quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

«Falta cumprir o amor por Portugal»

«Falta cumprir o amor a Portugal»
Palavras do tema de Dulce Pontes.
Sinto-me frequentemente impelido a contemplar o monumento edificado na margem direita do Tejo, mesmo defronte ao Mosteiro dos Jerónimos, conhecido por Padrão dos Descobrimentos.
O monumento, como todos saberão e aliás, a própria forma identifica, representa uma caravela de velas enfunadas, pronta para partir, rumo ao Sul.
Da equipagem desta nau, fazem parte 33 figuras que representam; à proa e de tamanho superior aos restantes, o Infante D. Henrique e de cada um dos lados da nau, alinhadas, 16 figuras de navegadores, poetas, cavaleiros, religiosos, príncipes e uma rainha. Cada uma destas personagens, desempenhou um papel importante na gesta portuguesa dos descobrimentos.
Como referi no início deste post, foram já muitas as ocasiões que me senti conduzido até junto do monumento e me quedei a observa-lo, a entendê-lo, a tentar desvendar com a máxima precisão o sentido das esculturas e o sentido das expressões que os personagens que identificamos com facilidade, apresentam e que lhes foram dadas por Leopoldo de Almeida.
A expressão facial de 32 daquelas figuras não apresentam diferenças significativas, umas das outras. São expressões que definem determinação e simultâneamente expectativa. Parecem dizer-nos... sabemos que vamos em direcção a um ponto no horizonte, não sabemos defini-lo nem caracteriza-lo, mas sabemos que o encontraremos, porque ele nos espera.
A maioria das figuras encontra-se de pé, algumas, poucas, com um joelho em terra, a maioria olha em frente, dois religiosos olham para o céu e dois cavaleiros olham para o chão, mas, uma figura, uma única figura, posicionada sensivelmente a meio do lado da nau voltado a nascente, olha para a direita e... encontra-se de costas voltadas para o Infante, segurando um padrão com as armas portuguesas, chama-se Martim Afonso de Sousa.
Martim Afonso de Sousa, foi filho bastardo do Rei Afonso III, foi governador da Índia e do Brasil, conhecido pelas suas excepcionais faculdades intelectuais, possuiu imensos bens, mas ambicionava sempre mais.
Porque terá Leopoldo de Almeida, colocado Martim Afonso de costas voltadas para o Infante?
Será que possuir um conhecimento superior leva os homens a voltar as costas ao poder?
Acabo, citando Jaime Cortesão: Os portugueses pertencem a um vasto processo espiritual, que visa, como supremo escopo, a libertação e a solideriedade das consciências.

8 comentários:

Cristina Torrão disse...

Isto dava para escrever um livro do género do Código da Vinci: descobrir porque Martim Afonso de Sousa está de costas para o Infante! Inventas uma simbologia qualquer e, para a decifrar, é preciso passar pelos Illuminati, pela Maçonaria, pelas sessões de espiritismo, eu sei lá! Assim uma volta pelos locais mais misteriosos de Lisboa e voilà ;)

Bartolomeu disse...

;)))
Estás a querer transformar-me num charlatão, Cristina?!
Já agora, e dado que te considero uma autoridade na matéria, gostava de saber se tens uma opinião acerca desta evidência...

Baila sem peso disse...

nã é que saiba o que responder
mas nã querem lá ver que já me interroguei sobre esta questão?
tanta foi já a vez que fiquei
defronte àquele Padrão?!...;)
enfim, razões os artistas terão!
agora podia ter deixado uma dica
por ali algures escrita
não, é não??
bem, mas assim não tinhamos
aqui esta boa "interrogação"
e converseta de ocasião
sobre o que faria o supremo conhecimento
voltado para o Infante na mais alta posição :))

avançando sempre te desejo
com boa saude, paz e disposição
e fica meu abração!

Bartolomeu disse...

É um prazer ver-te aqui
Amiga minha, Bailarina
Talvez tenha sido por ti
Que o Martim se virou para a marina.
;)))

Cristina Torrão disse...

Não tenho, Bartolomeu. Posso entender muito de Idade média, mas sei muito pouco sobre os Descobrimentos, ainda não me debrucei sobre esse assunto. Mas que esta é uma questão interessante, isso é!

Olinda Melo disse...

Caro Bartolomeu

Criaste aqui uma excelente oportunidade para repensarmos a História e analisarmos alguns dos seus aspectos, aqui, através de uma das esculturas mais emblemáticas da cidade de Lisboa, que é o Monumento dos Descobrimentos.
Tudo o que disséssemos aqui não passaria de mero exercício o que também é muito bom.
Quanto a mim, Martim Afonso de Sousa não teria grandes 'desavenças' com o Infante, antes pelo contrário, não foram contemporâneos, mas ele (Martim Afonso) veio a beneficiar da sua acção em prol dos Descobrimentos, pelos Brasis, pelas Ásias, tirando proveito de altos cargos. Não quero dizer que ele não o merecesse. Além de intelectual, foi um homem de acção, estando sempre no centro dos acontecimentos.
Bom, chegados a este ponto, talvez eu virasse a minha atenção para o escultor, Leopoldo de Almeida,um escultor coevo do Estado Novo. Sabemos que em todos os momentos da História há uma marca política, talvez esta escultura não tenha fugido à regra.Caso esteja certa nesta minha leitura, em que medida terá sido e com que intenção?

Voltamos à tua pergunta inicial!!!

:))

Bartolomeu disse...

Cristina, do pouco que sei acerca dos descobrimentos, ou seja, do que fêz nascer a centelha que ao longo de décadas e de gerações deu origem à chama que conduziu ao grande projecto dos descobrimentos, percebo que se conjugaram diferentes vontades, envoltas em grandes e enigmáticos mistérios, e em mágicos sucessos.
Envolvidos, estiveram figuras que surgiram trazendo saberes, sem que se lhes conheça a origem. E tudo confluiu nesta terra de Santa Maria, onde, reza a lenda, se refugiou a Mãe de Cristo após a sua crucificação e ressurreição, trazendo consigo o calix onde se encontravam seldas em cera, as gotas de sangue, recolhidas do corpo do Filho. Facto que terá dado origem ao nomo deste país; Porto do Cálix.
Sendo assim, não devemos estranhar que tenha cabido aos nossos antepassados, a tarefa de espalhar pelo mundo a palavra de Cristo, aquela que desafia o mundo a unir-se num só querer e numa só vontade.
Afinal; o mote daquilo que foi entendido como o V Império.

Bartolomeu disse...

Sabes, minha Amiga Olinda?!
Persegue-me um habito de que não consigo livrar-me, talvez por isso, alimento-o.
;)))
Esse habito é o de olhar sempre para a árvore, com a certeza de que faz parte de uma floresta.
Quanto a esta observação que constato, relativamente à posição da figura de Martim Afonso, relativamente ao enquadramento do monumento, ela não se detam no facto de o personagem se encontrar de costas voltadas e de ser o único que não olha no mesmo sentido dos restantes. Martim Afonso, é também o único que é representado com uma expressão facial diferente das restantes, inclusivé, do Mestre. Martim Afonso, é representado com os músculos faciais contraídos e o sobrolho carregado. É certo que o personagem está animado de um movimento, tal como os restantes. A diferença é que, enquanto Martim encena a colocação de um padrão, dos que eram colocados para demarcar a possessão do rei português, os restantes são representados como se rebocassem atrás de si um país, uma raça, um mundo.
;)