sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O Esvaziamento


O interior do nosso país, sofre de esvaziamento!
Cheguei a esta triste constatação, durante os breves dias que passei em Figueiró dos Vinhos. Na verdade, não me limitei a permanecer naquela Vila pertencente ao concelho de Leiria. Visitei também Castanheira de Pera, Pedrogão Grande e Lousã. Percorri estradas e serras de maravilhosa beleza natural, encontrei excelentes praias fluviais, percorri ruas e becos de características aldeias de xisto. Encantei-me com a paisagem e as gentes, entristeceu-me a falta de querer e de esperança que habita os corações das gentes.
Quando não se possui nada; credo, terra, saber, vontade, sonhos, é natural que se tente alcança-los, mas, quando se possuiu tudo isso e se perdeu, a angústia toma posse da vontade e a apatia conquista o terreno dos sentidos.
Durante estes dias que passei em Figueiró, conversei com as pessoas, indaguei, o porquê de tantos e tão grandes sinais evidentes de esvaziamento.
Não há trabalho... não há dinheiro, responderam-me em todos os locais onde parei, todos com quem conversei.
Os habitantes, directa ou indirectamente, mantêm as suas vidas, com os parcos dinheiros das reformas, ou dos subsídios. Meia-dúzia, mantém uma pequena horta, de onde tira o complemento do seu sustento.
O distrito é forte em madeira, pinheiro e eucalipto, a maioria das serrações e empresas de extracção de madeiras, cessaram a actividade.
Empresas que directa ou indirectamente dependiam da actividade agrícola e florestal, terminaram a actividade.
Nota-se o esforço (inglório) dos municípios de criar condições para atrair turistas e fixar população. Encontrei rodovias de muito boa qualidade, mesmo aquelas de categoria secundária, encontrei infra-estruturas de apoio e uso social e lúdico, mesmo em localidades de menor dimensão populacional.
Á primeira vista, parece que só está a faltar trabalho, ao interior do nosso país.
Mas não. Está a faltar mais, muito mais. Está a faltar um olhar correcto dos nossos governantes. Falta criar uma politica de regulação e de incentivo à produção. Uma política que não permita a importação de bens que se produzam no nosso país, uma política em que, através do apoio técnico, seja possível obter excelência na qualidade daquilo que for produzido e, uma política séria e equilibrada de preços e distribuição desses produtos.
É necessário criar de novo nas pessoas, o desejo de fazer, sabendo que o seu trabalho será justamente pago e que, com ele, estarão a contribuir para a recuperação económica do país.

4 comentários:

isabel disse...

Bart,

é isso que falta aos governantes: ir para o terreno falar com as pessoas para tomar consciência das suas carências, e não só com a exclusiva intenção da caça ao voto, naqueles exclusivos períodos em que torram tudo e mais um par de botas a anunciar promessas que sabem que nunca irão ser cumpridas ~~

Sem reduzir os impostos, e as contribuições para a SS, as empresas não têm condições para trabalhar com dignidade, e muito menos para competir;

dizem que não é possível! mas o certo é que o dinheiro não falta, para quem não gera riqueza, nem emprego, e só gasta ~~

Mesmo que não fossem reduções significativas, por pequenas que fossem eram sinais de incentivo, de reconhecimento e aprovação, um voto de confiança para os nossos empresários. Mas não!!! Nada disso !!!

E é pura verdade, que no " interior ", existem excelentes condições para se viver e criar os nossos filhos; o ar é puro, não há engarrafamentos, o tempo estica :) as hortas familiares são um recurso ao alcance de todos os que queiram e consigam passar menos tempo no facebook em cultivos virtuais :) and so on ~~

enfim, houvesse vontade de ali fixar as populações, e os nossos filhos teriam razões para ficar; com as famílias a ganhar em qualidade de vida e a todos os níveis ~~

Mas não!!! é um salve-se quem puder!!! Toca a sacar enquanto há !!! que o tacho não dura sempre !!! e nos entretantos, vai-se dando um jeito aqui e ali, para agradar a gregos e troianos, e com isso aguentar as sondagens ~~ enfim ~~

gostei muito do que li ~~

abraço grato, Bart :)

Bartolomeu disse...

Pois é Isabel, quem contacta directamente com as populações e lhes escuta os sentir, percebe com facilidade que muito está mal e que muito é necessário mudar com urgência.
Os nossos governantes ainda não perceberam que o resultado das medidas que empregam, têm reflexos e consequências na generalidade das populações.
Se se pretende um estado social, é inegável que é dos impostos que esse estado se sustenta, segundo uma métrica, a qual se baseia num princípio muito simples; pagam-se impostos para que seja possível manter serviços de utilidade pública.
O grande problema surge, quando o estado entende gastar esse erário público de uma forma que visa somente beneficiar alguns, quer seja gente do próprio estado, como "messenas" a ele ligado, esquecendo e desprezando aqueles que são a mão-de-obra que gera essa riqueza.
Falta vontade a este governo, para equilibrar as finanças públicas, para reformar e aplicar o dinheiro no fomento do progresso, minha amiga Isabel.

Baila sem peso disse...

Então foi isso Bartolomeu?
A tua partida não foi de vez
foi apenas para procurares
tantos dos nossos porquês?!
Hoje já venho quase a dormir
mas lembrei-me de aqui vir...
já muito atrasadinha confesso
pois foram as vezes
que da "à conquista da verdade"
não encontrei mais da tua verdade...

e eis que não é só no campo não...
muito falta na cidade
incluindo a qualidade
que era esperança na igualdade...
no coração existe a apatia
e a angústia é simpatia...
tudo está de pernas para o ar!!!
Com que post tu me vieste aparecer
não sei se consigo aos outros
continuar a responder...

um beijo na tua volta
e fica a minha lingua solta...

Miguel Esteves disse...

foste a esses sitios todos e nao me levaste contigo!!???
tenho pena de conhecer mal essa zona de Portugal...as minhas viagens em estudo e em trabalho nunca me levaram para esse poisos esquecidos...
quanto á questao do esvaziamento, a minha opiniao é a mesma que a tua...tambem eu andei por algumas aldeias e vilas, conversei com as pessoas, e os discursos destas sao iguais aos que aqui retrataste...