sexta-feira, 18 de maio de 2012

Lembras-te...?!

Lembras-te...?!
Costumo utilizar este termo interrogativo e simultâneamente afirmativo, com alguma frequência; quando converso com amigos ou familiares sensivelmente da mesma idade. Depois, nos meus momentos mais íntimos, naqueles em que troco comigo mesmo algumas reflexões, penso: Somos, desde que nascemos, um arquivo de memórias. Memórias que acumulamos e nos vão acompanhando ao longo do tempo em que possuímos consciência, em que possuímos razão... São sempre vozes que me guiam, que me dizem; vai em frente, ou então, volta atrás. Umas, audíveis, outras, não. Umas físicas, outras, somente adivinháveis. Mas todas elas, compositoras de um arquivo indimensionável, irreferenciável, capaz de se tornar acessível, de se escancarar, através de um simples som, fonético ou não, de uma simples imagem, de um cheiro ou odor, de um toque ou de um sabor. E ando... convencido por vezes, que cada passo me é ditado, desenhado, programado, por uma consciência individual, criada por mim, unicamente.
Mas não!
Eu, não sou Eu.
Nunca serei.
O que sou, é o resultado de gerações consecutivas de muitos outros. O que serei, é o cúmulo de todas as palavras, de todos os pensamentos, de todos os gestos, de todos os sonhos e conquistas, daqueles que já foram. Quando todos aqueles que se julgam comandantes dos destinos do Mundo e das Almas que o habitam entenderem, que tudo o que fazem, o que pensam e decidem, se subordina a uma ordem que os ultrapassa e obriga... então, compreenderão a liberdade.
Então, deporão o poder, a utopia, a malícia e a demagogia, banhar-se-hão nas nascentes das origens e compreenderão finalmente, o sentido da Universalidade.

13 comentários:

James Dillon disse...

Certos animais já sabem o caminho, onde ir, que rio subir, mas é inerente a quando do nascimento, eu por outra instância também aprendi e aprendo mas não é inerente ao meu nascimento e crescimento é produzido pelas palavras que aqueles que me rodeiam me fornecem, é deturpado por palavras daí é visto com suspeita.

Cumprimentos,
J.D.

Bartolomeu disse...

Lembras bem, Dillon; é a palavra que nos distingue do comun dos animais.
A palavra: esse "objecto" que possi a força de um gigante a fragilidade de uma flor; que tanto nos pode fazer sentir deuses, como diabolizar-nos.
A palavra: o elo da corrente que nos prende a este universo que começou, também ele com uma palavra::: FIAT!
;))

Olinda Melo disse...

Caro Bartolomeu

Uma bela definição do 'Eu', do teu 'Eu', ao fim ao cabo do nosso 'Eu', porque, não há dúvida, somos o somatório de tudo o que veio antes de nós, e de tal modo interiorizado que, muitas vezes, não temos consciência de que aquilo que dizemos ou fazemos, já foi dito ou já feito.
Falas também do poder das palavras, uma ferramenta muito útil de comunicação e também uma arma que poderá destruir o mais estruturado dos edifícios, seja físico ou mental.

Meu amigo, excelente esta tua reflexão.

Abraço.

Olinda

Interessada disse...

A minha liberdade está no sentido que dou ao que aprendi, e na composição que faço com o meu arquivo.
Não percebi o sentido do texto, ou não concordo com ele.
Depor a utopia, quando esta é o único poder que me resta?

Um abraço

Bartolomeu disse...

É verdade, minha Amiga Olinda.
Desde muito pequenos, somos treinados no exercício da mímica, ou seja, o exercício de aprender, imitando aquilo que quem nos ensina, já conhece.
No entanto, vamos por conta própria, acrescentando afixos ao "verbo", formando palavras que julgamos serem novas mas, que servem somente para nos referenciar nas acções.
Tudo isto, todo este processo seria de irrelevante utilidade, se tal como o nosso Amigo James diz; fossemos somente animais que nascem a saber antecipadamente, qual o caminho que deverão seguir... está-lhes no código genético.
;)

Bartolomeu disse...

Colocas três questões interessantes, interessada, ou com muito interesse.
;))
Agora a sério;
Para mim, liberdade, ou que ela representa individualmente, é um conceito íntimo que só o próprio poderá delinear. A construção da liberdade individual é, do meu ponto de vista, um edifício que nunca estará inteiramente construído, porque as suas estructuras, emnraízam no conhecimento, no poder da descoberta e no entendimento de tudo o que nos rodeia e compõe o nosso quotidiano.
Julgamos que à partida, todo aquele que possui um quotidiano rico em acções e solicitações, poderá ser mais livre que um presidiário. No entanto, podemos conhecer presidiários que encontraram atrás das grades, o verdadeiro sentido da liberdade.
O meu texto não tem sentido, Interessada. Sem saír do sítio onde está, aponta em várias direcções, se de todas, nenhuma te agradou... então é porque definitivamente, nenhuma delas coincide com a que procuras.
Autopia: Sinceramente, não vejo a utopia como um poder.
Um poder de quê?
Para fazer o quê?
Eu vejo a utopia como um complemento, como uma via que poderemos utilizar, com a finalidade de atingir algo concreto. Mas, por si só, não reconheço na projecção de um sonho, o potêncial restante de qualquer ser humano.
Mas se para ti, assim fôr...
;)

James Dillon disse...

