísca tenha lugar, é necessária a energia humana, que faça com que a chave rode na ignição.
Ora bem, se para gerar energia no ser humano, a mesma energia que roda a chave na ignição, que produz a faísca que incendeia o combustivel juntamente com o ar, que dão lugar à explusão que faz mover as peças do motor, que ligadas por engrenagens às rodas do carro, o colocam em movimento, transportando-nos para onde o nosso sonho, o sonho de cada um, nos ordena... então... talvez possamos concluir que o sonho é a fonte de energia que coloca todo o mundo, todo o universo, todo o cósmus, em moviento?!
http://www.youtube.com/watch?v=5P9NRVTj52Y&feature=related

Olinda Melo disse...

'Eles não sabem que o sonho é tela, é cor, é pincel...'
A Pedra Filosofal é um autêntico compêndio, consegue contar a nossa História, a História do Homem de forma poética e, ao mesmo tempo, certeira.

Meu amigo, há uma imprecisão no que dizes: eu é que não beneficiei do teu post, do tema que tão bem explanas e da oportunidade que me deste para treinar o meu raciocinei. Mas lá irei, não deixarei passar esta segunda oportunidade.

Neste resumo que apresentas, do referido post, diria agora e apenas que fazendo nós parte do Cosmo penso que não retiraremos energia dos outros elementos para fazer a nossa quota-parte na imensa engrenagem, mas somos energia pura.Diria também que somos produtores e agentes e, nesta dicotomia, residirá a nossa força...

Abraço.

Bom início de semana.

Olinda

Bartolomeu disse...

Olinda;
Desejo-te também que esta seja uma excelente semana, assim como as que virão.
Já pensaste certamente que limita imenso a nossa compreensão, o facto de olharmos (quase) sempre as coisas no presente. Raramente pensamos no percurso que tiveram de percorrer até à forma que cumprem actualmente.
Raramente nos questionamos, por exemplo, porque tem a catedral um pináculo... e um vitral?
Se colocássemos a questão em voz alta, alguém nos diria certamente, que tudo terá obedecido ao traço do arquitecto. Mas de que arquitecto? O que projectou o arquitecto que desenhou a catedral?
«...sempre que o Homem sonha, o mundo pula e avança...»
Mas, paradoxalmente (ou não) o Homem sonha também atingir o "nada", como forma excelsa que conduz ao ser, à existência liberta de todos os conceitos.
Então o homem projecta a catedral, desenha-lhe uma cúpula altíssima, onde se concentrarão as vontades, os desejos, os sonhos, a unidade, e, acrescenta-lhe um vitral... um painel multicolor, que será atravessado pelos raios de sol, o mesmo que preside a todos os astros e que irá, ao tocar os humanos no interior da catedral, produzir a faísca que incendiará os sentidos e fará com que os sonhos se soltem, se acumulem no pináculo e façam a catedral elevar-se nos céus, rumo ao infinito... ao nada.
(Tenho que deixar de fumar aquelas ervas que fazem rir)
;))

Marial disse...

:-))

Bart
Gosto particularmente do humor com que remata muita das coisas que diz!!!
Encerrem elas a maior meditação interior ou o mais profundo raciocínio filosófico... a forma com que fecha as suas considerações torna o seu "falar" completamente despretensioso!!!...

Gosto disso!!!
:-)

Bartolomeu disse...

Tento sempre, nas minhas reflexões, ocultar (leia-se destruir) a pretensão, minha amiga Marial.
Mas não consigo...
Fica sempre uma ponta, que me faz pretender, desejar descobrir, desejar concluir, reflectindo.
Sou mesmo um pretensioso pretendente a encontrar explicações para o indecifrável.
E, quando deixar de o ser... pararei de pensar no porquê, na origem do que conheço e me é apresentado como obra concluída, mas a qual desconfio se encontra somente em início de projecto.
;)

Catarina disse...

Quando te visito apresentas-me sempre tópicos tão profundos que nem sempre estou preparada para tanta profundidade! : )

Ando com as horas trocadas: são 10 da manhã mas também são 15h.

Passarei de novo quando poder analisar e/ou comentar sem concluir! : )
Abraço.

Rosa dos Ventos disse...

O ser humano tende para algo que só conseguirá atingir com a anulação de todos os desejos!
E quando é que o ser humano terá todos os seus desejos anulados?
Quando morrer!

Abraço

Bartolomeu disse...

Preparada estás, tenho a certeza, Catarina.
Talvez não te apeteça "surfar" na minha "onda"... ou a preguiça com que a Estação nos invade, ainda não te tenha abandonado os sentidos...
Ahhh! A culpa é do jet-leg!
;)))

Bartolomeu disse...

Parece que nessa circunstância, será, Rosinha... ou então não, se o pensamento fôr eterno.
Será???

Olinda Melo disse...

Ah, a morte!Ideia preciosa introduzida nesta reflexão por Rosa dos Ventos...e era o elemento que nos faltava, para já. Porque, se na procura da felicidade, em função da nossa própria insaciabilidade e seguindo o ciclo, não a encontrássemos, subjectiva que seja,então teria de haver outro caminho, já que a nossa vida física é finita. Quando a nossa alma, o nosso espírito, empreendesse outros caminhos para onde iria toda esta energia que nos anima? Iria fazer parte da grande máquina do Universo, empurrando a engrenagem, contribuindo para a tal faísca de que falas ou...tendo em conta certas teorias voltaríamos para cumprir, completar, purificar o que ficou a meio? E até quando?

Bom Domingo

Olinda

Bartolomeu disse...

A hipotese de a nossa alma, ou energia, ou vontade, como lhe chamou Saramago no seu "Memorial do Convento", ter de voltar tantas vezes quantas as necessárias, até cumprir algo que segundo as religiões é entendido de diferentes formas, é que me assusta, Olinda.
Uma vez única seria suficiente.

Rosa dos Ventos disse...

Concordo contigo, Bartô!
Uma vida já é uma canseira tão grande!


Abraço

Baila sem peso disse...

Mas ó meu amigo!!!!
depois de tudo que já li aqui
entre a vida e a morte me perdi!
Um ciclo infindável
que ao que por aqui vejo
debate muito desejo
de encontrar na existência
uma perfeita engrenagem
que dê conclusão à passagem...
queria participar
mas tudo me resvala
e meu dizer ao vosso não iguala...
vejo aqui muita sugestão
profunda reflexão
a que junto a minha vénia
pois pano para mangas seria...
quem sabe??!!!será castigo?
terá finalidade?
insaciabilidade...a felicidade!...
talvez esse desejo, seja oferecido numa outra realidade?!

(ora, ora ainda continuo com muita fominha, e isto aqui está a dar-me cá uma fraqueza, com franqueza!!:) já me despedi lá em baixo, aqui só o passo deixo!):))))

Bartolomeu disse...

Se o tempo existisse, tal como nos parece... cumpriríamos esse tempo entre a vida e a morte, é bem verdade, minha amiga Bailarina.
Mas o tempo não existe, porque se existisse, não passaria, então, algo diferente e que não conseguimos ainda perceber o que seja, existe, para além, ou paralelamente à vida e à morte e... ao tempo.
Talvez aquilo que é a nossa busca constante, e a que temos o habito de chamar; sentido da vida...
;)))