Amarras e mais amarras, nunca pensei descambar em teores da Marvel: "com um grande poder vem uma grande responsabilidade", ora aí penso e concordo que quanto mais alto na pirâmide mais suprimido está o sentido de liberdade, quem em bancadas olha de fora suspira e deseja o que vê sem perceber que no outro lado do espelho encontra-se um homem amarrado a nadas, em esgares dolorosos por algo mais, penso agora e em concordância com "Para mim, liberdade, ou que ela representa individualmente, é um conceito íntimo que só o próprio poderá delinear", anuo em circunspecto silêncio, cada um se define assim como define a sua liberdade desfeita de cordas castradoras, esteja o invólucro físico preso ou solto ao vento, a liberdade quando encontrada, como definição doutrinal tem todo o espaço para crescer e mudar o seu significado desde que não viole as outras suas vizinhas, tal e qual as bolhas do actimel?, enfim, eu entretenho-me na minha própria liberdade naqueles dias em que fecho a porta, acendo uma luz, a noite já se instalou e me delicio com a doce ataraxia.


De relevo é que enquanto crescemos nos incutem com a força do martelo na bigorna verdades falaciosamente absolutas, verdades que aceitamos sem questionar enquanto a mente não acorda para o eterno "mas porquê?," mesmo assim a nossa pergunta e a nossa rebeldia encontra-se em confronto com aquilo que é a moralidade vigente, acabamos por questionar muito menos do que devíamos, acabamos por esconder a língua bífida atrás dos dentes quando devíamos bradar desafios ao mui sacrossanto conceito do normal, somente quando nossos sentidos são deturpados é que máscaras caem e nossos filtros latentes são desligados e aí sim coisas são ditas em directa afronta ao moral consuetudinário. Não é evolução é desespero todavia, pois no dia seguinte só surge vergonha em detrimento de orgulho.



Cumprimentos,
J.D.

Bartolomeu disse...

Se para a minha índole fosse contentamento suficiente, achar em conceitos, as respostas capazes de apaziguar uma constante sede de ver para além do visível; sería liberto. Mas, continuaria a char-me preso.
Se aceitasse como possível, a existência de uma palavra, capaz de definir universal e determinantemente, liberdade; não hesitaria um momento: atribuir-lhe-ia, ataraxia!
Ou então... Zen.

Interessada disse...

Bart

Concordo que a utopia é uma via, mas para atinjirmos algo a que podemos não conseguir chegar por forças exteriores ou amarras interiores.
É verdade que podes não ter capacidade para ultrapassar determinadas limitações e usares o teu arbítrio, mas é mais viável não teres grilhetas a nível da construção interior da tua utopia e conseguires usar a tua liberdade nesse sentido.
E é por isso que eu dizia que era a única liberdade que realmente tinha.
Mas mesmo essa me pode ser coartada.

Cristina Torrão disse...

Nunca seremos comandantes dos destinos do Mundo e das Almas, nem de nada, nem sequer de nós próprios. Andamos por aqui por empréstimo, o Mundo é-nos emprestado por um período ínfimo de tempo. Por outro lado, isso quererá dizer que há algo, ou alguém, que faz esse empréstimo...

Bartolomeu disse...

Interessada,
O rasgar das cortinas interiores que nos condicionam a visão e o entendimento do mundo é, a meu ver, um processo de crescimento intelectual que poderá em parte estar relacionado com a consciÊncia pessoal e o "desenvolvimento" da nossa auto-determinação.´
Neste processo não entra - a meu ver também - a utopia. Porque, entendo eu, ela condiciona-nos a acção, remete-nos para uma certa letargia, coloca-nos num limbo de onde não saímos sem determinação, sem arriscar um certo conceito de segurança e conforto. E é precisamente esta acção e esta determinação em arriscar, em entrar de cabeça e ir até ao fim, que considero a auto-determinação e o mais aproximado da liberdade plena.
Quanto à questão da coerção... bom, essa, penso que estará condicionada a diversos aspectos, aos quais estamos sujeitos naturalmente, mas, a que temos capacidades naturais de resistir, ou de evitar.
E não podemos de maneira nenhuma confundir coerção com lei e com ordem social.
;)

Bartolomeu disse...

Pois não Cristina...
Não sei se o mundo nos está "alugado" por um determinado período, se na realidade cumprimos uma existência, por tempo indeterminado. Se reflectirmos um pouco acerca da nossa origem e da nossa constituição física, sem esquecer a nossa criação e evolução, percebemos claramente que não passamos de uma sequência de transformações da matéria. Matéria essa que se auto-constitui.
No entanto, tanto a matéria que somos, como toda a restante que nos envolve ambientalmente, geológica, botânica, animal, gasosa, se encontra subordinada a uma consciência universal. Ou seja, tudo o que sucede em qualquer lado, faz parte de um movimento universal, infalível que contraria a ocorrência tendencial do caos.
Visto desta forma, a arbitreriedade que nos parece existir à nossa volta, aquela que não nos permite entender a ocorrência de certos "fenómenos" e impele a ciência à descoberta, é algo transcendentemente organizado e lógico.

Cristina Torrão disse...

Talvez, Bartolomeu, talvez. Não digo que não.